SBOC REVIEW
[▶ Comentário em vídeo] Estratégia perioperatória com agente anti-PD-1 no tratamento do Câncer de pulmão de células não pequenas ressecável (estudo CheckMate 77T)
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Resumo do artigo:
O tratamento neoadjuvante com nivolumabe em combinação com quimioterapia demonstrou melhorar significativamente os desfechos em pacientes com carcinoma de pulmão de células não pequenas (CPCNP) ressecável. Este estudo de fase 3 teve como objetivo avaliar se o tratamento perioperatório, que inclui nivolumabe e quimioterapia neoadjuvante seguido de cirurgia e terapia adjuvante, poderia proporcionar benefícios clínicos adicionais.
O ensaio clínico randomizado, duplo-cego, incluiu adultos com CPCNP ressecável estágio IIA a IIIB (AJCC 8ª edição). Um total de 358 pacientes foram incluídos no estudo, com randomização 1:1, para receber nivolumabe neoadjuvante mais quimioterapia ou quimioterapia neoadjuvante mais placebo a cada 3 semanas por 4 ciclos, seguido de cirurgia e nivolumabe adjuvante ou placebo a cada 4 semanas por 1 ano. Os pacientes foram estratificados por estágio da doença, expressão de PD-L1 e tipo histológico. O desfecho primário foi a sobrevida livre de eventos (SLE) que incluiu progressão da doença, recidiva, cancelamento de cirurgia ou morte, enquanto os desfechos secundários incluíram resposta patológica completa (RPC), resposta patológica maior, sobrevida global e segurança.
Os resultados do estudo, com um seguimento mediano de 25,4 meses, indicaram que a SLE em 18 meses foi 70,2% no grupo tratado com nivolumabe contra 50,0% no grupo tratado com quimioterapia (HR 0,58; IC 97,36%, 0,42 a 0,81; P<0,001). A resposta patológica completa ocorreu em 25,3% dos pacientes no grupo nivolumabe e em 4,7% no grupo quimioterapia (odds ratio [OR] 6,64; IC 95%, 3,40 a 12,97), enquanto a resposta patológica maior foi observada em 35,4% e 12,1%, respectivamente (OR 4,01; IC 95%, 2,48 a 6,49).
Os desfechos cirúrgicos foram semelhantes, indicando que a extensão e a eficácia da ressecção não foram comprometidas pela adição de imunoterapia. Adicionalmente, o tempo mediano até a deterioração dos sintomas foi superior no grupo da combinação (11,0 versus 5,6 meses), sugerindo um controle superior dos sintomas.
Eventos adversos relacionados ao tratamento de grau 3 ou 4 ocorreram em 32,5% dos pacientes no grupo nivolumabe e em 25,2% no grupo controle. A maior parte desses eventos ocorreram durante a fase neoadjuvante do tratamento em ambos os braços. Eventos levando a descontinuação de tratamento foram mais frequentes no braço do nivolumabe (19,3%) versus (7,4%) no braço controle. Os eventos imunomediados foram incomuns, sendo o hipotireoidismo o mais frequente. Nenhum novo evento adverso foi encontrado nesse estudo em relação aos já reportados anteriormente com essa combinação.
Em conclusão, o tratamento perioperatório com nivolumabe associado a quimioterapia resultou em uma SLE significativamente maior em comparação com a quimioterapia isolada em pacientes com CPCNP ressecável, sem novos eventos adversos. Estes achados sugerem que a combinação no tratamento perioperatório pode oferecer uma abordagem terapêutica mais eficaz para pacientes com CPCNP ressecável, reduzindo a probabilidade de recidiva da doença, sem comprometer os desfechos cirúrgicos, e proporcionando um controle superior dos sintomas relacionados à doença.
Comentário do avaliador científico:
O estudo CheckMate 77T apresenta uma nova opção terapêutica para pacientes com CPCNP ressecável. O ensaio demonstrou um balanceamento adequado entre os braços do estudo, mas destacou-se a pouca representatividade de pacientes latino-americanos, limitando a generalização dos resultados para essas populações.
Os desfechos do estudo corroboram o papel crucial da combinação de tratamentos perioperatórios para CPCNP ressecável, demonstrando uma maior sobrevida livre de eventos (SLE). Os desfechos cirúrgicos foram semelhantes entre os grupos.
Observou-se um benefício maior em pacientes com PD-L1 ≥50% e em estágios mais avançado. Além disso, a resposta patológica completa (RPC) correlacionou-se com a SLE no grupo tratado com nivolumabe, destacando a importância de RPC como indicador prognóstico. Esses achados ressaltam a necessidade de identificar biomarcadores preditivos de maior benefício na neoadjuvância. A personalização do tratamento com base nesses biomarcadores pode otimizar os resultados terapêuticos e minimizar os efeitos adversos desnecessários.
Por fim, este estudo reforça a eficácia da abordagem perioperatória com nivolumabe, oferecendo uma estratégia terapêutica promissora para pacientes com CPCNP ressecável.
Citação:
Cascone T, Awad MM, Spicer JD, He J, Lu S, Sepesi B, et al.; CheckMate 77T Investigators. Perioperative Nivolumab in Resectable Lung Cancer. N Engl J Med. 2024;390:1756–69. DOI: 10.1056/NEJMoa2311926
Avaliador científico:
Dr. Cassio Murilo Trovo Hidalgo Filho
Oncologista Clínico assistente no Hospital Sírio-Libanês – São Paulo/SP
Doutorando em Oncologia pela Universidade de São Paulo – São Paulo/SP
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – São Paulo/SP.
Instagram: @cmtrovohidalgo
Cidade de atuação: São Paulo/SP
Análise realizada em colaboração com o oncologista sênior Dr. Gilberto de Castro Junior.