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SBOC REVIEW

A composição da microbiota induzida pela dieta apoia a associação entre desfechos no tratamento com imunoterapia para câncer e o microbioma intestinal

Resumo do artigo:

O microbioma, que corresponde à microbiota de um hospedeiro e o conjunto de seus genomas, tem sido estudado em relação à sua influência na imunidade do hospedeiro e, mais recentemente, a respostas ao tratamento oncológico. Estudos anteriores demonstram um papel do microbioma nas respostas à terapia com inibidores de checkpoint imunológicos (ICIs) e tentativas de modular a microbiota intestinal têm sido avaliadas, a exemplo do transplante fecal e uso de probióticos.

Nesse estudo, os autores buscaram avaliar a associação entre a microbiota intestinal e resposta à imunoterapia, além da ocorrência de EAirs, em uma coorte de pacientes tratados com ICIs em combinação para tratamento neoadjuvante de melanoma. De forma prospectiva, foram analisadas as assinaturas basais da microbiota, através de coleta de fezes, de 103 pacientes com melanoma ressecado de alto risco, tratados com ICIs na Austrália e Holanda. Além disso, foi realizada uma análise integrada com 115 pacientes portadores de melanoma tratados com ICIs nos EUA, com o intuito de avaliar/validar a discordância geográfica das assinaturas. Os pacientes foram classificados como respondedores (R) se apresentassem resposta patológica completa, quase completa ou parcial e não-respondedores (NR), em caso de ausência de resposta patológica.

Os autores observaram que pacientes NR que desenvolveram EAirs severos (principalmente colite) apresentavam menor diversidade basal do microbioma. A carga bacteriana total nas fezes também foi reduzida nos NR. A composição do microbioma também foi analisada e observou-se uma sobreposição de micróbios relacionados à resposta e àqueles relacionados à proteção contra EAirs: foi observada uma redução na abundância do grupo taxonômico Ruminococcaceae em NR, que também apresentaram EAirs severos, e uma redução da abundância de metanogênicos nos pacientes que desenvolveram EAirs severos. Os metanogênicos são importantes para manter a diversidade do ecossistema do trato gastrointestinal.

Além disso, foi realizada uma avaliação da dieta em um subgrupo do estudo, sendo relatado um consumo subótimo de nutrientes, com baixa ingesta de fibras e alto consumo de açúcar e gorduras saturadas. Houve um consumo significativamente menor de ômega 3 entre NR e entre os que tiveram eventos adversos. A diversidade do microbioma foi relacionada mais ao consumo de ômega 3 do que de fibras e o consumo de fibras se correlacionou positivamente com a abundância de Ruminococcaceae. Outro achado interessante do trabalho, foi que o potencial metabólico do microbioma dos pacientes era menor entre os que apresentaram eventos adversos, com a redução da produção de metabólitos que influenciam na homeostase intestinal.

Por último, as análises comparativas entre as populações da Austrália, Holanda e EUA demonstraram uma diferença na distribuição das comunidades microbianas de baixa ou alta diversidade entre os grupos. A ingesta nutricional provavelmente contribuiu para esse achado, sendo que o consumo de fibras estava mais relacionado à uma comunidade em relação às outras.

 

 

Simpson, R.C., Shanahan, E.R., Batten, M. et al. Diet-driven microbial ecology underpins associations between cancer immunotherapy outcomes and the gut microbiome. Nat Med 28, 2344–2352 (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-01965-2.
A composição da microbiota induzida pela dieta apoia a associação entre desfechos no tratamento com imunoterapia para câncer e o microbioma intestinal.

 

Comentário da avaliadora científica:

O microbioma intestinal tem sido destaque em publicações recentes devido a dados mostrando, dentre outros, a importância da diversidade do microbioma para desfechos em tratamentos oncológicos com ICIs. Alguns trabalhos mostram que a depleção ou redução da diversidade do microbioma pelo uso de antibióticos, durante o uso de imunoterapia, reduz a resposta a esse tratamento.

Nessa publicação, os autores trazem dados que corroboram achados anteriores da literatura relacionando a baixa diversidade do microbioma intestinal a menores taxas de resposta à imunoterapia. De forma interessante, o estudo associa padrões dietéticos à composição de um microbioma mais “saudável”, que mantém a homeostase e integridade intestinais e que também protege o paciente de EAirs mais severos. Vale ressaltar também, que o achado da variação de assinaturas basais de resposta à imunoterapia e ocorrência de EAirs deve-se à composição ecológica distinta em países diferentes, talvez mais pelo padrão dietético do que por questões geográficas em si. Esses dados suscitam uma conclusão importante: cautela em relação a generalizar os achados de estudos envolvendo microbioma para todas as populações.

Por fim, o microbioma intestinal ainda é cenário de pesquisa básica e clínica no cenário da oncologia, mas com grande potencial a ser explorado. Estudos futuros podem explorar a manipulação dietética de acordo com a assinatura do microbioma específica de uma população, levando-se em conta seus hábitos dietéticos prévios.

 

Avaliadora científica:

Dra. Luiza Nardin Weis
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Mestre em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
Oncologista no grupo Oncoclínicas – DF e no Hospital de Base do Distrito Federal