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Pesquisa aponta que painéis de seleção terapêutica podem ser custo-efetivos no Brasil
A comunidade médica e científica discute em todo o mundo qual a conduta ideal para identificação de biomarcadores de seleção terapêutica: se as amostras dos tumores devem ser analisadas por testes individuais para busca de marcadores únicos ou por painéis capazes de abranger mais genes em uma mesma leitura. A decisão é importante porque o custo e o tempo necessário para saber se o perfil do paciente permite que ele receba uma droga alvo-direcionada podem ser determinantes para o sucesso do tratamento.
Os testes individuais baseiam-se em técnicas mais antigas (PCR, FISH e outros), enquanto esses painéis utilizam o sequenciamento de nova geração (Next Generation Sequence, NGS). Até então, se pensava que o custo dos testes individuais era menor e, portanto, esta opção seria a mais adequada em um país com restrição de recursos, como o Brasil. Contudo, dados preliminares apresentados por pesquisadores brasileiros no Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2017) mostram o contrário.
De acordo com o estudo “Cost-effectiveness analysis comparing companion diagnostic tests for EGFR, ALK and ROS-1 versus next-generation sequence (NGS) in advanced adenocarcinoma lung cancer patients”, os testes individuais podem acrescentar até 800,76 dólares por caso em comparação aos painéis NGS. Além disso, os autores utilizaram uma unidade específica de economia de saúde (incremental cost-effectiveness ratio, ICER) para comprovar que a adoção dos painéis NGS tem um custo-efetividade viável, mesmo na realidade brasileira.
“A repercussão foi muito grande no ASCO porque esta discussão sobre utilizar ou não os painéis é global”, afirma o Dr. Carlos Gil, vice-presidente para Pesquisa Clínica e Estudos Cooperativos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Ele é um dos autores da pesquisa, ao lado de Luciene Schluckebier, Rosangela Caetano e Veronica Aran.
O especialista acrescenta que, em adenocarcinoma de pulmão avançado, é mandatório hoje pesquisar mutação do EGFR e a translocação de ALK e ROS-1 para oferecer a melhor intervenção, que são as drogas alvo-direcionadas, e fazer cada um destes testes individualmente utiliza três vezes mais amostras do tumor e leva de 30 a 45 dias a mais.
Outra grande vantagem evidenciada pelo estudo dos brasileiros é a maior sensibilidade dos painéis NGS. Nesta pesquisa, eles foram capazes de detectar corretamente 24% casos a mais, ou seja, que seriam classificados como falsos-negativos nos outros tipos de teste molecular. A previsão é que o estudo completo seja publicado em agosto.