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Agora, é a vez deles
Este artigo foi assinado pelo Dr. Evanius Wiermann, oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O texto foi publicado originalmente no dia 9 de novembro no caderno “Opinião” do jornal Estado de Minas.
Depois do Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama, chegou a vez do Novembro Azul, data ainda pouco disseminada entre a população e não menos importante. Celebrada desde 2004, a data foi criada para conscientizar os homens para a prevenção do câncer de próstata, segunda causa mais comum de morte entre os homens brasileiros. Além disso, a campanha busca salientar para a seriedade da doença e promover a cultura do bem-estar entre os homens. A incidência entre as pessoas do sexo masculino é maior do que a do câncer de mama entre as mulheres, representando 10% do total de ocorrências da neoplasia. Dados da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) mostram que um em cada seis homens terá câncer de próstata. A mortalidade em pacientes diagnosticados com a doença é de um a cada 36 pacientes, e a estimativa é de que, até o final de 2014, mais de 10 mil homens possam morrer em decorrência do carcinoma.
Se detectado o tumor, só a biópsia é capaz de confirmar a presença de um câncer de próstata. Quando descoberto no início, 90% dos casos são curáveis. É indicado que o exame de toque e o PSA sejam feitos a partir dos 50 anos. No entanto, pessoas que têm casos de câncer de próstata na família, obesas, e negras têm maior risco de desenvolver a doença, por isso a faixa etária para a realização desses exames nesses casos reduz para entre 40 e 45 anos. Entender o comportamento masculino é essencial para desmitificar o câncer de próstata. Em todos esses anos em que me dedico à medicina e especificamente à oncologia, tenho presenciado vários fatores que podem explicar os altos índices da doença, mas o mais comum é que os homens não frequentam os consultórios médicos por causa de duas barreiras fundamentais: cultural e institucional. Muitas doenças poderiam ser evitadas se os homens procurassem os centros de saúde com frequência, mas grande parte deles resiste em buscar ações preventivas. Uma das principais barreiras vem da cultura machista de achar que o homem é “forte” e procurar ajuda é sinal de fraqueza ou fragilidade. Infelizmente, muitos pacientes só chegam até a nós quando a doença já se encontra em fase avançada e já não há muito o que fazer. Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em 2013, indica que quase metade dos homens nunca fez o exame de toque retal, essencial para identificar o câncer de próstata. Por desconhecimento ou por tabu, os homens temem ir ao urologista. Dos cinco mil homens entrevistados, quase a metade deles (47%) revelou nunca ter realizado exames para detectar o câncer de próstata, 44% jamais se consultaram com um urologista e 51% nunca fizeram exames para aferir os níveis de testosterona (hormônio masculino) no sangue.
É preciso que os homens desconstruam esses paradigmas e comecem a entender que a prevenção ainda é a maior aliada da saúde. Infelizmente nosso estado tem a maior incidência de câncer de próstata do país. Por isso, quanto mais rápido for descoberto o tumor, maiores as chances de cura e de vida normal para o homem. A criação de campanhas de conscientização em prol dessa causa precisa atingir todas as culturas e classes sociais. Quem sabe, em um futuro próximo, o homem seja tão cuidadoso com a saúde quanto as mulheres.