Em parceria com a European Society for Medical Oncology (ESMO), a SBOC organizou, pela segunda vez no Brasil, o ESMO Summit Latin America. O evento realizado nos dias 22 e 23 de março, em São Paulo, contou com mais de 400 congressistas de 22 países.
“Além de fortalecer nossa parceria com a ESMO, realizar o evento ESMO Summit no Brasil foi uma excelente oportunidade de desfrutar de ótimas apresentações e debates, com harmoniosa interação entre colegas da América Latina e de diversas outras regiões do mundo”, avalia a Presidente da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho.
Foram diversos momentos de destaque na programação, sobretudo aqueles que mostraram as diferenças e as similaridades entre as realidades europeia e latino-americana. Em relação ao câncer de colo do útero (ou cervical), por exemplo, a Presidente Eleita da SBOC – Gestão 2025, Dr. Angélica Nogueira, enfatizou o efeito que o rastreio via Papanicolau produziu nos países desenvolvidos. “No Brasil, temos este exame há 50 anos, sem, no entanto, termos alteração no número de incidência do câncer cervical”, comentou durante o evento. Dados recentes – que precisam ainda ser mais analisados – indicam até um aumento dos casos desses tumores”, comentou durante sua participação no evento.
Segundo dados apresentados por ela, são 17 mil casos anuais de câncer cervical no país, sendo o terceiro tumor mais incidente entre as brasileiras. Sobre o diagnóstico, um estudo panorâmico com cerca de 261 pacientes mostrou que, no Brasil, de 60% a 70% dos diagnósticos são em estadio II e III, e 10% de doença metastática.
Em termos de América Latina, a região tem quase 60 mil casos anuais, aproximadamente 10% dos casos globais. A média é de 20 casos para 100 mil habitantes. “Existem regiões, porém, como o Paraguai, a Bolívia e a Guiana que atingem níveis próximos ao da África Subsaariana, com mais de 29 casos para 100 mil habitantes”, adicionou.
Também sobre a América Latina, o coordenador do Comitê de Pesquisa Clínica da SBOC, Dr. Fábio Franke, apontou que somente 5,2% dos estudos clínicos globais acontecem na região. No Brasil, especificamente, este índice é de 2%. “Além disso, o investimento público em pesquisa é acanhado. Mesmo o investimento privado é pouco se comparado ao resto do mundo. Infelizmente, 95% dos nossos estudos são dependentes da indústria”, lamentou.
Entre os desafios de desenvolver o setor na região, Dr. Franke apontou alguns obstáculos regulatórios, sobretudo em pesquisas que envolvem mais de um país, já que cada nação tem suas burocracias e requerimentos regulatórios. “Há também uma questão de infraestrutura. Algumas regiões latino-americanas não contam com a infraestrutura necessária para conduzir ensaios clínicos”, adicionou.
Durante o evento também foi apresentada a inédita pesquisa Liderança Feminina na Oncologia, realizada pelo Instituto Datafolha com associados da SBOC entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024.