Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

A perspectiva da IARC sobre o rastreamento do câncer cervical

Resumo do artigo:

Nesta publicação, os autores descrevem a revisão realização por 27 cientistas de 20 diferentes países, com o objetivo de reavaliar os dados sobre tecnologias de rastreamento do câncer cervical. Foram definidos diferentes níveis de força de evidência para as diferentes metodologias empregadas. As do grupo A são aquelas com estabelecida capacidade de reduzir incidência e mortalidade pela doença, as grupo B são aquelas com possível capacidade em reduzir tais desfechos e, as do grupo C não são classificáveis como capaz de reduzir os desfechos.

Foram avaliados dados sobre eficácia e efetividade do rastreamento com diferentes metodologias tais como a citologia convencional (Papanicolau), citologia em meio líquido, inspeção visual com ácido acético e a pesquisa direta do HPV (ácido nucléico viral – DNA ou mRNA), no que tange o impacto em incidência e mortalidade do câncer cervical.

A citologia convencional foi introduzida no século XX, respaldada por estudos de coorte e caso-controle, sem avaliação por estudos randomizados e controlados. Posteriormente, a bagagem de dados foi encorpada, ampliando-se os estudos populacionais observacionais e acrescentados dados de estudos ecológicos e randomizados contemporâneos. Baseado nisso, essa metodologia foi classificada no grupo A, ainda que se reconheça a subjetividade do teste e, portanto a necessidade de treinamento e sistematização para garantir o controle de qualidade. Comparada a citologia convencional, a citologia em meio líquido tem sensibilidade igual ou maior em detectar lesões NIC 2 ou 3; igual ou menor especificidade e valor preditivo positivo; e uma menor proporção de avaliação insatisfatória nas amostras. Foi também classificada como grupo A.

A inspeção direta com ácido acético (VIA) é capaz de reduzir mortalidade da doença por promover detecção e tratamento satisfatório de lesões pré-malignas e promover redução do estágio da lesão (Grupo A). Entretanto, o seu efeito em reduzir a incidência é menos claro e, nesse aspecto, foi classificada no grupo B. A pesquisa direta do HPV se mostrou efetiva em reduzir desfechos, tanto em comparação a ausência de intervenção, como em comparação com a citologia convencional e VIA. Essa metodologia é mais sensível em detectar lesões NIC 2 com importante redução na incidência de lesões invasivas em relação a citologia convencional. Além disso, após um resultado negativo, a chance de NIC 3 posterior é menor com o uso dessa ferramenta. Foi classificada no grupo A e, de forma interessante, a adição de um segundo teste (co-teste) não aumentou a sensibilidade da pesquisa direta do HPV.

Importante pontuar que todos os métodos analisados podem causar desconforto ou dor. O rastreio pode agregar ansiedade desde a realização da coleta até eventual diagnóstico e tratamento. Testes com altas taxas de falso positivo ou resultado insatisfatório estão associados a incremento de custo financeiro e pessoal/emocional para as pacientes, já que requerem repetição de exames ou exames adicionais (colposcopia, por exemplo).

O grupo conclui que o benefício da pesquisa direta de HPV ou da citologia superam os riscos nas mulheres acima de 30 anos. Essa conclusão é menos sólida na faixa etária mais jovem, assim como com o uso do VIA e demais métodos.

 

Bouvard V, et al. The IARC Perspective on Cervical Cancer Screening. N Engl J Med. 2021 Nov; 385(20):1908-1918. doi: 10.1056/NEJMsr2030640.
A perspectiva da IARC sobre o rastreamento do câncer cervical.

 

Comentário da avaliadora científica:

A estratégia de combate ao câncer cervical desenvolvida pela OMS propõe 90% de cobertura vacinal em meninas, 70% de cobertura de programa de rastreamento e 90% de acesso ao tratamento adequado de lesões cancerígenas e pré-cancerígenas, até o ano de 2030 (90-70-90).

A iniciativa atual faz uma revisão dos métodos de rastreamento da doença, considerando que a implementação ideal dependerá não só da performance do método, como também as barreiras para implementação.

A pesquisa direta do HPV é mais efetiva, se associa a menores taxas de exames insatisfatórios e permite maior espaçamento entre os testes, além de possibilitar a auto-coleta, o que minimiza o desconforto e ansiedade das mulheres.

Pelo exposto, a pesquisa direta do HPV se mostra como o método de escolha para o rastreamento do câncer cervical. Importante considerar que o programa de rastreamento deve ser uma abordagem ampla e sequencial, incluindo também a estratégia de triagem (colposcopia ou genotipatem para HPV 16/18, por exemplo), seguimento adequado e tratamento a contento de acordo com a necessidade dos achados.

Em conjunto com a adequada cobertura vacinal e o tratamento de lesões iniciais, o programa de rastreamento adequado pode levar a eliminação do câncer cervical como problema de saúde pública mundial.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carla Rameri de Azevedo
Oncologista clínica pelo AC Camargo Cancer Center
Doutorado pelo Instituto Nacional de câncer – INCA
Oncologista na Rede D´Or - Recife
Membro do Grupo EVA