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O câncer e a desinformação
Este artigo foi assinado pelo Dr. Evanius Wiermann, oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O texto foi publicado no caderno Opinião, na edição de 22 de abril do jornal Hoje em Dia
Existem mais de 200 tipos de câncer. A doença registra anualmente 14 milhões de novos casos e 8 milhões de mortes em todo o mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde. Os tipos mais conhecidos e mais incidentes são o câncer de pele, de mama, próstata, colo de útero e pulmão. No entanto, vários tipos da doença são pouco conhecidos da população. Por isso, tornam-se ainda mais perigosos, já que a falta de informação e o diagnóstico tardio andam juntos. Na luta pelo combate ao câncer, torna-se imprescindível promover uma campanha sobre os tipos raros, que matam silenciosamente, além de alertar para a doença. Um desses tipos de câncer é o Mieloma Múltiplo.
Pertencente ao grupo de cânceres hematológicos, o Mieloma Múltiplo afeta as células plasmáticas e atinge mais de 30 mil brasileiros por ano. Embora seja pouco incidente, o mieloma é o segundo tipo mais comum entre os cânceres hematológicos, ficando à frente até da leucemia. A doença preocupa por ser desconhecida não somente da população, mas por boa parte dos médicos. Em muitos casos, os sintomas são confundidos com os da osteoporose, por exemplo. Isso faz com que muitos pacientes levem anos para descobrir a doença. O diagnóstico tardio faz com que os pacientes cheguem a estágios mais avançados nos centros especializados e isso é extremamente prejudicial ao tratamento.
Essa doença não tem cura. Ela se desenvolve na medula óssea e se caracteriza pelo crescimento descontrolado de células plasmáticas, responsáveis por ajudar o organismo a combater infecções por meio da produção de anticorpos. O crescimento descontrolado dos anticorpos no tecido forma tumores nas áreas de osso sólido. O crescimento desses tumores dificulta a produção de hemácias saudáveis e de plaquetas pela medula óssea.
Entre os principais sintomas estão a anemia, a dor óssea, a alta produção de cálcio, a perda de peso, a insuficiência renal e as infecções causadas por imunoglobulinas não funcionais.
Além de lutar contra uma doença bastante desconhecida até pelos médicos, os pacientes travam uma batalha pela vida para terem acesso aos principais medicamentos que ajudam na qualidade de vida e aumentam a sobrevida. Os dois principais remédios custam R$ 3 mil e R$ 30 mil, respectivamente. Em muitos casos, os pacientes só conseguem a droga após passar por um desgastante processo judicial.
A melhor saída é a união entre médicos, governo e sociedade civil para discutir a questão e chegar a uma solução viável para todos. Ainda há um longo caminho para ser percorrido na luta contra o câncer, mas é preciso começar, promovendo a informação.