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Números da vacinação contra o HPV revelam situação alarmante na América Latina
Acaba de ser publicado o estudo “An alert to Latin America: Current HPV vaccination trends highlight key barriers to successful implementation” (“Um alerta para a América Latina: as atuais tendências de vacinação contra o HPV destacam os principais obstáculos à implementação bem-sucedida”) na revista Cancer. A publicação pertence à American Cancer Society e é indexada ao ISI Journal Citation Reports. Os autores do artigo são os membros da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) Angelica Nogueira-Rodrigues, Eduardo Paulino, Cinthya Sternberg e Markus A. C. Gifoni, entre outros colegas.
Os dados corroboram o mote da campanha Onda contra o câncer, apoiada pela SBOC: a necessidade de se divulgar a importância de vacinar meninas e meninos contra o HPV (papilomavírus humano) para prevenir o câncer de colo de útero. De acordo com o estudo, a situação é alarmante na América Latina. Nos anos que se seguiram à introdução da vacina nos calendários nacionais de imunização, houve uma drástica redução da cobertura da primeira dose em diversos países.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal com uma dose diminuiu de 92% da população-alvo (meninas de 11 a 13 anos), em 2014, para 69,5% (meninas de 9 a 11 anos), em 2015. “Uma redução dramática de 23% em um ano”, frisam os autores do artigo.
Tendência semelhante foi observada em Guadalajara, no México: queda de 22% na administração da primeira dose entre 2009 e 2013. Por sua vez, a Colômbia tem enfrentado diminuição preocupante na adesão. Após ter alcançado, em 2013, uma taxa de cobertura de primeira dose de 97,5%, a segunda melhor taxa mundial depois da Austrália, o índice caiu para 20,4% no final de 2014. O escritório do Programa Nacional de Vacinas atribui o fenômeno ao episódio “Carmen de Bolívar”, quando houve relatos de que a vacina teria deixado algumas meninas doentes.
Cobertura ainda menor na segunda e terceira doses da vacina contra o HPV
De acordo com o artigo científico, assim como observado nos Estados Unidos e em outros locais, as taxas de segunda e terceira doses estão muito abaixo das de primeira dose no continente latino. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), nos dois anos seguintes à inclusão da vacina contra o HPV no esquema nacional de vacinação da Argentina, mais de 80% das meninas da faixa etária alvo receberam a primeira dose, enquanto apenas 60% e 50% tomaram a segunda e terceira doses, respectivamente. No Panamá, a cobertura de uma dose entre meninas com 10 anos foi de 89%, enquanto a de três doses ficou em 46%. No México, a cobertura da primeira dose foi de 85% e a de 2 doses, 67%.
Contudo, já existem pesquisas evidenciando que uma dose única de vacina pode ser suficiente para imunizar contra HPV 16 e 18, o que, explicam os autores, “representaria um passo importante na redução do custo e dos recursos necessários para alcançar a ampla cobertura de vacinação contra o HPV”. Um ensaio clínico com o objetivo de avaliar a eficácia de uma dose de vacina contra o HPV está agora em curso.
De qualquer forma, ressaltam os pesquisadores, os esforços dos sistemas de saúde devem continuar a se concentrar em aderir às diretrizes atuais: esquema de duas a três doses, completadas ao longo de seis meses.
Segundo eles, o monitoramento apropriado da cobertura da vacina contra o HPV e seus efeitos permitirá aos países avaliar melhor as tendências nacionais e implantar estratégias mais eficientes conforme as características locais.
Os autores do estudo enfatizam ainda que, no Brasil, há variações regionais significativas na adesão à vacina, com taxas mais elevadas de cobertura em áreas mais desenvolvidas do país, onde o câncer cervical é menos incidente, e menores taxas de vacinação contra o papilomavírus humano onde a incidência deste tipo de câncer é historicamente maior. Um exemplo citado pelos pesquisadores é Alagoas, estado nordestino com um dos piores índices de desenvolvimento humano do país, onde o câncer de colo de útero permanece como uma das principais causas de tumores em mulheres: a cobertura de primeira dose foi de apenas 21,5% da população-alvo no segundo ano de vacinação pública.
Veja algumas das principais informações destacadas no artigo no infográfico abaixo.