Confira como foi o Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica da SBOC de 2024
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Capacitação em Pesquisa Clínica

Nos meses de outubro e dezembro de 2024, foram realizadas as quatro visitas guiadas do Programa de Pesquisa Clínica da SBOC. Ao todo, participaram 12 oncologistas clínicos, vindos de 10 cidades diferentes, que demonstraram interesse em conhecer de perto o funcionamento de centros de pesquisa clínica de referência no país.
Atuaram como parceiros do projeto a Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro (RJ); o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), em São Paulo (SP); o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), em São Paulo (SP); e o Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia de Ijuí (Oncosite), em Ijuí (RS).
“Buscamos associados que tenham interesse em atuar neste campo ou os que já trabalham diretamente com estudos clínicos e queiram aprimorar seus conhecimentos. Com o Programa de Pesquisa Clínica, possibilitamos que conhecem de perto o funcionamento desses centros, para que possam depois fazer com que a pesquisa clínica alcance todas as regiões do Brasil”, explica Dr. Fábio Franke, um dos idealizadores da iniciativa da SBOC e representante do Oncosite.
Para Dra. Camila Motta Venchiarutti Moniz, que conduziu os encontros do ICESP, a SBOC desempenha, através do projeto, um papel essencial no avanço da ciência, na capacitação de profissionais e na ampliação do acesso a tratamentos inovadores no Brasil, uma vez que a pesquisa clínica atua como o elo entre o conhecimento científico e a prática médica.
“O Programa de Pesquisa Clínica da SBOC investe na formação e qualificação de jovens oncologistas, promovendo a troca de experiências entre pesquisadores de diferentes regiões do país, estimulando o desenvolvimento e a consolidação de novos centros de pesquisa clínica no Brasil”, completa a oncologista clínica.
Na visão de Dra. Andréia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do INCA, a iniciativa da Sociedade fortalece a pesquisa clínica ao promover o treinamento destes jovens oncologistas – dos que já atuam na área aos que ainda não possuem experiência, mas que voltam para suas regiões com este novo conhecimento. “Essa é uma iniciativa que o INCA apoia e faz questão de participar”, adiciona a pesquisadora, também membro dos Comitês de Lideranças Femininas e de Tumores Ginecológicos da SBOC.
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Apesar de barreiras, pesquisadores brasileiros têm se destacado internacionalmente
Autores de artigos recém-publicados em periódicos globais comentam o processo de escrita científica e falam sobre a produção de conhecimento no Brasil
Oferecer o melhor tratamento disponível para seus pacientes é um dos principais desafios com o qual os oncologistas brasileiros têm de lidar. Não apenas na assistência, porém, estão os obstáculos desses profissionais. Para aqueles que optam por desenvolver um percurso de produção científica, há diversos outros obstáculos a serem superados.
Na publicação de artigos em grandes periódicos internacionais, por exemplo, a participação de autores brasileiros ainda é tímida, avalia Dra. Rachel Riechelmann – membro do Comitê de Tumores Gastrointestinais da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Ela entende que o foco de atuação, no país, ainda é a assistência, em detrimento do ensino e pesquisa.

Dra. Rachel Riechelmann, autora de artigo publicado na Nature Reviews Disease Primers.
“Geralmente, o tempo dedicado a essas atividades não é remunerado. Isso faz com que os investigadores brasileiros desenvolvam menos pesquisa em comparação a outros países”, comenta “Por isso, a participação nas maiores revistas científicas, sobretudo liderando, é muito pequena”, comenta a oncologista clínica, que é uma das autoras do artigo Gastric neuroendocrine neoplasms, publicado em maio último na Nature Reviews Disease Primers.
Se ainda há um caminho a ser percorrido, há também motivos para otimismo. Dr. Jessé Lopes da Silva, membro do Comitê de Diversidade da SBOC, acredita que o número de brasileiros tem aumentado aos poucos nas revistas de renome internacional.
“Isso reflete o amadurecimento e a excelência da produção científica nacional. O fortalecimento dessa presença é fundamental para ampliar a visibilidade e o impacto da nossa pesquisa, contribuindo para a projeção global da nossa produção”, defende. Em fevereiro de 2024, ele foi o autor principal do estudo Ethnic disparities in breast cancer patterns in Brazil: examining findings from population-based registries, publicado na Breast Cancer Research and Treatment.

Dr. Jessé Lopes da Silva, autor de artigo publicado na Breast Cancer Research and Treatment.
Caminhos da pesquisa
Desde a formação médica, é possível que os jovens se preparem para entender o cenário da pesquisa brasileira e compreender os mecanismos pelos quais pesquisas podem ser feitas no país. Para Dr. Silva, é imprescindível que os jovens cultivem uma postura investigativa, pautada pela curiosidade intelectual e pela busca incessante por conhecimento.
Ele elenca, ainda, como pilares essenciais da trajetória de quem pretende realizar grandes publicações: ter uma mentoria qualificada, participar ativamente de projetos de pesquisa e se atualizar cientificamente de maneira constante.
Ter acesso a treinamentos pode ser o primeiro passo. “O jovem precisa aprender a fazer, conhecer metodologia científi ca e desenho de estudo”, explica Dra. Riechelmann. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio de um fellowship – programas oferecidos, geralmente, fora do Brasil.
“Há muitos serviços no país, porém, nos quais é possível se envolver com pesquisa”, comenta a oncologista e pesquisadora, que fez seu treinamento em pesquisa clínica no Princess Margaret Cancer Centre, afi liado à Universidade de Toronto (Canadá).
Geralmente, o tempo dedicado a essas atividades [produção científica] não é remunerado. Isso faz com que os investigadores brasileiros desenvolvam menos pesquisa em comparação a outros países
Impactos reais
A pesquisa, muitas vezes, pode parecer algo distante da rotina assistencial, mas é por meio dela que são produzidas evidências que norteiam as decisões tomadas nos consultórios. Há, ainda, pesquisadores que dedicam sua atividade a estudos que são diretamente ligados à relevância social de seus temas. É o caso do Dr. Jésse Silva, por exemplo.
A imersão no estudo que liderou sobre disparidades étnicas foi motivada pela necessidade premente de compreender o problema no contexto do câncer de mama. “Expor esses dados pode ser uma ferramenta poderosa para fomentar discussões profundas a fi m de criar políticas sérias para reduzir as inequidades raciais”, detalha.
Dra. Riechelmann reforça a importância da pesquisa na assistência. “É por meio destas investigações que os médicos se especializam e produzem conhecimento, contribuindo para o avanço dos cuidados prestados à população”, enfatiza
O fortalecimento da produção científica brasileira é fundamental para ampliar a visibilidade e o impacto da nossa pesquisa
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Oncologistas contam como conciliar rotinas profissional e pessoal com pesquisa
O cotidiano do médico professor e pesquisador, muitas vezes, é um equilibrar de pratos. Ele precisa administrar, além das etapas de um estudo científico, a vida pessoal, o atendimento aos pacientes e a docência. Foi esta a trajetória escolhida pela diretora da SBOC e coordenadora do Comitê de Ensino da entidade, Dra. Clarissa Baldotto. Com mestrado em Oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e doutorado em Ciências Médicas pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, ambos no Rio de Janeiro, ela conta que pesquisar pode trazer muitos ganhos à carreira.

Dra. Clarissa Baldotto, durante o Congresso SBOC 2022
“O aprofundamento científico pode trazer progressão e reconhecimento na carreira, proporcionando decisões clínicas mais embasadas, colaboração e networking, além de prestígio para a instituição de origem e melhoria no cuidado dos pacientes”, avalia.
O aprofundamento científico pode trazer progressão e reconhecimento na carreira, proporcionando decisões clínicas mais embasadas, colaboração e networking, além de prestígio para a instituição de origem e melhoria no cuidado dos pacientes”
Dra. Clarissa Baldotto
Parte do cotidiano acadêmico é a redação e publicação de artigos científicos que, segundo Baldotto, possibilita aos pesquisadores compartilharem suas descobertas. “Isso permite uma análise pormenorizada de determinados dados de um estudo científico e contribui para o progresso científico”, diz. “Revistas como a Brazilian Journal of Oncology, inclusive, estimulam os membros da SBOC a participarem ativamente ao publicarem dados de suas pesquisas”, pontua.
Publicação científica
Publicar exige dedicação dos pesquisadores que, além de produzir e submeter os artigos científicos, precisam fazer os ajustes solicitados pelos pareceristas e editores das revistas científicas. Publicado em junho de 2023 na conceituada JCO Global Oncology, revista científica da American Society of Clinical Oncology (ASCO), o artigo “Brazilian Landscape of Hepatocellular Carcinoma” levou quatro meses entre a busca de referências na literatura científica, a compilação dos dados em uma revisão e a discussão, lembra o Dr. Leonardo Gomes da Fonseca, associado SBOC e um dos autores do artigo.
“A ideia do trabalho surgiu a partir dos avanços para o tratamento do hepatocarcinoma e o reconhecimento de que uma proporção significativa de pacientes é diagnosticada em fase avançada da doença”, lembra. “Com isso, propusemos buscar evidências científicas sobre a incidência, disponibilidade de tratamentos e desfechos da doença no Brasil. Após submissão e avaliação, a revista sugeriu buscarmos dados comparativos com outros locais do mundo e detalharmos a estrutura dos sistemas de saúde brasileiro, o que fortaleceu nossa análise”, explica.

Dr. Leonardo Gomes da Fonseca
Entre os resultados desse estudo, os pesquisadores identificaram que no Brasil os pacientes com carcinoma hepatocelular são, na maioria das vezes, diagnosticados em fases avançadas e o tratamento para a doença em geral está concentrado em grandes centros urbanos e em instituições acadêmicas. “Isso indica que precisamos desenvolver estratégicas para detecção precoce da doença”, complementa Dr. Fonseca.
Fatores de impacto das revistas
A JCO Global Oncology é uma revista científica com fator de impacto 4.5, considerado alto. Esse tipo de método bibliométrico é usado para avaliar a relevância de periódicos, sendo que índices superiores a 3.8 são considerados altos. No Brasil, o Qualis Periódicos também avalia a qualidade das revistas, as classificando de A1 (mais alto) a B4.
Em maio de 2023, Dr. Pedro Nazareth Aguiar Jr., também associado à SBOC, publicou um artigo em uma revista de prestígio internacional: a JCO Clinical Cancer Informatics, cujo fator de impacto é 4.2. Intitulada “Physical Examination in Medical Oncology Guiding the Development of a Protocol for Teleoncology Care in a Public Health Care Oncology Service”, a pesquisa teve por objetivo definir variáveis clínicas que pudessem predizer alterações nos achados do exame físico e, assim, levar a diferenças significativas no manejo clínico. Realizado de modo prospectivo em dois hospitais públicos no Brasil, o estudo científico concluiu que, considerando as mudanças no manejo clínico, o exame físico em todas as consultas pode não ser necessário.

Dr. Pedro Nazareth Aguiar Jr
Com base nesse artigo, Dr. Aguiar Jr. prevê que a teleoncologia será uma modalidade segura para a maioria dos casos. Mesmo assim, para pacientes com doença avançada e sintomas, ele sugere prioridade para o atendimento presencial. “Esse conhecimento é importante devido à crescente popularidade das consultas de teleoncologia, nas quais não há possibilidade de exame físico”, afirma o pesquisador, que também atua como preceptor da Residência Médica em Cancerologia Clínica da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC).
O pesquisador conta que o estudo foi desenvolvido como trabalho de conclusão de curso da residente em oncologia Dra. Mirella Stival, também é uma das autoras do artigo. O projeto foi inicialmente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – procedimento necessário quando a pesquisa envolve seres humanos ou informações sigilosas como de prontuários médicos. Após aprovação, eles começaram a coleta dos dados a partir de formulários preenchidos após cada consulta realizada no Centro de Alta Complexidade em Oncologia da FMABC.
“Posteriormente, os dados foram planilhados e analisados”, relata Aguiar Jr., que menciona a experiência do colega Dr. Auro Del Giglio, oncologista clínico e outro autor do artigo, como fundamental no desenvolvimento da pesquisa e na redação do artigo, ressaltando a importância das redes de pesquisa que normalmente os pesquisadores fazem parte.
Administração do tempo
Dr. Aguiar Jr. conta que é oncologista, pesquisador, orientador de residência médica e pai, atividades que exerce não necessariamente nessa ordem e que exigem organização: “É um desafio tremendo! Para isso, é fundamental administrar o tempo sabendo que tudo é uma questão de equilíbrio”, enfatiza. “Às vezes, há sobrecarga e cansaço, mas a recompensa vem. O mais importante é não desistir do sonho. Não deixar as pressões da vida mudarem a rota que almejamos”, complementa.
Já o Dr. Leonardo Gomes da Fonseca atende pacientes oncológicos e também afirma perceber como a atividade de pesquisa impacta no dia a dia profissional: “Infelizmente, nossa rotina médica não permite uma dedicação maior à produção do conhecimento. Os centros acadêmicos deveriam dar maior espaço e buscar estratégias para conciliar pesquisa e assistência”, sugere ele, que concluiu recentemente o doutorado em Gastroenterologia pela Universidade de São Paulo (USP).
Mesmo assim, ele recomenda a vida acadêmica aos estudantes que desejam fazer ciência. “Ter interesse em um tema e buscar discutir e interagir com grupos de referência no Brasil e no exterior é um passo importante para quem quer pesquisar. Formular questões práticas sobre esse tema, participar de grupos multidisciplinares também são fundamentais. Mas, como prioridade, devemos sempre seguir as boas práticas de pesquisa e ter senso crítico sobre os dados que vamos encontrar”, diz.

A SBOC procura incentivar profissionais que queiram se dedicar à pesquisa. Neste ano, a entidade criou o Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP). O objetivo é impulsionar a pesquisa em oncologia no Brasil por meio do apoio financeiro a estudos científicos em desenvolvimento ou a serem iniciados com foco na diminuição das disparidades e busca da equidade de acesso ao tratamento oncológico.
Dentre os critérios de avaliação estão: originalidade, relevância e adequação metodológica do projeto e experiência científica prévia do autor. Os projetos contemplados serão divulgados durante o XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, no Rio de Janeiro. Saiba mais!
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