“Quero estar bem próxima dos associados”
De presidente para presidente
Carlos Gil: Você foi a primeira a ocupar a função de Presidente Eleita da SBOC. Qual sua avaliação sobre esse novo modelo de Governança?
Anelisa Coutinho: Esse modelo é muito importante para a continuidade e o desenvolvimento sólido da instituição. Ele permite ao Presidente Eleito o acompanhamento das estratégias e ações da SBOC já no ano anterior ao seu ano de exercício. Fazendo um paralelo figurativo, temos agora um Presidente em Exercício, que é o responsável legal pela Sociedade, cercado por um “conselheiro”, que é o Presidente de Honra e que esteve na cadeira no ano anterior, e por um “aprendiz”, que é o Presidente Eleito e que estará na cadeira no ano seguinte. Enquanto Presidente Eleita, “aprendiz”, vivenciei uma parceria de construção respeitosa e colaborativa.
Eu já vinha de uma gestão anterior como integrante da Diretoria da SBOC e, sem dúvida, a experiência recente como Presidente Eleita me trouxe ainda mais acesso às informações práticas, acompanhamento das decisões e alinhamento institucional para uma representação homogênea entre gestões. Nesta nova governança, a continuidade toma o lugar da fragmentação.
Carlos Gil: Apesar da equidade de gênero entre nossos associados, você será a terceira mulher a assumir a Presidência da SBOC entre os 21 profissionais que já ocuparam esse cargo. Você planeja alguma ação especial em relação à equidade de gênero na oncologia?
Anelisa Coutinho: Essa constatação reflete a realidade da medicina brasileira. Apesar da equidade de gênero, ainda há muita disparidade em relação à ocupação de posições de liderança. Há, no entanto, uma mudança visível na SBOC e o reflexo disso é uma Sociedade menos engessada, de valorização por mérito e respeito de todos. Isso é muito claro e significativo. A SBOC tem se preocupado em distribuir funções, posições e cargos com representatividade das regiões, equilíbrio entre instituições e gêneros. Manteremos essa conduta, com olhar de reconhecimento de talentos e gerando oportunidades igualitárias. No nosso planejamento, há ações previstas que vão desde mentorias de apoio ao desenvolvimento de carreira até treinamentos de conscientização sobre vieses de gênero e discriminação, além de outras iniciativas que serão discutidas e implementadas junto com o Comitê de Lideranças Femininas. Pretendemos também propagar essa pauta para outras Sociedades de especialidades e Associações médicas, dividindo nossos exemplos de ações de forma a favorecer a equidade de gênero na medicina. A inequidade já não cabe no mundo atual. Eu acredito muito na liderança pelo exemplo. Serei a terceira presidente mulher da SBOC e isso é a prova de que é possível.
Carlos Gil: O primeiro Censo SBOC demostrou que nossos associados, apesar de satisfeitos com a especialidade, estão estressados e preocupados com a falta de acesso aos tratamentos para seus pacientes. Como você acha que podemos continuar atuando para ajudá-los diante desses desafios?
Anelisa Coutinho: A SBOC tem se movimentado nas diversas frentes que cuidam da pauta “acesso”. Vamos continuar buscando espaços de atuação junto a agências reguladoras, órgãos deliberativos, indústria farmacêutica e poder público para contribuir com informações e ponderações com o objetivo de facilitar o acesso aos tratamentos dentro de um racional equilibrado, técnico e ético.
Carlos Gil: Em 2023, passou a valer um novo formato de representantes regionais da SBOC. Qual seu plano para continuar envolvendo os associados das cinco regiões do país?
Anelisa Coutinho: Já fizemos a primeira reunião de alinhamento com os representantes regionais eleitos para o ano de 2024. São profissionais motivados e reconhecidos nas suas regiões, e isso é importante para o engajamento dos associados. A ideia é, ainda no primeiro semestre, visitar as cinco regiões com o projeto “A SBOC vai até você”. Esses representantes personificam as diversidades regionais e atuam como porta-vozes nas suas regiões entre associados e a Diretoria da SBOC, mas eu quero estar mais próxima deles e, se possível, dos oncologistas que ainda não são associados. É importante que conheçam a SBOC e os nossos projetos. Meu desejo é democratizar as participações entre regiões e entre as cidades das capitais e dos interiores. A SBOC é do associado e para o associado. Portanto, estar próxima a eles é mais do que um desejo, é uma meta.
Carlos Gil: A SBOC, sob a sua liderança, realizará mais um ESMO Summit Latin America. Como esse evento pode ajudar na ampliação das parcerias internacionais da SBOC?
Anelisa Coutinho: As parcerias institucionais são muito prezadas pela SBOC. O ESMO Summit é um dos desdobramentos da nossa parceria com a ESMO, e acontecerá pela segunda vez no Brasil. Estou envolvida diretamente na preparação desse evento há mais de um ano, e isso foi possível graças ao nosso novo modelo de governança. Será um evento de atualização dos principais tópicos da oncologia clínica, com especial atenção e integração do jovem oncologista. No programa, haverá um paralelo interessante entre as realidades e os guidelines europeus e latino-americanos, com a presença de dez palestrantes vindos da Europa. Enxergamos o ESMO Summit como uma excelente oportunidade para integrar colegas de outros países da América Latina, e isso já está sendo feito, inclusive com a integração de membros de Sociedades de países da região, como Peru e Argentina, que já foram inseridos na programação científica.
Dr. Carlos Gil e Dra. Anelisa Coutinho em passagem simbólica da função de Presidente em Exercício da SBOC.
Enxergamos o ESMO Summit como uma excelente oportunidade para integrar colegas de outros países da América Latina, e isso já está sendo feito, inclusive com a integração de membros de Sociedades de países da região, como Peru e Argentina, que já foram inseridos na programação científica.
Carlos Gil: Anelisa, suas respostas deixam claro que a nossa Sociedade está nas mãos de uma excelente líder, com capacidade de fazer a entidade dar um passo adiante na busca por melhores condições para os oncologistas clínicos atuarem e por mais acesso para os pacientes. Boa sorte neste novo desafio e conte com meu auxílio!
Anelisa Coutinho: Muito obrigado pelas palavras e pelos votos! Se hoje estou à frente de uma entidade madura, isso se deve ao árduo trabalho que meus antecessores fizeram, a começar por você. Agora, tenho a felicidade de tê-lo como meu Presidente de Honra. Ainda iremos, junto da Diretoria, trabalharmos muito em conjunto.
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