“Servir às necessidades de seus membros deve ser o propósito central de uma Sociedade”

Anelisa Coutinho: Realizamos ao longo de 2024 o projeto “A SBOC e você!”, visitando munícipios das cinco regiões do país. Quais são seus planos para que a SBOC continue se aproximando dos associados?
Angélica Nogueira: Servir às reais necessidades de seus membros deve ser o propósito central de uma sociedade médica e, na SBOC, a busca por estratégias para fortalecer a aproximação com os associados e compreender melhor seus anseios tem sido tratada como prioridade nas últimas gestões. O projeto “A SBOC e Você!” seguirá em 2025 com uma evolução em seu formato. Agora, aproveitando a capilaridade dos representantes regionais, a SBOC passará a realizar um encontro científico regional anual, que será um evento concomitante em capitais do país e contará com representantes regionais, além da presença local de membros da Diretoria da SBOC. Os representantes regionais também se responsabilizarão por visitas a municípios de seus estados.

Além disso, neste ano, para aumentar a renovação e a diversidade de integrantes, respeitando a meritocracia, os Comitês SBOC foram ampliados, incluindo uma vaga dedicada a um jovem oncologista, selecionado a partir de análise curricular.
Anelisa Coutinho: A SBOC já desempenhava um papel importante de suporte técnico à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) nos processos de incorporação de tecnologias para a oncologia e, em 2024, passamos a participar também das reuniões da CONITEC, auxiliando na incorporação de tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, no último ano, desenvolvemos uma ferramenta para auxiliar na hierarquização de indicações de terapias com potencial de incorporação. Na sua visão, como a SBOC pode continuar contribuindo para a ampliação das possibilidades terapêuticas no sistema de saúde brasileiro?
Angélica Nogueira: A contribuição das análises técnicas das sociedades de especialidade em reuniões de incorporação tecnológica é fundamental. Ao longo dos últimos anos, a SBOC consolidou sua relevância nas reuniões da ANS, responsável por analisar a incorporação de medicamentos orais ao rol de cobertura obrigatória das operadoras de saúde. Na CONITEC, fórum essencial para a análise de incorporações no sistema público de saúde, a participação das sociedades de especialidade, incluindo a SBOC, ainda está em fase inicial. No entanto, a atual maturidade dessa comissão viabiliza a ampliação das discussões.
Vivenciamos avanços sem precedentes no tratamento do câncer, mas a custos inalcançáveis para o nosso modelo de gestão da saúde. A Diretoria da SBOC, em 2025, almeja consolidar seu papel de articulação, apoiando o sistema na busca por soluções inovadoras para que esses avanços cheguem, de fato, aos pacientes. Para enfrentar esse desafio, a SBOC desenvolveu, sob a liderança do seu diretor, Dr. André Sasse, uma ferramenta de hierarquização de prioridades, que, em 2025, deverá ser amplamente utilizada por diversas instituições que atuam no tratamento oncológico. Além disso, uma nova iniciativa voltada para ampliar o acesso e apoiar o desenvolvimento tecnológico será a criação de um projeto de formação em pesquisa clínica, com foco prioritário nas equipes e nas Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) e nos Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) do país.
A presença de três mulheres na presidência da SBOC reflete o amadurecimento da nossa Sociedade
Anelisa Coutinho: A reportagem de capa desta revista aborda a aproximação das Sociedades de oncologia da América Latina. Como você vê essa parceria e, na liderança da SBOC, qual direcionamento gostaria de dar para essa nossa aproximação com outras Sociedades da região?
Angélica Nogueira: A América Latina possui heterogeneidades marcantes, mas seus países compartilham importantes denominadores comuns que merecem análise e possível direcionamento conjunto. Uma melhor articulação entre as Sociedades de oncologia dos países da região tem o potencial de gerar impactos amplos, como o crescimento do conhecimento epidemiológico e dos desfechos oncológicos com dados de vida real, a educação médica, a cooperação científica e o fortalecimento da pesquisa clínica regional. Além disso, pode promover o compartilhamento de estratégias para melhorar o acesso e ampliar a voz dos países da região nas discussões globais sobre políticas de saúde.
Anelisa Coutinho: A SBOC tem, agora, três mulheres exercendo os cargos de Presidente, Presidente Eleita e Presidente de Honra. Quão importante e representativo isso é para a nossa Sociedade?
Angélica Nogueira: Em 43 anos de história, sou a quarta presidente mulher, mas a terceira nos últimos cinco anos. Nossa Presidente Eleita para 2026, Clarissa Baldotto, também é mulher, o que sinaliza uma mudança do status quo. Segundo o Censo SBOC da Oncologia, metade dos oncologistas brasileiros são mulheres, ainda minoritariamente em cargos de liderança. A presença de três mulheres na presidência da SBOC reflete o amadurecimento da nossa Sociedade e certamente servirá de exemplo, impactando possivelmente a discussão sobre as posições de liderança nos sistemas público e privado do país, em curto a médio prazo.
Anelisa Coutinho: Ao término da sua gestão como Presidente da SBOC, que iniciativa ou legado você gostaria de deixar para a nossa Sociedade?
Angélica Nogueira: Espero que a Diretoria SBOC 2025 sirva bem ao nosso país e que implemente soluções que ajudem a mitigar a inaceitável disparidade vigente. São os nossos quatro propósitos centrais: a ampliação do foco ao cuidado com o oncologista clínico, apoiando seu desenvolvimento profissional e pessoal, e construindo um ambiente propício para a prestação de cuidados oncológicos de excelência aos pacientes; a extensão da dedicação ao necessário Plano Nacional de Controle do Câncer ampliando nossa função de articulador junto ao governo para melhorar acesso no sistema público; o lançamento de uma plataforma de ensino para apoiar a expansão da Escola Brasileira de Oncologia; e a expansão da SBOC na América Latina.

Consolidar o papel de articulação da SBOC, apoiando o sistema na busca de soluções inovadoras para que o avanço chege ao paciente
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“Quero estar bem próxima dos associados”
De presidente para presidente


Carlos Gil: Você foi a primeira a ocupar a função de Presidente Eleita da SBOC. Qual sua avaliação sobre esse novo modelo de Governança?
Anelisa Coutinho: Esse modelo é muito importante para a continuidade e o desenvolvimento sólido da instituição. Ele permite ao Presidente Eleito o acompanhamento das estratégias e ações da SBOC já no ano anterior ao seu ano de exercício. Fazendo um paralelo figurativo, temos agora um Presidente em Exercício, que é o responsável legal pela Sociedade, cercado por um “conselheiro”, que é o Presidente de Honra e que esteve na cadeira no ano anterior, e por um “aprendiz”, que é o Presidente Eleito e que estará na cadeira no ano seguinte. Enquanto Presidente Eleita, “aprendiz”, vivenciei uma parceria de construção respeitosa e colaborativa.
Eu já vinha de uma gestão anterior como integrante da Diretoria da SBOC e, sem dúvida, a experiência recente como Presidente Eleita me trouxe ainda mais acesso às informações práticas, acompanhamento das decisões e alinhamento institucional para uma representação homogênea entre gestões. Nesta nova governança, a continuidade toma o lugar da fragmentação.
Carlos Gil: Apesar da equidade de gênero entre nossos associados, você será a terceira mulher a assumir a Presidência da SBOC entre os 21 profissionais que já ocuparam esse cargo. Você planeja alguma ação especial em relação à equidade de gênero na oncologia?
Anelisa Coutinho: Essa constatação reflete a realidade da medicina brasileira. Apesar da equidade de gênero, ainda há muita disparidade em relação à ocupação de posições de liderança. Há, no entanto, uma mudança visível na SBOC e o reflexo disso é uma Sociedade menos engessada, de valorização por mérito e respeito de todos. Isso é muito claro e significativo. A SBOC tem se preocupado em distribuir funções, posições e cargos com representatividade das regiões, equilíbrio entre instituições e gêneros. Manteremos essa conduta, com olhar de reconhecimento de talentos e gerando oportunidades igualitárias. No nosso planejamento, há ações previstas que vão desde mentorias de apoio ao desenvolvimento de carreira até treinamentos de conscientização sobre vieses de gênero e discriminação, além de outras iniciativas que serão discutidas e implementadas junto com o Comitê de Lideranças Femininas. Pretendemos também propagar essa pauta para outras Sociedades de especialidades e Associações médicas, dividindo nossos exemplos de ações de forma a favorecer a equidade de gênero na medicina. A inequidade já não cabe no mundo atual. Eu acredito muito na liderança pelo exemplo. Serei a terceira presidente mulher da SBOC e isso é a prova de que é possível.
Carlos Gil: O primeiro Censo SBOC demostrou que nossos associados, apesar de satisfeitos com a especialidade, estão estressados e preocupados com a falta de acesso aos tratamentos para seus pacientes. Como você acha que podemos continuar atuando para ajudá-los diante desses desafios?
Anelisa Coutinho: A SBOC tem se movimentado nas diversas frentes que cuidam da pauta “acesso”. Vamos continuar buscando espaços de atuação junto a agências reguladoras, órgãos deliberativos, indústria farmacêutica e poder público para contribuir com informações e ponderações com o objetivo de facilitar o acesso aos tratamentos dentro de um racional equilibrado, técnico e ético.
Carlos Gil: Em 2023, passou a valer um novo formato de representantes regionais da SBOC. Qual seu plano para continuar envolvendo os associados das cinco regiões do país?
Anelisa Coutinho: Já fizemos a primeira reunião de alinhamento com os representantes regionais eleitos para o ano de 2024. São profissionais motivados e reconhecidos nas suas regiões, e isso é importante para o engajamento dos associados. A ideia é, ainda no primeiro semestre, visitar as cinco regiões com o projeto “A SBOC vai até você”. Esses representantes personificam as diversidades regionais e atuam como porta-vozes nas suas regiões entre associados e a Diretoria da SBOC, mas eu quero estar mais próxima deles e, se possível, dos oncologistas que ainda não são associados. É importante que conheçam a SBOC e os nossos projetos. Meu desejo é democratizar as participações entre regiões e entre as cidades das capitais e dos interiores. A SBOC é do associado e para o associado. Portanto, estar próxima a eles é mais do que um desejo, é uma meta.
Carlos Gil: A SBOC, sob a sua liderança, realizará mais um ESMO Summit Latin America. Como esse evento pode ajudar na ampliação das parcerias internacionais da SBOC?
Anelisa Coutinho: As parcerias institucionais são muito prezadas pela SBOC. O ESMO Summit é um dos desdobramentos da nossa parceria com a ESMO, e acontecerá pela segunda vez no Brasil. Estou envolvida diretamente na preparação desse evento há mais de um ano, e isso foi possível graças ao nosso novo modelo de governança. Será um evento de atualização dos principais tópicos da oncologia clínica, com especial atenção e integração do jovem oncologista. No programa, haverá um paralelo interessante entre as realidades e os guidelines europeus e latino-americanos, com a presença de dez palestrantes vindos da Europa. Enxergamos o ESMO Summit como uma excelente oportunidade para integrar colegas de outros países da América Latina, e isso já está sendo feito, inclusive com a integração de membros de Sociedades de países da região, como Peru e Argentina, que já foram inseridos na programação científica.

Dr. Carlos Gil e Dra. Anelisa Coutinho em passagem simbólica da função de Presidente em Exercício da SBOC.
Enxergamos o ESMO Summit como uma excelente oportunidade para integrar colegas de outros países da América Latina, e isso já está sendo feito, inclusive com a integração de membros de Sociedades de países da região, como Peru e Argentina, que já foram inseridos na programação científica.
Carlos Gil: Anelisa, suas respostas deixam claro que a nossa Sociedade está nas mãos de uma excelente líder, com capacidade de fazer a entidade dar um passo adiante na busca por melhores condições para os oncologistas clínicos atuarem e por mais acesso para os pacientes. Boa sorte neste novo desafio e conte com meu auxílio!
Anelisa Coutinho: Muito obrigado pelas palavras e pelos votos! Se hoje estou à frente de uma entidade madura, isso se deve ao árduo trabalho que meus antecessores fizeram, a começar por você. Agora, tenho a felicidade de tê-lo como meu Presidente de Honra. Ainda iremos, junto da Diretoria, trabalharmos muito em conjunto.
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