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SBOC REVIEW

A biópsia líquida entra na clínica – questões de implementação e desafios futuros

Resumo do artigo:

Em comparação as técnicas tradicionais, a biópsia líquida (BL) é menos invasiva e as amostras são obtidas mais facilmente. A técnica permite avaliar: células tumorais circulantes (CTC), DNA tumoral circulante (ctDNA), fração de células livres de DNA derivadas do tumor (cfDNA), RNAs não codificantes, microRNAs, entre outros.

Testes de biópsia líquida multigênico por NGS como Archer Reveal ctDNA 28 FoundationOne Liquid CDx, Guardant360 CDx, Inivata InVision, MSK-ACCESS, OncoDNA OncoSTRAT & GO (respectivamente, 28, 300, 54-73, 36-37, 129 e 27 genes) têm a vantagem de permitir uma genotipagem ampla e informativa do câncer, com dados de concordância com amostra de tecido tumoral, mas não entre os ensaios.

Como em ensaios de gene único, um teste negativo em painel multigênico deve ser complementado com amostra tecidual. Em pacientes sem lesões metastáticas acessíveis para biópsia, o cfDNA plasmático é fonte confiável de material para identificação de biomarcadores. Em pacientes com lesões biopsiáveis, a genotipagem do plasma deve ser priorizada pela facilidade e conforto.

Mecanismos de resistência às terapias-alvo podem ser monitorizados por ctDNA do plasma. Quando desconhecidos, são indicados painéis gênicos ampliados, e se conhecidos, estudo de mutações específicas ou painéis simplificados.

Em pacientes com câncer de próstata, o número de CTC (CELLSEARCH) pode ser usado como medida inicial da resposta ao tratamento. É considerado fator prognóstico em pacientes com câncer de mama, próstata e colorretal. Já no cenário de recidiva tumoral, possui baixa sensibilidade e especificidade.

Em pacientes com câncer de mama em estágio inicial, quatro estudos retrospectivos mostram um tempo médio da detecção do ctDNA à recidiva radiológica de até 11 meses.

Estratégias de BL para o diagnóstico do câncer estão em desenvolvimento. As abordagens iniciais foram baseadas na detecção de mutações driver no cfDNA do plasma, que pode ser dificultada pela presença de mutações relacionadas à hematopoiese clonal de potencial indeterminado e aberrações genômicas específicas.

Exemplos bem-sucedidos da integração da BL à prática clínica são ensaios multigênicos usados na decisão de tratamento, como Oncotype Dx e FoundationOne CDx (F1CDx). A descentralização dos ensaios ctDNA avaliando

A inteligência artificial (IA) utilizada nos ensaios de BL facilitará sua integração à prática clínica: “machine learning” para a detecção e caracterização das CTC, análise de ctDNA para detecção e localização de câncer, análises multiômicas integrativas e integração com outros dados clínico-genômicos.

 

Liquid biopsy enters the clinic — implementation issues and future challenges. Ignatiadis, M., Sledge, G.W. & Jeffrey, S.S. Nat Rev Clin Oncol (2021). https://doi.org/10.1038/s41571-020-00457-x.
A biópsia líquida entra na clínica - questões de implementação e desafios futuros.

 

Comentário do avaliador científico:

A biópsia líquida já é uma realidade no nosso dia a dia, entretanto, ainda utilizamos muito pouco do seu vasto potencial. Este artigo de revisão veio mostrar onde estamos e aonde podemos chegar com esta ferramenta. Detecção de mutações driver, mecanismo de resistência e marcadores de recidiva precoce já são uma realidade. A integração da biópsia líquida com a inteligência artificial e exames de imagem, o diagnóstico precoce do câncer e a otimização do uso da imunoterapia são exemplos de lacunas sendo exploradas.

Entretanto, não podemos nos esquecer que toda esta tecnologia agregada tem um custo muito alto, às vezes de difícil acesso fora da realidade da pesquisa clínica. Toda tecnologia nova tende a ter seu valor reduzido com o tempo. Contudo, frente a todas estas vantagens oferecidas pela biópsia líquida, temos tempo de esperar? Assim, em paralelo à implantação da biópsia líquida como ferramenta terapêutica, devemos também fomentar maneiras de otimizar seu uso na prática clínica e financiamento.

 

Avaliador científico
Dr. Antonio Carlos Cavalcante Godoy
Oncologista clínico e Doutor pela FMRP - USP
Diretor Técnico do Instituto do Câncer Brasil