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Câncer de cabeça e pescoço: aumento da incidência de tumores relacionados ao HPV
Dia 27 de julho é o Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço e, para conscientizar os brasileiros sobre a importância do diagnóstico precoce para a eficácia no tratamento, a Associação de Câncer de Boca e Garganta – ACBG Brasil criou a campanha Julho Verde. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) apoia a campanha, que vem chamar atenção para um tumor cujos sintomas, muitas vezes, são negligenciados. A prova disso é que um dos principais problemas para o tratamento é o diagnóstico tardio, que ocorre em 60% dos casos, causando uma perda significativa da qualidade de vida durante e após o tratamento, na maioria dos casos com o comprometimento da fala e outras sequelas funcionais e psicológicas.
O consumo de álcool e o tabagismo são grandes fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço. O hábito de beber e fumar pode multiplicar em até 20 vezes a possibilidade de uma pessoa saudável desenvolver a doença. Contudo, a infecção pelo HPV (papilomavírus humano) tem contribuído com o aumento na incidência desse tipo de tumor nos últimos anos. “A infecção pelo HPV é um importante fator de risco para o câncer de cabeça e pescoço, especialmente na região da orofaringe, que engloba a base da língua, as amídalas e a parte lateral e posterior da garganta”, explica o oncologista clínico membro da SBOC, Dr. Felipe Roitberg.
Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o Brasil registra cerca de 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço a cada ano. E um dado alarmante é o aumento da incidênca dos tumores de cabeça e pescoço entre os jovens. “Se contabilizarmos historicamente, esses tumores acometiam os pacientes mais idosos, os tabagistas e os etilistas. Mas, nos últimos 20 ou 30 anos, surgiu mais um fator de risco, o vírus HPV, que tem contribuido para maior incidência em jovens. E uma das formas de contágio por essa infecção, em ambos os sexos, é a prática do sexo oral desprotegido e de relações sexuais com múltiplos parceiros”, diz Dr. Felipe.
Além do aumento na incidência entre os jovens, o oncologista conta que, de acordo com um recente estudo norte-americano, houve um aumento no número de casos de tumores de cabeça e pescoço relacionados ao HPV em pacientes nascidos nos Estados Unidos antes de 1955. “Por analogia, podemos avaliar que se trata da geração que pregou o amor livre num momento em que a questão do sexo protegido não era tão discutida como hoje e que, possivelmente, não adquiriu o hábito de uso de preservativos. E um fato que acontece até hoje, principalmente no Brasil, é que as pessoas não relacionam o sexo seguro com a prevenção do câncer”. E isso realmente acontece. Uma pesquisa realizada pela SBOC aponta que 59% da população não usa preservativo como medida de prevenção ao câncer e quase 30% desconhece a relação direta entre o uso e a redução do risco de desenvolver a doença.
De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 54,6% dos brasileiros entre 16 e 25 anos estão infectados com HPV e, em 38,4% deles, tratam-se dos subtipos de alto risco, associados a alguns tipos de câncer, como o de cabeça e pescoço.
Uma doença altamente prevenível
As chances de desenvolver câncer de cabeça e pescoço podem ser consideravelmente reduzidas. Evitar o consumo de álcool e de tabaco e prezar pela higine bucal são atitudes que previnem esse tipo de tumor. Já o principal meio de evitar o contágio pelo HPV é o uso do preservativo nas relações sexuais, inclusive no sexo oral.
Uma outra forma, que é indicada principalmente para prevenir o câncer de colo do útero, mas também pode prevenir potenciamente o câncer de cabeça e pescoço, é a vacina contra o HPV, especialmente em meninos e meninas. “Os pais devem estar atentos à incidência crescente de tumores relacionados ao vírus entre os jovens e vacinar seus filhos”, alerta Dr. Felipe.
A vacina contra o HPV está disponível pelo Sistema Único de Saúder (SUS) para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Ela combate os quatro tipos de vírus (6, 11, 16 e 18). Os tipos 16 e 18 são os mais relacionados ao câncer de colo uterino e de cabeça e pescoço.
Atenção aos sintomas
Dr. Felipe destaca a importância do diagnóstico precoce, que pode ter um papel fundamental na cura do paciente. “O diagnóstico precoce impacta diretamente na sobrevida, ou seja, quanto mais inicial, melhor. Se diagnosticado no primeiro estágio, por exemplo, a chance de curar um câncer de cabeça e pescoço é maior do que 80%.”
Por isso, é importante estar atento aos sinais e sintomas que persistam por mais de duas semanas, como lesões na boca que não cicatrizam; caroços (gânglios) na região do pescoço; rouquidão; dificuldade de engolir; ou dor de garganta persistente.
Está nas mãos de todos nós mudar o cenário do câncer de cabeça e pescoço no Brasil. #JulhoVerde