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Terminei a Residência: e agora? Evento reúne em São Paulo dezenas de R3s de oncologia clínica
Este foi um sábado diferente para 41 residentes de terceiro ano (R3) em oncologia clínica de todo o Brasil. Eles estiveram reunidos, durante todo o dia, em São Paulo (SP), para a primeira edição do “Terminei a Residência: e agora?” – um evento criado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) para refletir sobre casos clínicos e planejamento de carreira.
Diretor da Escola Brasileira de Oncologia (EBO), Dr. Alexandre Jácome explicou que a iniciativa é mais um esforço da SBOC de democratização da educação médica em oncologia clínica, com o intuito de torná-la mais homogênea ao redor do Brasil. “Também é uma ótima oportunidade para que os residentes conhecem diferentes possibilidades de carreira na oncologia”, comentou.
Na avaliação da Dra. Maria Cecília Mathias Machado, coordenadora do Comitê de Jovens Oncologistas da SBOC, o evento chega para auxiliar o residente que tem de lidar com uma série de dificuldades e incertezas nesse momento profissional. “Estamos aqui para estreitar esse gap entre os jovens oncologistas e os mais experientes, mostrando que a SBOC tem muito a oferecer”, ressaltou.
Também participou da abertura o membro do Comitê de Tumores de Cabeça e Pescoço da SBOC Dr. Gilberto Castro. Ao lado de Dra. Maria Cecília, ele foi um dos idealizadores do evento, conforme relato de Dra. Marisa Madi, diretora-executiva da Sociedade. “Pensamos em um evento que pudesse fazer um link entre o residente de 3º ano com o médico que atua em uma farmacêutica, ou na assistência ou nas mais diferentes áreas”, comentou.
Na parte da manhã, a programação foi dedicada à discussão de casos clínicos apresentados por especialistas referências em suas áreas:
• Câncer de mama: Dr. Carlos dos Anjos (Chair), Dr. Gustavo Nader Marta, Dr. André Mattar e Dr. Leandro Jonata de Carvalho Oliveira;
• Câncer de pulmão: Dra. Clarissa Baldotto (Chair), Dr. Gilberto Castro, Dr. Alessandro Wasum Mariani e Dr. Ricardo Terra; e
• Câncer de cólon: Dr. Alexandre Jácome (Chair), Dra. Maria Ignez Braghiroli, Dr. Marcos Eduardo Lara e Dr. Paulo Stevanato.
Em tempo real, os residentes puderam interagir com os palestrantes votando nos diagnósticos e nas indicações terapêuticas disponíveis em um painel.
Um panorama da oncologia
O segundo eixo do “Terminei a Residência: e agora?” focou em aspectos voltados à especialidade e à carreira. Após o almoço, os ex-presidentes da SBOC Dr. Gustavo Fernandes (Gestão 2015-2017) e Dra. Clarissa Mathias (Gestão 2019-2021) conduziram a sessão “O panorama da assistência ao paciente com câncer”, comentando um pouco do quadro da especialidade no Brasil atualmente e as expectativas para o futuro.
Em uma sessão descontraída, os oncologistas aproveitaram a oportunidade para refletir e dar dicas aos residentes. Um dos temas centrais da conversa foi o desenvolvimento da inteligência artificial e a sua relação com a medicina. Os palestrantes comentaram que há especialidades que podem ser mais ameaçadas pela tecnologia do que outras. A oncologia clínica, por outro lado, não deve sofrer, caso mantenha acesa a chama do cuidado.
“Estamos em uma era de conhecimento na mão, mas o importante é saber como usa-lo. Isso é fundamental para geração de vocês. Então, o que precisam ter em mente é que não dá para continuar atendendo todos os dias, se não tiverem o propósito do cuidar”, argumentou Dra. Clarissa.
Seu companheiro de sessão apresentou avaliação parecida. Ele explicou que a inteligência artificial não consegue ter duas competências fundamentais que os humanos têm. A primeira é a visão estratégica. O que possuem é um acúmulo de conhecimento, mas não de sabedoria.
“Além disso, a IA não consegue ser empática. Então, tenho certeza que quem não gosta de gente, de se comunicar com pacientes e traduzir mensagens, não vai caminhar muito no futuro. A inteligência artificial não sabe dizer o que uma doença pesa para aquele indivíduo específico, ou para aquela família”, disse Dr. Fernandes.
Eles debateram, ainda, a evolução da especialidade ao longo das décadas e a desigualdade de distribuição de recursos tecnológicos, estruturais e humanos em oncologia clínica ao redor do Brasil – e as oportunidades e dificuldades que isso representa.
Antes de os participantes se dividirem em grupos para um revezamento de conversas mais intimistas com alguns dos oncologistas convidados, os membros do Comitê de Jovens Oncologistas da SBOC apresentaram um pouco das atividades e objetivos deste grupo, além de terem antecipado uma novidade: um hub exclusivo para os residentes e jovens médicos no Congresso SBOC 2023, que acontecerá de 16 a 18 de novembro, no Rio de Janeiro (RJ).
Desenvolvimento de carreira e autocuidado
Na sequência, a dinâmica foi distinta. Os residentes se separaram em cinco grupos menores e participaram de bate-papos mais próximos com oncologistas consagrados. Houve um revezamento entre as salas, de modo que todos os participantes tiveram contato com todos os mentores, propiciando uma troca de experiências valiosa para os presentes.
As salas tiveram como tema: “Carreira como oncologista no SUS e suas disparidades”; “Carreira na assistência privada”; “Acesso a tratamentos e relacionamento com fontes pagadoras”; “Carreira na indústria farmacêutica”; e “Complementação e especialização no exterior”.
Após uma tarde de profícuas trocas sobre carreira, a última sessão foi “Cuidando do próprio oncologista”, moderada pela diretora da SBOC, Dra. Clarissa Baldotto. Foram abordados tópicos como “Ansiedade, burnout e depressão: pedir ajuda”, “Empreender, ser líder de opinião e assim cuidar de mais pacientes” e “Conflitos de interesse na prática do oncologista”.
Participantes
Ao todo, 41 residentes participaram do “Terminei a Residência: e agora?”. A SBOC arcou com a logística dos inscritos, que vieram das seguintes cidades: Salvador/BA (3), Fortaleza/CE (2), Brasília/DF (2), Belo Horizonte/MG (2), Uberlândia/MG (1), Recife/PE (1), Curitiba/PR (1), Rio de Janeiro/RJ (2), Natal/RN (1), Porto Alegre/RS (2), Ribeirão Preto/SP (5), Campinas/SP (1), Botucatu/SP (1), Barretos/SP (2) e São Paulo/SP (15).
Confira o depoimento de alguns deles:
“Adorei o evento, que foi realmente feito para nós, os residentes. Foi organizado para nos orientar, nos instruir e nos guiar nesse fim de residência, em que ficamos realmente sem saber para onde vamos” – Dra. Monalisa Ceciliana Freitas Moreira de Andrade, residente da Liga Contra o Câncer em Natal (RN)
“O evento está maravilhoso. A discussão de casos foi muito boa, além da parte da carreira. Tínhamos muitas expectativas de compartilhar com colegas e ouvir oncologistas mais experientes. É muito bom participar” – Dr. Alysson Bastos Lustosa, residente do Instituto do Câncer do Ceará – Hospital Haroldo Juaçaba em Fortaleza (CE)
“Parabenizo a SBOC pelo evento. A época final da residência médica suscita muitos questionamentos. Então, ter contato com alguns expoentes da oncologia para podermos tirar dúvidas foi uma ideia muito boa. Agradeço pela nossa participação” – Dr. Iago Mateus Rocha Leite, residente do Instituto do Câncer do Ceará – Hospital Haroldo Juaçaba em Fortaleza (CE)
“O evento é extremamente interesse para todos os residentes, apresentando discussões e respondendo a dúvidas pertinentes” – Dra. Mariana Barros Tambelli Pires, residente da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu (SP)
“Este é um evento ótimo, que nos trouxe muito conhecimento e novas oportunidades. Foi muito bom” – Dra. Emily Tonin da Costa, residente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS)
“Foi um evento muito bom. É uma oportunidade bem diferente, em que estivemos mais próximos de grandes profissionais e expoentes da oncologia do nosso país, com orientação aos residentes que no ano que vem serão os novos oncologistas. Estou muito grata pelo convite” – Dra. Letícia de Jesus Rossato, residente do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre (RS)