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Esforços científicos contra o câncer e a COVID-19 marcam último dia do Congresso SBOC
Realizado de forma híbrida por conta da pandemia de COVID-19, o XXII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica contou com uma série de discussões sobre os impactos do novo coronavírus no cuidado oncológico. No último dia do evento, 20 de novembro, os participantes reunidos no Centro de Convenções de Salvador e aqueles que acompanharam a programação remotamente tiveram acesso a dados preliminares do Consórcio Nacional de COVID-19 em Pacientes com Câncer – o ONCOVID-19.1.
A iniciativa, conduzida pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) de maio de 2020 a agosto deste ano, compilou informações vindas de todas as regiões do país sobre o impacto da infecção pelo novo coronavírus de acordo com cada neoplasia durante e após o tratamento. Oncologistas de 39 instituições de saúde reportaram 1.446 casos ao ONCOVID-19, que serão utilizados em um estudo para definir o perfil dos pacientes com câncer e diagnóstico de COVID-19 no Brasil.
De acordo com Dr. Igor Morbeck, diretor da SBOC, “o estudo identificará pacientes mais suscetíveis à infecção grave, entre outros resultados”. Resultados preliminares do estudo foram apresentados pelo Dr. Bruno Wance, membro da SBOC e um dos responsáveis pela coleta, gerenciamento e análise dos dados. “Mais do que números, tratam-se de vidas expostas a múltiplos riscos, que pretendemos mitigar ao conhecer mais de perto a realidade desses brasileiros”, lembrou.
Para serem incluídos no estudo, os pacientes precisavam ter idade maior que 18 anos, doença oncológica confirmada, atual ou pregressa (tumores sólidos ou hematológicos), e casos suspeitos ou confirmados de infecção por SARS-CoV-2. Foram coletados dados demográficos, clínicos e oncológicos de pacientes em 12 estados e do Distrito Federal, com representantes de todas as regiões do país, sendo a maioria no Amazonas (23%), no Espírito Santo (25%) e em São Paulo (18%). A característica média dos participantes é mulher, 59 anos de idade e cor parda.
Entre os cânceres em sítios primários mais frequentes estiveram o de mama (34%), próstata (11%), colorretal (10%), pulmão (6%) e hematológicos (8%). Quase metade dos pacientes (48%) apresentou alguma comorbidade, o que agrava o risco de complicações provocadas pela COVID-19. Pacientes hipertensos foram 38%; com diabetes, 18%; e obesos, 6%.
Sobre o status do tratamento contra o câncer, 25,66% recebiam cuidados paliativos; 21,65%, tratamento adjuvante; 15,49%, seguimento com evidência de doença; 14,45%, sem evidência; 9,75%, tratamento neoadjuvante; 7,33%, curativo; 5,1%, cuidados paliativos exclusivos. Nos últimos três meses até a inclusão no estudo, 44,7% dos pacientes estiveram em quimioterapia; 22,1%, hormonioterapia; 10,4%, radioterapia; 8,1%, cirurgia; 4%, droga alvo-molecular; e 1%, imunoterapia.
O impacto da pandemia já começou a ser verificado na compilação dos dados: 15% dos pacientes tiveram seus cuidados adiados, enquanto 4% suspenderam todos os cuidados. A interrupção, de acordo com Dr. Bruno Wance, pode estar relacionada ao agravamento da infecção pelo coronavírus: 18% dos pacientes infectados tiveram insuficiência respiratória, sendo que 12% precisaram de ventilação mecânica e 18%, de alguma terapia de suporte à vida. Dos 18% de óbitos relatados, 80% foram relacionados à COVID-19.
Dr. Bruno Wance adiantou os próximos passos do estudo. “Serão feitas, agora, análises multivariadas para identificação de fatores de risco que levem ao desenvolvimento de formas graves da infecção por COVID-19 em pacientes oncológicos”, contou. A monitoria de qualidade é realizada em parceria com a IQVIA.