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Tratamentos experimentais em oncologia: promessa real ou ficção?

Tratamentos experimentais em oncologia: promessa real ou ficção?

Todos os anos, inúmeros novos produtos são testados e desenvolvidos com o objetivo de tratar e curar vários tipos de câncer. O processo pelo qual essas novas tecnologias são avaliadas é definido e amplamente aceito com base em normas de pesquisa científica, desde pesquisas pré-clínicas até estudos em humanos para avaliação de segurança e eficácia da terapia. Durante esse período de desenvolvimento, muitas abordagens experimentais não confirmam os resultados iniciais animadores e outras demonstram de fato um avanço no tratamento oncológico. 

Recentemente, reportagens divulgadas na mídia brasileira relataram o caso de um paciente com câncer de próstata incurável que foi submetido a um procedimento denominado “túnel térmico do cérebro” (“brain temperature tunnel”, ou BTT, na sigla em inglês) e que atingiu a remissão da doença, mesmo sem ter realizado nenhum tratamento adicional com terapias aprovadas contra a doença. 

Essa terapia foi inicialmente desenvolvida como um aparelho com objetivo de monitorar a temperatura cerebral e recebeu autorização da agência regulatória americana (FDA) para tal finalidade. Posteriormente, porém, ela foi divulgada como tratamento eficaz para problemas neurodegenerativos, como a doença de Alzheimer, mesmo sem ter apresentado evidências científicas ou resultados positivos em testes clínicos para tais finalidades. 

Alguns pontos da notícia sobre essa possível remissão do câncer de próstata merecem atenção. Em primeiro lugar, é importante enfatizar que tratamentos atuais com bloqueadores hormonais contra o câncer de próstata em estágio IV ou metastático são eficazes, seguros e podem levar à remissão da doença em alguns casos, mesmo sem uso de quimioterapia. Além disso, não se tem dados detalhados do caso apresentado, já que não houve até o momento nenhuma publicação em revista científica após revisão dos pares, o que seria um primeiro passo para documentar a suposta evidência de benefício desse tratamento experimental. Outro ponto relevante é a ausência de registro de estudo clínico avaliando essa nova tecnologia em pacientes com câncer, o que seria fundamental para gerar dados conclusivos da real eficácia de qualquer tratamento tido como promissor. 

Desta forma, enquanto vemos com otimismo a melhora clínica descrita no caso divulgado, esse fato não é suficiente para concluirmos que tal tecnologia é eficaz contra o câncer. Como pesquisadores e médicos interessados no melhor para os pacientes, acreditamos que toda nova tecnologia deve ser testada em estudos clínicos sérios antes de ser usada indiscriminadamente em pacientes oncológicos.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) faz questão de contribuir no esclarecimento dessas mensagens, além de qualquer outra que envolva o cuidado oncológico de forma geral na população.

                                                                                                                                                                          DIRETORIA SBOC (GESTÃO 2023)