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Eficácia da terapia com etoposídeo e cisplatina vs irinotecano e cisplatina para pacientes com carcinoma neuroendócrino avançado do sistema digestório. O ensaio clínico randomizado de fase 3 TOPIC-NEC

Eficácia da terapia com etoposídeo e cisplatina vs irinotecano e cisplatina para pacientes com carcinoma neuroendócrino avançado do sistema digestório. O ensaio clínico randomizado de fase 3 TOPIC-NEC

Resumo do artigo:

Etoposídeo mais cisplatina (EP) e irinotecano mais cisplatina (IP) são regimes comumente usados como padrão no tratamento de carcinoma neuroendócrino (NEC) avançado. Este estudo teve como objetivos identificar se EP ou IP é o regime mais eficaz em termos de sobrevida global (SG) em pacientes com NEC avançado do sistema digestório. Este ensaio clínico randomizado aberto de fase 3 envolveu pacientes virgens de quimioterapia com idades entre 20 e 75 anos, que apresentavam NEC recorrente ou irressecável (de acordo com o sistema de classificação da OMS de 2010) do trato gastrointestinal, sistema hepatobiliar ou pâncreas. Os participantes foram inscritos em 50 instituições do Japão entre 8 de agosto de 2014 e 6 de março de 2020. No braço EP, etoposídeo (100 mg/m2/dia nos dias 1, 2 e 3) e cisplatina (80 mg/m2/dia no dia 1) foram administrados a cada 3 semanas. No braço IP, irinotecano (60 mg/m2/dia nos dias 1, 8 e 15) e cisplatina (60 mg/m2/dia no dia 1) foram administrados a cada 4 semanas. O desfecho primário foi SG. No total, os dados de 170 pacientes foram analisados para detectar um hazard ratio (HR) de 0,67 (SG mediana de 8 e 12 meses nos braços inferior e superior, respectivamente) com um α bilateral de 10% e poder de 80%. Os achados patológicos foram revisados centralmente após o início do tratamento. Entre os 170 pacientes incluídos (mediana [intervalo] de idade, 64 [29-75] anos; 117 [68,8%] do sexo masculino), SG mediana de 12,5 meses no braço EP e 10,9 meses no braço IP (HR, 1,04; IC 90% 0,79-1,37; P = 0,80). A sobrevida livre de progressão (SLP) mediana foi de 5,6 (IC 95%, 4,1 – 6,9) meses no braço EP e 5,1 (IC 95%, 3,3 – 5,7) meses no braço IP (HR, 1,06; IC 95%, 0,78 – 1,45). Uma análise de subgrupo demonstrou que EP produziu SG mais favorável em pacientes com NEC pouco diferenciado de origem pancreática (HR, 4,10; IC 95%, 1,26 – 13,31). Os eventos adversos (EA) de graus 3 e 4 mais comuns nos braços EP vs IP foram neutropenia (75 de 82 [91,5%] pacientes vs 44 de 82 [53,7%] pacientes), leucopenia (50 de 82 [61,0%] pacientes vs 25 de 82 [30,5%] pacientes) e neutropenia febril (NF) (22 de 82 [26,8%] pacientes vs 10 de 82 [12,2%] pacientes). Embora a incidência de NF tenha sido inicialmente alta no braço EP, o uso profilático de fator estimulador de colônias de granulócitos reduziu efetivamente a sua incidência. Os resultados deste ensaio clínico randomizado demonstram que tanto EP quanto IP continuam sendo as opções padrão de quimioterapia de primeira linha. Embora os EAs fossem geralmente manejáveis, os EAs de graus 3 e 4 foram mais comuns no braço EP.

 

 

Morizane C, Machida N, Honma Y, et al. Effectiveness of Etoposide and Cisplatin vs Irinotecan and Cisplatin Therapy for Patients With Advanced Neuroendocrine Carcinoma of the Digestive System: The TOPIC-NEC Phase 3 Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. Published online August 18, 2022. doi:10.1001/jamaoncol.2022.3395.
Eficácia da terapia com etoposídeo e cisplatina vs irinotecano e cisplatina para pacientes com carcinoma neuroendócrino avançado do sistema digestório. O ensaio clínico randomizado de fase 3 TOPIC-NEC.

 

Comentário do avaliador científico:

Os NEC extrapulmonares de alto grau são tratados como carcinomas de pulmão de pequenas células, com séries de casos indicando respostas similares às terapias-padrão.

No estudo fase 3 TOPIC-NEC não se observou diferença estatística de SG e SLP entre os esquemas EP e IP. Estes resultados se repetiram nas análises de subgrupos, inclusive entre os de características patológicas distintas, como células pequenas versus grandes. Porém, uma análise post hoc mostrou maior SG com o esquema EP no subgrupo com NEC pancreático pouco diferenciado.

Como o grupo EP apresentou maiores taxas de toxicidade hematológica grau 3/4, os investigadores passaram a recomendar G-CSF profilático para estes pacientes. A intensidade da dose de Cisplatina era maior neste grupo.

Embora as análises não tenham revelado diferença estatisticamente significativa na SG, o estudo não foi desenhado para avaliar a equivalência dos dois regimes. Portanto, conclui-se que o esquema IP é um regime alternativo de primeira linha para NEC de alto grau do TGI. A validação externa também é limitada, pois o estudo foi realizado em instituições do Japão.

Numa época de terapias com custos exorbitantes, é confortável poder analisar um estudo que avalia drogas disponíveis no nosso SUS.

 

Avaliador científico:

Dr. Antonio Carlos Cavalcante Godoy
Residência Médica em Oncologia Clínica pela FMRP-USP
Doutorado em Oncologia Clínica na FMRP-USP
Diretor Técnico no Instituto do Câncer Brasil (ICB)