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Cemiplimabe neoadjuvante para carcinoma de células escamosas de pele estadios II a IV
Resumo do artigo:
O carcinoma de células escamosas (CEC) da pele é a neoplasia mais prevalente em todo o mundo (incidência aumentou 200% nos últimos 30 anos), e ainda que de baixa letalidade, em números absolutos responde por cerca de 56 mil mortes por ano. A doença localmente avançada é um desafio para o time multidisciplinar onde a cirurgia e a radioterapia exercem papéis fundamentais, contudo, até o momento não há terapia sistêmica padrão neste cenário. O CEC de pele possui excelente resposta a terapia com anti-PD-1, provavelmente devido ao dano solar crônico (ação mutagênica da radiação ultravioleta) que confere alta carga mutacional a esses tumores. Exuberantes respostas demonstradas no cenário da doença avançada motivaram a realização do estudo fase 2, multicêntrico não-randomizado de braço único, o qual incluiu pacientes portadores de CEC de pele com doença ressecável estadios II a IV (M0) para receber até 4 doses de cemiplimabe na dose de 350 mg a cada 3 semanas no cenário neoajuvante. Destaca-se que 60% dos pacientes apresentavam-se com envolvimento nodal. Aqueles tratados com radioterapia prévia foram excluídos.
O objetivo primário foi resposta patológica completa (RPC) sendo considerado positivo qualquer valor acima de 25%. Como objetivos secundários foram avaliados reposta patológica maior (RPM), ou seja, <10% de tumor viável, e resposta radiológica por RECIST.
Um total de 79 pacientes foram incluídos, sendo a maioria do sexo masculino (85%) com mediana de idade de 73 anos e portadores de lesão em cabeça e pescoço (91%). O estudo cumpriu seu objetivo primário demonstrando uma taxa de RPC de 51% e uma taxa RPM de 13%. A avaliação de reposta radiológica por RECIST não se correlacionou com a resposta patológica: dos 44 pacientes com resposta parcial em imagem, 68% tinham na verdade RPM e 14% apresentavam RPC. Os pacientes apresentaram 14% de eventos adversos imunomediados sendo 4% grau 3. A avaliação de biomarcadores demonstrou que a resposta não se correlaciona com expressão de PD-L1 ou carga mutacional.
Gross ND, Miller DM, Khushalani NI, et al. Neoadjuvant Cemiplimab for Stage II to IV Cutaneous Squamous-Cell Carcinoma. N Engl J Med. 2022 Sep 12. doi: 10.1056/NEJMoa2209813. Online ahead of print.
Cemiplimabe neoadjuvante para carcinoma de células escamosas de pele estadios II a IV.
Comentário do avaliador científico:
Este é um importante estudo num cenário de necessidade não atendida que, pela primeira vez, demonstra dados de eficácia para terapia sistêmica com intenção curativa para o CEC de pele em caráter neoadjuvante. Sobretudo nesta população de pacientes com doença localmente avançada em cabeça e pescoço cuja abordagem cirúrgica incorre no risco de dano estético e funcional. No desenho era permitido reduzir a dimensão da cirurgia proposta inicialmente, sendo destacado 2 casos em que foi possível preservar a órbita do paciente. Esse é um paradigma importante, entretanto é preciso cautela para se propor descalonamento de tratamento cirúrgico baseado nesse estudo. Ainda demonstra a viabilidade da estratégia neoadjuvante uma vez que, em regra, o cemiplimabe não impediu a realização da cirurgia. O perfil de toxicidade foi compatível com o esperado para a classe de anti-PD-1 principalmente tratando-se de uma população idosa com idade mediana de 73 anos e portadora de múltiplas comorbidades. Mais uma vez, como demonstrado em outros cenários de tratamento neoadjuvante com imunoterapia, a resposta patológica não se correlacionou com a resposta radiológica. Ainda nos resta saber se a taxa de resposta se traduz em benefício de sobrevida para esta doença. Aguardamos os resultados da segunda parte do estudo (não apresentada/publicada até o momento), em que foi permitido, de forma opcional, que os pacientes fossem submetidos a terapia adjuvante com cemiplimabe, radioterapia ou apenas seguimento clínico pois pode impactar de forma importante nos resultados finais de sobrevida.
Avaliador científico:
Dr. Iuri Amorim de Santana
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Oncologista Coordenador do Grupo de Oncologia Cutânea da AMO