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O cenário é triste, mas a atitude, otimista

O cenário é triste, mas a atitude, otimista

Conheça as iniciativas da oncologista Rachel Cossetti diante dos desafios do tratamento de pacientes com câncer no Maranhão

Ao concluir sua formação como oncologista clínica em São Paulo, no Hospital Sírio-Libanês, e como especialista em câncer de mama na BC Cancer Agency, Vancouver, Canadá, a Dra. Rachel Cossetti voltou para iniciar a carreira em seu Estado natal, o Maranhão, e deparou-se com uma triste realidade: o elevado número de mortes causadas pelo câncer de colo do útero. Essa neoplasia é a mais incidente nas mulheres maranhenses, assim como em toda a Região Norte do país. O Maranhão está no noroeste da Região Nordeste, fazendo divisa com Pará, Tocantins e Piauí. Lá devem ocorrer 1.090 novos casos de câncer de colo de útero em 2018, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), contra 720 de mama. O número é ainda mais impressionante quando se compara com Estados muito mais populosos como São Paulo e Rio de Janeiro, que terão respectivamente 1.940 e 1.340 novos casos de câncer de colo uterino e 16.340 e 8.050 de câncer de mama.

Além da alta incidência, o choque da Dra. Rachel é por saber que a doença é altamente prevenível e também curável quando diagnosticada em estágios iniciais. Mas, mesmo o rastreamento fazendo parte dos programas do Sistema Único de Saúde (SUS), a medida não era efetiva no Estado. “As mulheres mais vulneráveis, com piores condições socioeconômicas e culturais, são as que têm menos acesso aos exames preventivos”, pontua a oncologista, que é membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). A vacinação contra o HPV, medida fundamental para prevenir o câncer de colo de útero, foi incorporada ao Programa Nacional de Imunizações em 2014, mesmo ano em que a Dra. Rachel voltou formada ao Maranhão. Contudo, as taxas de cobertura, como em todo o país, são bem inferiores à meta de 80%.

Diante desse cenário difícil, a Dra. Rachel Cossetti criou em 2016 a campanha Março Lilás para conscientizar a população sobre a importância da prevenção contra o câncer de colo uterino. Além disso, com financiamento do Consulado Japonês, a Fundação Antonio Dino adquiriu uma unidade móvel equipada para realizar exames preventivos. A iniciativa também é idealizada pela Dra. Rachel. Segundo a oncologista, embora itinerante, o objetivo é que o rastreamento seja permanente em todas as comunidades carentes da capital São Luís. Com o envolvimento da equipe do Hospital do Câncer Aldenora Bello, será garantida a entrega dos exames às mulheres, a orientação de continuidade da prevenção periódica ou necessidade de investigação adicional, com seguimento e tratamento quando necessário.

A ação é denominada Consultório Amigo da Vida e foi lançada em 1º de março, com 100 atendimentos iniciais. Outras três comunidades já estão sendo contempladas com a chegada da carreta ao longo deste mês. “Assumimos o compromisso de fazer o rastreamento adequado para garantir o acesso. Desde quando passei a vivenciar como médica a situação das pacientes, carrego essa bandeira”, conta a Dra. Rachel. Mais de um terço das pacientes oncológicas atendidas no Aldenora Bello têm câncer de colo de útero, a grande maioria em estágio avançado. “Acredito que podemos transformar essa realidade com a iniciativa de prevenção e diagnóstico precoce.”

Consultorio Amigo da Vida

Antigas e novas batalhas

A Dra. Rachel Cossetti pertence a uma família que sempre procurou melhorias para os pacientes com câncer. Seu avô era médico e fundou o Hospital Aldenora Bello, a primeira instituição a oferecer tratamento oncológico no Maranhão e a única por várias décadas, até recentemente. Logo depois da morte dele, ocorrida há mais de 40 anos, sua avó Enide Jorge Dino criou a Fundação Antonio Dino com o nome do marido para manter o hospital filantrópico, que hoje realiza 50 mil atendimentos mensais, e casas de apoio. “Mais de 80% dos pacientes são do SUS, cuja verba de custeio é absurdamente defasada. Para viabilizar o funcionamento do hospital, dependemos de doações de pessoas físicas, jurídicas e parcerias institucionais”, conta a oncologista.

No período em que dirigiu o hospital, de 2014 a 2016, a Dra. Rachel também encampou outros desafios. Um deles é construir a UTI pediátrica, que deve ser inaugurada ainda este ano. A unidade de terapia intensiva passou a ser uma exigência do Ministério da Saúde para todos os serviços de atendimento de oncologia pediátrica. A obra está sendo viabilizada com recursos arrecadados pela campanha McDia Feliz, do Instituto Ronald McDonald, emenda parlamentar elaborada pelo deputado estadual Eduardo Braide e pela atuação de um grupo de mulheres da sociedade maranhense, lideradas pela empresária Rafaela Albuquerque. Quando estiver em funcionamento, a nova batalha será arcar com os altos custos de manutenção.

Havia também um problema de falta de espaço para instalar a UTI pediátrica. Para resolvê-lo, suprindo parte da demanda gerada pelo fechamento de alguns leitos de internação, os gestores do hospital decidiram ampliar e humanizar o setor de quimioterapia ambulatorial para as crianças. Nasceu o projeto Q Alegria, que contará, ainda, com cadeiras interativas para entreter os pequenos pacientes durante a aplicação dos medicamentos. Parte dos recursos veio da campanha Natal do Bem, parceria com um shopping da cidade. Cada cliente que doasse R$ 10 ganhava um livro de colorir da Cartoon Network. Mais uma vez, a comunidade abraçou a causa e a meta foi cumprida.

A radioterapia é outra luta. O Aldenora Bello tem somente uma bomba de cobalto de 40 anos e um acelerador linear de mais de uma década. Desde 2012, aguardavam recursos do Ministério da Saúde para ampliar o serviço. O Plano de Expansão da Radioterapia do governo federal, porém, não avançou. A gestão do hospital resolveu, então, buscar novos caminhos, com apoio de empresas, emenda parlamentar apresentada pelo então deputado federal João Castelo e parceria com o governo estadual. O processo está adiantado para a aquisição de três equipamentos e a construção dos respectivos bunkers. A Dra. Rachel é otimista. “Queremos que a verba chegue o quanto antes para acabar com a fila de espera e nos tornar modelo para outros Estados que têm esse mesmo grave problema.”

Em 2016, a Dra. Rachel Cossetti decidiu continuar se dedicando apenas como oncologista no Aldenora Bello. Além dessa atividade, aos 33 anos, ela atua em um hospital privado de São Luís, é professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Maranhão, onde se graduou médica, é mãe da Manuela, de sete meses, e faz mestrado profissional em Saúde da Família com o projeto sobre a implantação do rastreamento móvel de câncer de colo uterino na cidade. “Desejo que este seja o primeiro passo de algo muito maior, que sirva de exemplo para os profissionais de outros lugares também sofridos”, finaliza.

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