Equidade e sustentabilidade do sistema de saúde ganham destaque no 1º dia de SBOC 2023
No primeiro dia de XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que começou nesta quinta-feira, 16 de novembro, “Acesso e Equidade” – o lema do evento – ganharam destaque em sessões importantes, como os módulos de políticas públicas e o Encontro Nacional da Oncologia Clínica no Sistema Único de Saúde (SUS).
Iniciando a discussão sobre o tema, Fernando Maia, coordenador da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, frisou que a sustentabilidade do sistema de saúde precisa de políticas públicas que ataquem a raiz do problema. “O SUS não será sustentável se não atuarmos em alimentação saudável, cessação do tabagismo, combate ao sedentarismo, vacinação de HPV e de hepatite B, prevenção à exposição solar”, exemplificou. “E essa construção de políticas públicas deve se dar em qualquer espaço de diálogo entre governo e entidades.”
Dr. Roberto de Almeida Gil, ex-presidente da SBOC e atual diretor do Instituto Nacional de Câncer (INCA), fez leitura parecida. Ele lembrou que o câncer não é uma doença que se inicia em estado avançado. “Temos etapas primária e secundária de prevenção para depois chegar ao tratamento. Hoje, investimos mais em doença metastática do que no diagnóstico precoce. Precisamos mudar esse olhar para trazer sustentabilidade.”
Ao tema, o Dr. Nelson Teich, ex-ministro da Saúde e coordenador do Comitê de Políticas Públicas da SBOC, adicionou outros pontos de vista. No seu entendimento, na tentativa de criar políticas públicas em saúde, o ponto de partida fundamental é realizar um diagnóstico das necessidades.
“Mapeando o que precisamos, é necessário buscar a infraestrutura que temos disponível e analisar como funciona a operação e o acesso. Dentro das projeções que fiz, as pessoas estão chegando? E quando chegam, estão navegando no sistema? Precisamos saber isso em detalhe para, então, medir desfechos clínicos. Também precisamos ter financiamento – era ideal, inclusive, que revisássemos o pacto federativo”, argumentou o oncologista clínico.
Já a diretora da SBOC Dra. Maria Ignez Braghiroli se debruçou sobre a força de trabalho na oncologia. Em relação à fixação dos profissionais fora dos grandes centros do país, ela refletiu: “Minha sensação é que para mudanças de localização e distribuição, precisamos de um plano de carreira para podermos mudar alguém de um ambiente com mais tecnologia, assistência médica, estrutura para a família etc.”
Prêmio SBOC de Ciências e FIP-SBOC
Um dos momentos mais aguardados do dia foi a entrega do Prêmio SBOC de Ciências, concedido ao melhor trabalho submetido ao Congresso. Cinco destes foram apresentados oralmente diante dos congressistas e da comissão avaliadora, que premiou o Dr. Marcos Tadeu dos Santos pelo abstract “Latin american multicenter validation study: evaluating the diagnostic performance of an optimized microrna and dna-based classifier for indeterminate thyroid nodules”.
Em reconhecimento ao mérito científico e a contribuição para o avanço da oncologia clínica, o premiado recebeu R$ 5 mil, além de um pacote completo para o Congresso SBOC 2024 e o convite para escrever um artigo para o Brazilian Journal of Oncology, periódico mantido por SBOC, SBRT, SBCO e Sobope.
Na mesma sessão, também foram anunciados os projetos selecionados no Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP) da SBOC, que visa apoiar o desenvolvimento de estudos e iniciativas brasileiras de pesquisas oncológicas com foco na diminuição das disparidades e na busca da equidade de acesso a tratamento. Foram contemplados:
Dra. Anna Claudia Evangelista dos Santos, do INCA, com o grant de R$ 50 mil, para o estudo do efeito de características sociais sobre o câncer de mama hereditário.
Dr. Ricardo Souza Evangelista Sant’ana, do ICESP, com o grant de R$ 100 mil, para a construção de um ambiente virtual de aprendizagem para capacitação a distância de enfermeiras oncologistas sobre competências culturais para o cuidado às pessoas LGBTQIAPN+ com câncer.
E o Dr. José Bines, da Clínica da Família Zilda Arns, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, com o grant de R$ 150 mil, para o Projeto Aceleração do Tratamento do Câncer de Mama.
Atuação conjunta em câncer de pulmão
Outra importante iniciativa foi lançada neste primeiro dia de Congresso SBOC 2023: a Aliança Brasileira de Combate ao Câncer de Pulmão, formada pelas Sociedades Brasileiras de Oncologia Clínica, de Cirurgia Torácica, de Pneumologia e Tisiologia, de Radioterapia e de Patologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem.
“Acho que o papel político das sociedades, no sentido de brigar por acesso e regulamentações melhores, está mais forte. Estamos sendo ouvidos em Brasília, no Congresso Nacional e no Ministério da Saúde. Portanto, essa é a hora de unirmos as sociedades com o mesmo objetivo para defender essa bandeira e combater uma doença quase tão mortal, quanto incidente, com custo imenso para os países”, disse Dr. Carlos Gil Ferreira, presidente da SBOC.
O oncologista clínico também esteve presente, ao lado de Dra. Anelisa Coutinho, presidente eleita, e Dra. Marisa Madi, diretora-executiva da SBOC, em reunião com Matt Yeingst, diretor de desenvolvimento da International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC). O intuito do encontro foi estreitar a parceria das entidades no combate aos cânceres de pulmão. Durante o Congresso SBOC 2023, a IASLC está oferecendo condições especiais para os associados da SBOC se unirem à entidade estadunidense.
Ao longo do dia, além desses destaques e do lançamento do Censo SBOC da Oncologia Clínica, o Congresso teve mesas que abordaram subespecialidades como tumores mamários, neuroendócrinos, geniturinários, de cabeça e pescoço e do sistema nervoso central, bem como temas como ESG, jornada do paciente, economia da saúde, diversidade na oncologia, comunicação em saúde e, entre outros, defesa profissional. O XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica segue até o próximo sábado, 18 de novembro.