Panorama da oncologia clínica no Brasil reforça distribuição desigual de profissionais
Até o fim desta década, o câncer deve se tornar a doença que mais mata no Brasil, tornando a análise sobre a distribuição e o perfil dos oncologistas do país cada vez mais relevante. Recentemente, novos dados sobre o tema foram publicados na “Demografia Médica no Brasil 2025”, organizado pelo Ministério da Saúde, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).
Atualmente, o Brasil conta com 4.870 especialistas em oncologia clínica, uma razão de 2,29 profissionais a cada 100 mil habitantes. Estes números representam apenas 1% do total de médicos especialistas no país.
Apesar do crescimento da presença feminina na força de trabalho, os homens ainda são maioria: 53,8%. A média de idade é de 50 anos. Neste universo, 21% têm 55 anos ou mais, enquanto apenas 11,8% têm 35 anos ou menos.
Entre os oncologistas clínicos que possuem outro título de especialista, 2.997 possuem especialização em clínica médica, 1.137 em cirurgia oncológica e 1.097 em cirurgia geral. Outras especialidades que se destacam na lista: pediatria (427), hematologia e hemoterapia (171) e mastologia (137).
A distribuição geográfica dos especialistas reforça as desigualdades no acesso aos serviços de saúde. Quase metade dos oncologistas clínicos do país está concentrada na Região Sudeste (49,1%), seguida pelas Regiões Sul (19,7%) e Nordeste (17,2%). As Regiões Norte (4,4%) e Centro-Oeste (9,6%) apresentam a menor concentração de especialistas.
Além da distribuição entre regiões, observa-se que 62,3% dos oncologistas trabalham em capitais, enquanto apenas 0,2% trabalham em municípios com menos de 100 mil habitantes. Entre os dois extremos, há 17% dos especialistas atuando em cidades do interior com mais de 300 mil habitantes e outros 20,5% em municípios do interior com população entre 100 e 300 mil.
Os estados das Regiões Sul e Sudeste apresentam as maiores taxas de especialistas per capita, enquanto grande parte da Região Norte e alguns estados do Nordeste registram menos de um oncologista clínico por 100 mil habitantes. Tal desigualdade mostra que populações de áreas de menor densidade urbana enfrentam mais barreiras de acesso ao tratamento oncológico especializado.
“Sabemos que nem todas as cidades podem e devem oferecer tratamento de alta complexidade, mas precisamos olhar para essa distribuição de profissionais e pensar em como construir redes regionalizadas que aumentem o acesso dos pacientes aos cuidados contra o câncer”, analisa a presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira.
Para o presidente da AMB, Dr. César Eduardo Fernandes, o momento é de analisar os dados para pensar o futuro da medicina. “Em um período marcado por transformações significativas, caracterizado pelo notável crescimento no número de médicos e pela abertura substancial de cursos de medicina, torna-se premente a análise criteriosa da distribuição e da formação dos médicos em todo o país”, diz. “Sejam eles especialistas ou generalistas, para a preservação da qualidade da assistência à saúde prestada à população e para o embasamento de políticas públicas eficazes no setor”, completa.
Nesse sentido, o coordenador do estudo e especialista do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dr. Mário Scheffer, aponta que, em diversos países, publicações como a demografia médica têm avançado como campo de pesquisa e método para planejamento da força de trabalho em saúde, o que exige esforços contínuos de produção científica.
“A intensidade das mudanças em curso pede coerência e complementaridade de ações, papéis e responsabilidades, requer sinergias sustentáveis e produtivas entre as partes interessadas”, analisa o pesquisador. “É preciso olhar para o futuro, à luz das decisões do passado, buscando executar políticas públicas baseadas em evidências, capazes de impactar positivamente a saúde da população e a consolidação do Sistema Único de Saúde”, finaliza Dr. Scheffer.
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SBOC atualiza mecanismo para priorizar a incorporação de medicamentos contra o câncer
A SBOC atualizou, em agosto, o seu Índice de Priorização de Medicamentos para Incorporação no SUS e Saúde Suplementar, documento criado para auxiliar na análise e incorporação de terapias oncológicas.
A atualização visa aprimorar a clareza e a aplicabilidade do Índice, após um semestre de utilização, reforçando sua função como ferramenta técnica para apoiar a tomada de decisões na saúde. As modificações, segundo a presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira, refletem o compromisso da entidade com a transparência e a excelência técnica, buscando contribuir para um acesso mais equitativo e eficiente para pacientes com câncer no Brasil.
Os principais ajustes foram realizados com o objetivo de refinar o processo de avaliação dos medicamentos, tornando a metodologia ainda mais justa e alinhada às especificidades do cenário oncológico. “Retiramos a variável que considerava a carga global da doença, pois ela penalizava os tumores raros”, explica Dra. Angélica. “Além disso, essa variável não levava em conta que tratamentos genéticos podem dar características raras a tumores que são, na verdade, comuns, o que tornava a análise menos precisa”, completa.
Outra mudança significativa foi o ajuste no peso do parâmetro de custo-efetividade. Segundo o coordenador do documento, Dr. André Sasse, essa alteração foi necessária porque a saúde suplementar não possui parâmetros definidos, e o SUS apresenta situações específicas que precisam ser consideradas.
Por fim, o Índice agora oferece um detalhamento maior das possíveis ações da SBOC. “A nova versão deixa mais claro e previsível quais serão as nossas ações com base na pontuação de cada tecnologia analisada, garantindo mais transparência ao processo”, adiciona Dr. Sasse, que também é membro da Diretoria da SBOC.
O documento se baseia nestes critérios principais para priorizar os medicamentos: benefício clínico, observância à lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS), necessidade clínica não atendida, parâmetros de custo-efetividade e impacto orçamentário.
Além da Dra. Angélica Nogueira e do Dr. André Sasse, o Índice tem como autores a presidente de honra da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho, o coordenador do Comitê de Políticas Públicas, Dr. Nelson Teich, o assessor jurídico, Tiago Farina Matos, e a diretora executiva da SBOC, Dra. Marisa Madi.
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SBOC intensifica ações de ESG
Novas iniciativas de responsabilidade ambiental e social se juntam ao moderno modelo de governança da instituição
O XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica foi um marco no processo de construção do conceito ESG na SBOC. Sigla em inglês relacionada a ações nas áreas de meio ambiente, responsabilidade social e governança, esse tipo de conduta está alinhada aos objetivos que deram origem a esta Sociedade, mas passou a ganhar mais força nos últimos anos.
“É muito representativo que a primeira arena do Congresso SBOC 2023 tenha sido sobre ESG”, disse o Presidente em Exercício da SBOC naquele ano, Dr. Carlos Gil Ferreira. Durante o evento cujo lema foi acesso e equidade, ele lembrou que o desenvolvimento da área de ESG na SBOC teve como uma das primeiras grandes ações a modernização do estatuto da entidade. “Desde 2022, a gestão da SBOC passou a contar com um modelo mais participativo e que permite a continuidade dos programas e projetos ano a ano”, disse.
A função de Presidente da SBOC, que antes era exercida pelo período de dois anos passou a ser de três anos, mas com atribuições distintas: Presidente Eleito, que inicia na Diretoria um ano antes de ocupar a Presidência e assim se familiariza com todas as iniciativas da instituição; Presidente em Exercício, que lidera a instituição ao longo de um ano; e Presidente de Honra, que é o Presidente da última gestão, mas que se mantém na diretoria por mais um ano.
“De certa forma, a SBOC acaba contando com a colaboração e a experiência de três Presidentes”, avalia Dr. Carlos Gil, que foi o primeiro Presidente a ocupar o cargo nesse novo modelo de gestão. “O mesmo vale para os membros da Diretoria, que ficam na função por três anos e interagem com gestões e Presidentes distintos”, acrescenta.
Responsabilidades socioambientais
Em um contexto no qual desigualdades sociais no acesso aos cuidados oncológicos são constantes, a SBOC tem buscado contribuir para que mais pacientes desfrutem dos meios de prevenção, diagnóstico e tratamento contra o câncer. Apenas em 2023, por exemplo, os associados da entidade dedicaram, de forma voluntária, mais de 230 horas em audiências públicas, reuniões científicas, encontros e produções de conteúdos informativos voltados à tomada de decisões mais equânimes no sistema de saúde brasileiro.
A SBOC, que já tinha criado em 2020 o Comitê de Lideranças Femininas, criou em 2023 os Comitê de Políticas Públicas, SUS e Práticas Independentes, Jovens Oncologistas e Diversidade. “Esses novos comitês exemplificam a nossa preocupação com a equidade no acesso e também com a representatividade associativa”, comenta a diretora-executiva da SBOC, Dra. Marisa Madi. “O Comitê de Diversidade, em especial, tem chamado a atenção para reflexões importantes sobre a disparidade racial no acesso e no atendimento oncológico, assim como para questões voltadas à orientação sexual e à identidade de gênero nas ações de prevenção e tratamento do câncer”, acrescentou.
Diretora-executiva da SBOC, Dra. Marisa Madi registra seu apoio às
ONGs “apadrinhadas” durante o Congresso.
No Congresso SBOC 2023, duas organizações não governamentais da cidade do Rio de Janeiro, a Casa de Apoio à Criança com Câncer de Santa Teresa e a Favela Compassiva, que presta cuidados paliativos a moradores das comunidades da Rocinha e Vidigal, foram apadrinhadas. Elas puderam divulgar seus trabalhos e angariar doações dos congressistas.
Ainda durante o evento, a SBOC estabeleceu que, pelo menos, 25% das vagas temporárias e destinadas à execução dos três dias de Congresso fossem inclusivas, ou seja, preenchidas por pessoas afrodescendentes, idosas, LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queer) e com necessidades especiais.
Como pilar ambiental, o XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica foi o primeiro da instituição a ter seus gases de efeito estufa neutralizados. Para isso, a SBOC fechou uma parceria com a Carbon Free Brasil que, a partir de uma metodologia usada internacionalmente, estimou a emissão de 100 toneladas de carbono em decorrência do consumo médio de energia elétrica, geração de efluentes e resíduos sólidos, assim como o deslocamento de staffs, palestrantes, e demais participantes do evento.
Com base nesse cálculo, a SBOC comprou um crédito de carbono que será destinado às pequenas fábricas de cerâmicas Argibem, São Sebastião e Vulcão, localizadas na Barra do Piraí – região Sul do estado do Rio de Janeiro. Elas utilizavam óleo pesado como combustível para queima das peças, mas desde 2006, com apoio de créditos de carbono, passaram a usar biomassa renovável, que é uma fonte limpa de energia.
Em parceria com a consultoria Gestão Origami, a SBOC está também desenvolvendo uma matriz de materialidade em ESG, ou seja, uma análise para identificar e priorizar as ações mais importantes e que estejam dentro da área de atuação da instituição no que se refere a questões ambientais, sociais e de governança corporativa. A instituição, seguindo tendências nacionais e internacionais, também se prepara para elaborar seu primeiro Relatório ESG, cuja previsão de publicação é o primeiro semestre deste ano. O objetivo é reportar, de forma clara e transparente, os principais impactos socioambientais de curto, médio e longo prazo relacionados à atuação desta Sociedade.
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Censo inédito a caminho
Além de discutir as principais novidades científicas da área, o XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá de 16 a 18 de novembro na cidade do Rio de Janeiro, apresentará ao público os resultados do primeiro Censo SBOC da Oncologia Clínica. Realizado pelo Instituto DataFolha, o estudo já terminou a fase de coleta de dados e contou com a participação de 761 oncologistas clínicos associados com atuação em mais de 200 municípios de todas as regiões do país.
A partir das informações respondidas por eles, serão conhecidos a faixa etária média do oncologista clínico brasileiro, perfil acadêmico, se possuem titulação, faixa salarial, onde e como atuam, perfil de pacientes atendidos, participação em pesquisas clínicas, epidemiológicas ou translacionais.
Outros aspectos abordados pelo Censo são nível de satisfação, estresse e os principais desafios da prática oncológica no Brasil; percepção que eles têm acerca da adesão da população a programas de prevenção e tratamento, o cenário dos diagnósticos tardios, o acesso a novos medicamentos, subfinanciamento e/ou gestão ineficiente nos sistemas de saúde.
Com essa grande pesquisa, iremos conhecer com mais profundidade quem são os oncologistas clínicos que atuam diariamente nos sistemas público e privado do país e quais são suas maiores dificuldades”, conta presidente da SBOC, Dr. Carlos Gil Ferreira. “As informações obtidas serão fundamentais para o planejamento das ações da SBOC e até mesmo para a definição de diferentes políticas públicas na área oncológica”, acrescenta.
Membro da Diretoria da SBOC, Dra. Clarissa Baldotto explica que, a partir do Censo, também será possível entender a necessidade e adequação de vagas nos Programas de Residência Médica em Oncologia Clínica.
“Esperamos que essa pesquisa nos ajude a entender melhor o perfil de nossos associados para criarmos mais programas de apoio, educação e participação que tornem a SBOC cada vez mais uma referência importante para os oncologistas. Essa é a melhor forma de estimular o interesse dos residentes”, enfatiza.
O Censo SBOC da Oncologia Clínica também irá coletar informações de oncologistas clínicos não associados a entidade. Segundo o estudo Demografia Médica no Brasil 2023, existem 4.182 pessoas registradas como oncologistas clínicos no Brasil, embora nem todos atuem na área. Aproximadamente 13% dos oncologistas clínicos têm registros também em outras especialidades médicas.
Veja na animação ao lado mais dados sobre a Demografia Médica no Brasil 2023.
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