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O que esperar para o tratamento do câncer de mama em cinco anos

O que esperar para o tratamento do câncer de mama em cinco anos

Essa é uma das perguntas que o Dr. Mark Clemons responde nesta entrevista à Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O especialista em câncer de mama participará do XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, no Rio de Janeiro. Formado em instituições do Reino Unido e do Canadá, Clemons é oncologista e investigador do Ottawa Hospital Cancer Center e professor da University of Ottawa.

O Dr. Clemons está envolvido em dezenas de estudos que buscam trazer para a prática clínica o uso de biomarcadores, tornando realidade o tratamento personalizado do câncer de mama. Na conversa com a SBOC, ele também fala sobre o uso racional dos recursos terapêuticos e a qualidade de vida do oncologista clínico. Confira:

No XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, você dará uma aula sobre terapias mais eficazes a custos cada vez maiores. O que poderia comentar sobre o uso racional dessas novas terapias?

O custo das terapias medicamentosas para o tratamento do câncer está aumentando a uma taxa sem precedentes. Infelizmente, o preço acaba baseado no “custo máximo que o mercado vai suportar”, a despeito do benefício real do novo agente. Esse processo está fora de controle. Mas acredito que, se trabalharmos juntos, poderemos assegurar o uso mais racional dos medicamentos, de forma a ajudarmos tantos pacientes quanto possível.

 

Você tem se dedicado também ao tema da qualidade de vida em oncologia. Quais têm sido suas principais descobertas?

Cuidar de pacientes com câncer é desafiador para todos os envolvidos no cuidado oncológico. Infelizmente, no entanto, nos sentimos culpados em admitir que há momentos nos quais nosso sofrimento durante o processo de cuidar dos pacientes e de suas famílias é muito grande. Embora seja importante perceber que essa dor não pode ser evitada, é fundamental entendermos que há muito o que ser feito para nos ajudarmos. Aceitar nossa dor é apenas uma parte do problema. Precisamos também perceber que podemos adotar estratégias para ajudarmos a nós próprios. Em última análise, só podemos ajudar os outros se nos cuidarmos.

 

Como orienta as pacientes que desejam engravidar após o câncer? Qual é o tempo mínimo do tratamento hormonal adjuvante que você recomenda antes da gravidez?

Houve uma grande “virada” no cuidado de pacientes que desejam engravidar após um diagnóstico de câncer de mama. Há evidências crescentes de que uma gravidez não altera o prognóstico das pacientes. Acho que a decisão de engravidar após o câncer de mama é menos conduzida pelo conselho do médico e mais pelas escolhas da mãe. Eu acredito que nosso papel é encorajar as pacientes a tomar decisões com as quais elas se sintam confortáveis.

 

Como você avalia os resultados do estudo Aphinity? Como pondera para suas pacientes os benefícios versus os riscos da terapia?

Acho que o estudo Aphinity é um “ponto de virada” no gerenciamento do câncer, e as apresentações no Congresso da ASCO foram muito interessantes. O colega que apresentou o estudo fez parecer que os resultados implicam em uma mudança prática, enquanto a plateia claramente não estava convencida. Esse fato comprova que significância estatística não é o mesmo que significância clínica. A realidade é que o Aphinity não mudará a prática global de cuidados de saúde.

Nota: O estudo Aphinity, fase III, randomizou quase 5 mil pacientes com câncer de mama HER2 positivo passível de cirurgia para tratamento adjuvante com quimioterapia, trastuzumabe e pertuzumabe versus quimioterapia, trastuzumabe e placebo. O resultado foi positivo para sobrevida livre de progressão em três anos, com p = 0,045. A diferença absoluta entre os dois braços foi de 1,1%. Os associados da SBOC podem acessar o The New England Journal of Medicine, onde o estudo foi publicado, pela Biblioteca Virtual.

 

Como você imagina a oncologia em cinco anos?

À medida que avançamos no tempo, espero que nos tornemos mais racionais no tratamento do câncer de mama. A aplicação do deep gene sequency tem sido uma enorme decepção no cuidado do câncer de mama. Isso é muito diferente das mudanças que vimos no melanoma, por exemplo. Penso que, nos próximos cinco anos, continuaremos a ver cada vez menos uso de quimioterapia para pacientes com câncer de mama em estágio inicial e mais conversas racionais sobre o verdadeiro valor versus o custo dos novos tratamentos. Eu acho que vai ser um momento muito marcante.

 

Qual é a principal mensagem que gostaria de transmitir aos jovens oncologistas?

A oncologia é uma área fascinante. Eu acho que, embora observemos mudanças relevantes nos tratamentos de câncer, devemos nos orientar no sentido de humanizar o cuidado. A grande “sacada” sobre a oncologia é que, independentemente das novas opções de tratamento, a gente deve ser capaz de ver nossos pacientes como seres humanos, com as mesmas esperanças e desejos que todos temos. Espero que esta chamada “era molecular” não resulte em pensar nos pacientes em termos de genes e proteínas. Devemos sempre lembrar que somos todos humanos e que é isso o que nos torna especiais!

Participe do XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica!

O evento será realizado de 25 a 28 de outubro, no Hotel Windsor Oceânico, no Rio de Janeiro (RJ). A programação e a área de inscrições estão disponíveis no site www.semanaonco.com.br/oncologiaclinica. #CongressoSBOC