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SBOC REVIEW

Abordagens baseadas em evidências para o manejo dos efeitos colaterais da terapia endócrina adjuvante em pacientes com câncer de mama

Resumo do artigo:

O artigo abordou o manejo dos cinco principais efeitos colaterais da endocrinoterapia no câncer de mama, devido sua alta prevalência e impacto negativo.

1) Fogachos

A principal estratégia farmacológica não hormonal é o uso de antidepressivos. A venlafaxina é a medicação mais estudada, com redução na incidência de fogachos de até 60%. A posologia varia de 37,5 a 150 mg/dia. Doses mais altas se mostraram mais efetivas, porém com maior toxicidade associada. Outras opções como duloxetina, escitalopram, paroxetina e sertralina também se mostraram eficazes no controle dos fogachos, porém é importante estar atento a possíveis interações medicamentosas com tamoxifeno.

O uso de anticonvulsivantes (gabapentina e pregabalina) é uma alternativa, porém sem superioridade e pior tolerabilidade em relação a venlafaxina. Um trabalho recente mostrou benefício do uso do anticolinérgico oxibutinina na dose de 5 a 10 mg/dia comparado ao placebo, porém podendo agregar novos efeitos colaterais dessa classe medicamentosa, como boca seca, retenção urinária, dor abdominal e alterações cognitivas.

O uso de progestágenos orais, apesar de efetivo, torna-se temeroso devido ao aumento do risco de recorrência do câncer de mama.

2) Disfunção sexual

A primeira estratégia deve ser baseada em medidas não hormonais, pela maior segurança oncológica, como o uso de compressas de solução de lidocaína 4% antes da relação sexual e lubrificantes vaginais a base de água, policarbofila e ácido hialurônico.

A terapia hormonal tópica vaginal em baixa dose e de forma temporária pode ser considerada nos casos refratários, discutindo-se com as pacientes os potenciais riscos e incertezas devido aos dados serem oriundos de estudos pequenos e com seguimento curto.

Existe também uma controvérsia em relação ao uso de laser vaginal. Apesar de alguns dados de benefício principalmente relacionado a atrofia vaginal, não temos resultados de desfechos e segurança em ensaios randomizados e com seguimento longo.

3) Ganho de peso

A obesidade afeta a paciente em diversos aspectos: piora o prognóstico do câncer de mama, afeta a eficácia da endocrinoterapia, além de se fator de risco para outras comorbidades.

A melhor intervenção para manejo do sobrepeso é o acompanhamento multidisciplinar, incorporando a atividade física, dieta adequada e terapia cognitiva comportamental.

4) Sintomas musculoesqueléticos

Apesar de ser um efeito colateral de classe, a mudança de um inibidor de aromatase (IA) para outro pode auxiliar na redução da incidência desse sintoma. Naquelas com sintomas persistentes, a duloxetina se mostrou eficaz.

5) Fadiga

A estratégia mais estudada e que se mostrou eficaz é a atividade física regular, sendo os dados mais robustos para exercício aeróbico e treinamento de força muscular.

Ademais, é de suma importância o uso de estratégias não farmacológicas. Além de efetivas em diversos sintomas simultaneamente, apresentam baixo perfil de toxicidade.

A terapia cognitiva comportamental foi bastante eficaz no manejo dos efeitos colaterais descritos acima. A realização de atividade física regular trouxe impacto positivo no ganho de peso, no alívio dos sintomas musculoesqueléticos e na fadiga. A acupuntura, além de melhorar os sintomas articulares, também foi eficaz em aliviar fogachos e fadiga. Atividades como ioga e meditação auxiliaram no manejo dos fogachos, distúrbios musculares e articulares, fadiga além de ser um adjuvante na perda de peso. Há dados para hipnose na melhora de sintomas como fogachos, ansiedade, depressão e distúrbio do sono.

 

Franzoi MA, Agostinetto E, Perachino M, et al. Evidence-based approaches for the management of side-effects of adjuvant endocrine therapy in patients with breast cancer. Lancet Oncol. 2021 Jul; 22:e303-13. doi:10.1016/S1470-2045(20)30666-5.
Abordagens baseadas em evidências para o manejo dos efeitos colaterais da terapia endócrina adjuvante em pacientes com câncer de mama.

 

Comentário do avaliador científico:

O uso da endocrinoterapia é fundamental no tratamento do câncer de mama receptor hormonal positivo, seja no cenário inicial ou avançado. Associa-se a diversos efeitos colaterais, que apesar de baixo grau na maioria dos casos, são frequentemente coexistentes e persistentes. Com o escalonamento do tratamento oncológico, como o uso da hormonioterapia adjuvante estendida, uso de supressão ovariana e a associação de novas drogas para resistência endócrina (inibidores de ciclina e PI3K), é esperado que a toxicidade seja ainda mais pujante.

É preocupante a evidência crescente de mulheres, principalmente na pré-menopausa, com baixa aderência a terapia endócrina, muitas vezes motivadas pela toxicidade. O estudo francês CANTO recrutou 1.177 pacientes na pré-menopausa para uma avaliação prospectiva de adesão ao tamoxifeno. Após um ano, 16% não possuía níveis sérico adequados de tamoxifeno. Dentre estas, 55% relatavam o uso regular da medicação. Este dado reforça a necessidade da busca proativa da toxicidade e de intervenção rápida e eficaz, com intuito de reduzir abandono de tratamento.

A multidisciplinaridade, uma visão integral e individualizada da paciente, é indispensável para o manejo mais efetivo dos efeitos colaterais, melhorando a qualidade de vida, aderência ao tratamento e, consequentemente, os desfechos clínicos.

 

Avaliador científico:

Dr. Cristiano Augusto Andrade de Resende
Oncologista clínico pela Fundação Benjamin Guimarães – Hospital da Baleia, Belo Horizonte
Oncologista clínico e Coordenador do Serviço de Oncologia Mamária do Instituto Oncovida – Grupo Oncoclínicas DF