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Afirmações que um oncologista deve evitar fazer a seu paciente
Todos concordamos que a comunicação pode ser uma forte arma durante uma consulta médica para estabelecer uma relação duradoura e cativa entre o profissional e seu cliente e, da mesma maneira, permitir que as informações científicas sejam traduzidas da melhor maneira possível para o interlocutor permitindo a este entender seu diagnóstico e avaliar cuidadosamente suas opções terapêuticas frente ao seu prognóstico, levando-se em conta também as potenciais complicações que tal terapia eventualmente poderiam acarretar a este paciente.
Diante disto, uma consulta com um oncologista, médico que trata o paciente com câncer, assume uma dimensão muito mais dramática, dado a gravidade da situação que na maioria das vezes se apresenta, o que acaba por testar as habilidades de comunicação do cancerologista, que tentará explicar situações complexas claramente, mas ao mesmo tempo, tendo um senso humanitário comum que revele empatia e compaixão neste contexto específico. Frente a este cenário, o profissional deve sempre estar atento a determinadas assertivas que quando ditas no consultório podem ter um efeito deletério sobre o cliente e sobre a relação a se formar, portanto, devemos nos atentar bastante a tais detalhes. Um texto recente publicado no blog do Dr. Craig Hildreth serviu como base para a produção do mesmo e algumas destas armadilhas serão aqui dirimidas para sempre lembrarmos como o colóquio médico pode ser instigante.
“Infelizmente tenho notícias ruins para dar.” O cliente que procura o oncologista, na vasta maioria das vezes já o faz de posse de um diagnóstico pré-estabelecido e, então, as más notícias já foram transmitidas e a adoção de um tom melodramático durante a consulta em nada ajuda a se estabelecer uma relação de confiança entre as partes. Ser objetivo e evitar frases de efeito e pieguices é uma boa maneira de se manter uma postura que transmita respeito e credulidade num momento de muita fragilidade emociona, demonstrando ser um porto seguro para seu cliente.
“Por que não procurou seu médico antes quando se iniciaram os sintomas?” Além de já saber qual é a resposta a tal questionamento (negação…), aumentar a sensação de culpa do cliente não torna a situação menos grave naquele momento. Aborrecer o cliente com mais uma carga desnecessária de sentimentos negativos, relembrando-o do que deveria ter sido feito em tempo hábil (ele já sabe…) não traz melhores resultados para seu tratamento e ainda deixa-o mais depressivo e menos aderente à terapia. Temos que aproveitar este momento para também cientificar os familiares sobre os sintomas de alerta para que isto não se repita outras vezes, sempre poupando o paciente de um comportamento passivo agressivo de cobrança.
“Se você não tivesse fumado, isto não teria acontecido a você”. Seria inocência ou mesmo condescendência da parte do médico não imaginar que o paciente hoje não saiba da relação entre o tabagismo e o câncer ante a quantidade de informação exposta nas diversas formas de mídia. Então, um tabagista que entra em um consultório oncológico já sabe deste conceito e enchê-lo de mais culpa em nada traz ajuda ao processo terapêutico. Enquanto devemos sempre desestimular este hábito, especialmente durante o tratamento, dado que o cigarro pode reduzir a eficácia de alguns quimioterápicos, este processo deve ser acompanhado por especialista, dado que o abandono do vício é muito difícil e ele pode ser ajudado por medicações específicas para tal intenção. Independente disto, uma discussão abrangente sobre a relação do câncer tabaco-induzido pode servir de ponto de partida para se estimular a outros parentes a abandonarem o hábito tabágico, levando-se em consideração o também conhecido papel deletério do fumo passivo.
“Você tem (inserir aqui um número) meses de vida.” Muitos pacientes querem saber sobre seu prognóstico de sobrevida, especialmente no contexto de doença avançada. Nenhum oncologista possui o dom da premonição. O que existe são dados de sobrevida média baseado em estudos clínicos publicados, a maior parte deles internacionais e nos quais a vasta maioria dos pacientes tratados em consultórios não se encaixaria nos perfis de inclusão dos mesmos, e portanto, mesmo estes são razoavelmente falíveis. Portanto, seria bastante fútil e sadista prenunciar a sobrevida de um paciente, até porque neste sentido a qualidade de vida tem um papel muito mais relevante que próprio tempo de sobrevida geral. Temos sim que trazer uma perspectiva real sobre o prognóstico do paciente sem omissões de informações, mas também sem gerar expectativa sobre um número “mágico” sobre o qual alguns tendam a se fiar. Ganhos terapêuticos e de qualidade de vida devem ser comemorados, enquanto insucessos (infelizmente frequentes em algumas doenças oncológicas) devem ser relatados e trabalhados para que o paciente saia mais maduro do processo, sempre com o suporte de uma assistência profissional psicológica para trazer conforto neste momento. Isto sim trará mais dignidade e tranquilidade ao cliente.
Após estas considerações, sempre relembramos a relevância de se manter um espírito de positivismo, bom senso e empatia frente ao cliente oncológico. A atenção dispensada numa conversa deve trazer sempre uma mensagem de apoio e suporte, não importa o quão grave seja o caso, reduzindo ao máximo as dúvidas que o cliente apresente, por mais simples e inocentes que sejam (para ele isto é muito importante, se não ele não perguntaria). Atitudes assim podem trazer mais conforto e segurança ao tratamento, sempre se baseando num time multidisciplinar de especialidades que possa prover uma assistência integral ao paciente.