SBOC REVIEW

Ramucirumabe associado a paclitaxel como esquema de manutenção versus continuação da primeira linha com quimioterapia baseada em oxaliplatina em pacientes com câncer gástrico ou de junção esofagogástrica avançado (ARMANI): um estudo randomizado, aber
Resumo do artigo:
Pacientes com neoplasia gástrica ou de junção esofagogástrica avançados ou metastáticos, com HER2 negativo e ausência de expressão de PDL-1, são tratados, em geral, com esquemas duplos de quimioterapia com oxaliplatina, com sobrevida livre de progressão de cerca de 6 meses e sobrevida global em torno de 12 meses, porém aproximadamente metade desses pacientes não chegam a receber um esquema de segunda linha por piora clínica.
Paclitaxel associado a ramucirumabe é um esquema utilizado em segunda linha de adenocarcinoma gástrico e de JEG, após progressão ao esquema a base de oxaliplatina.
O estudo Armani foi um estudo fase 3 randomizado, realizado em vários centros italianos, com objetivo de avaliar se a troca do esquema para paclitaxel com ramucirumabe após 3 meses de quimioterapia baseada em oxaliplatina traria benefício para os pacientes com neoplasia gástrica/JEG avançado, HER2 negativo.
O desfecho primário do estudo era sobrevida livre de progressão, e os desfechos secundários foram sobrevida global, taxa de resposta, duração de resposta e qualidade de vida. Foram incluídos 280 pacientes, com características equilibradas entre os grupos.
Os pacientes que tiveram controle de doença após 3 meses de FOLFOX/Xelox eram randomizados em 2 grupos: (1) braço experimental, que receberia paclitaxel mais ramucirumabe e (2) braço controle, que seguiria o esquema inicial por mais 3 meses, seguido de manutenção com uma fluoropirimidina.
O estudo Armani alcançou seu objetivo primário, com uma sobrevida livre de progressão de 6,6 meses (IC 95%, 5,9–7,8) no grupo experimental e de 3,5 meses (2,8–4,2) no grupo controle (HR 0,61; IC 95%, 0,48–0,79; p=0,0002).
A sobrevida global foi de 12,6 meses (IC 95%, 11,5–15,0) no grupo do taxol mais ramucirumabe e 10,4 meses (8,0–13,1) para o grupo controle (HR 0,75; IC 95%, 0,58–096; p=0,025).
Em uma análise post-hoc, 129 (90%) eventos de sobrevida livre de progressão 2 foram registrados em 144 pacientes no grupo de manutenção de troca e 120 (88%) em 136 pacientes no grupo de controle. Dentre os pacientes randomizados, 36% tinham o chamado status triplo-negativo, ou seja, eles tinham uma pontuação positiva combinada PD-L1 menor que 5, eram negativos para CLDN18.2 e tinham proficiência em MMR. Neste subgrupo de pacientes, a sobrevida livre de progressão mediana foi de 7,0 meses (IC 95%, 5,7–11,9) no grupo paclitaxel mais ramucirumabe (n=28 eventos) e 4,1 meses (3,5–6,9) no grupo controle.
Em termos de toxicidade, a maior taxa de neuropatia foi vista no grupo experimental (61% X 41%), sem piora, porém, nos casos de neuropatia G3 e G4. Houve também maior taxa de neutropenia e toxicidades G3 e G4 no grupo do paclitaxel e ramucirumabe.
Comentário do avaliador científico:
Apesar do desfecho positivo do estudo, temos algumas considerações acerca dos resultados.
Os pacientes no grupo do paclitaxel e ramucirumabe receberam o tratamento até progressão de doença, enquanto no grupo da oxaliplatina, a mesma era suspensa após completados 6 meses, e mantida apenas fluoropirimidina com intuito de reduzir toxicidade; portanto, o esquema menos intenso pode ser inferido como uma das causas do desfecho negativo no grupo da oxaliplatina.
Além disso, atualmente a realidade no tratamento do câncer gástrico de primeira linha é de que muitos pacientes receberão quimioterapia associada a algum anticorpo, a depender do status de PDL-1, CLDN 18.2 e MMR. Os pacientes que podem ter benefício, então, com o esquema de troca para taxano serão os pacientes que não tenham como opção de associação de outras drogas à quimioterapia no tratamento de primeira linha.
O benefício em termos de sobrevida foi modesto, com uma toxicidade maior, então, apesar de um estudo positivo, o uso do esquema deve ser individualizado para cada paciente.
Citação: Randon G, Lonardi S, Fassan M, et al. Ramucirumab plus paclitaxel as switch maintenance versus continuation of first-line oxaliplatin-based chemotherapy in patients with advanced HER2-negative gastric or gastro-oesophageal junction cancer (ARMANI): a randomised, open-label, multicentre, phase 3 trial. Lancet Oncol. 2024 Dec;25(12):1539-1550. doi: 10.1016/S1470-2045(24)00580-1.
Avaliador científico:
Dra. Letícia Lima Martins
Oncologista Clínica pelo INCA – Rio de Janeiro/RJ
Oncologista Clínica no Grupo Oncoclínicas – Rio de Janeiro/RJ
Instagram: @draleticialmartins
Cidade de atuação: Rio de Janeiro/RJ