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Com mais de 400 participantes, ESMO Summit Latin America 2024 chega ao fim
Neste sábado, 23 de março, aconteceram as últimas atividades do ESMO Summit Latin America 2024, em São Paulo (SP). Nos dois dias de evento, mais de 400 participantes de 22 países puderam ver 27 palestrantes nacionais e 15 internacionais em aulas e apresentações sobre o que há de mais atual no tratamento de diversos tumores, o cenário de pesquisa clínica na América Latina, os panoramas de educação oncológica e o protagonismo feminino na especialidade.
As especificidades latino-americanas foram o foco da aula da Dra. Rachel Riechelman, que abordou o estado da arte do tratamento do câncer anal. Já nos dados epidemiológicos é provável que haja uma diferença na região, indicou. “Sabemos que o câncer de canal anal é raro, representando 2,7% dos tumores gastrointestinais, segundo números dos Estados Unidos. Mas temos poucos dados epidemiológicos por aqui. A percepção real é que na América Latina esse índice seja maior”, comentou.
Na sequência, a especialista também apontou distinções entre os guidelines europeus e latino-americanos. No material da ESMO, o teste de HIV para estes tumores é opcional. “Já no Brasil e na América Latina os índices de HIV são maiores e a sorologia deve ser feita. Já o exame PET-CT se torna opcional por uma questão de acesso.”
Em relação ao acesso, outro tópico importante levantado por Dra. Rachel é a substituição de mitomicina por cisplatina no tratamento, baseado no estudo ACT-II que mostrou uma taxa de resposta muito semelhante para ambos os medicamentos. “Fizemos um estudo multicêntrico no Brasil e na Argentina que também teve resultados muito próximos nos pacientes HIV negativo. Lembrando que a importação de mitomicina é cara para o Brasil, por isso a utilização da cisplatina.”
Outra palestra de destaque no dia foi a do presidente da ESMO, Dr. Andrés Cervantes. Antes de entrar nas especificidades sobre câncer de cólon, o oncologista espanhol comentou um pouco sobre o processo de elaboração dos guidelines da entidade europeia. “As nossas diretrizes são todas baseadas em recomendações entregues com nível de evidência indicado. Também levamos dois pontos específicos em questão: primeiro, a magnitude dos benefícios clínicos de determinado tratamento; e, depois, um escore que nos permite medir o valor desses mecanismos.”
Esta última iniciativa é organizada em modo de pirâmide, na qual o topo, onde estão as drogas prontas para serem utilizadas, é formado pelos estudos com evidências científicas de tier 1. A base, por sua vez, é formada por medicamentos que não possuem evidências claras de funcionamento.
Dr. Cervantes também participou de uma mesa de discussão de caso clínico ao lado do ex-presidente da SBOC, Prof. Dr. Paulo M. Hoff (Gestão 2021-2022). Quem apresentou o relato foi Dra. Maria Cecilia Mathias, coordenadora do Comitê de Jovens Oncologistas da SBOC.
Durante a discussão, Dr. Hoff ressaltou que, no Brasil, as discussões sobre canal anal mais frequentes não giram em torno dos tópicos mais avançados, mas são, por exemplo, sobre situações como um paciente já operado por um cirurgião para retirada de um tumor T1. “A partir disso, precisamos pensar: observamos, fazemos radioterapia ou quimioterapia associada à radioterapia? E não temos bons dados para tomar essa decisão.”
Outros palestrantes, ao longo do dia, falaram sobre essas realidades locais. A peruana Dra. Rebeca Azucena Serra Jaramillo apresentou um caso clínico sobre câncer gástrico com oligometástases, apontando que nem sempre os algoritmos e linhas de tratamento mais indicados em guidelines e consensos estão disponíveis nos hospitais e instituições para o uso no dia a dia; o que desafia os médicos a fazerem o melhor pelo paciente com os recursos disponíveis.
A diretora da Escola Brasileira de Oncologia (EBO), Dra. Clarissa Baldotto, mostrou a evolução do tratamento do câncer de pulmão ao longo das últimas duas décadas, partindo das mudanças na quimioterapia, passando pela terapia-alvo e chegando na imunoterapia. “Este foi um enorme avanço para tratamento destes tumores. Por outro lado, a maior parte dos brasileiros e dos latino-americanos não têm acesso. Ainda temos muitas barreiras a superar na América Latina”, disse.
Antes do fim do encontro, a Presidente em Exercício da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho voltou a agradecer a ESMO pela organização conjunta e anunciou que o próximo ESMO Summit Latin America acontecerá em 2025, no Peru. Ela também convidou os presentes para o XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá no Rio de Janeiro (RJ), de 7 a 9 de novembro de 2024.