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SBOC REVIEW

Acetato de abiraterona e prednisolona com ou sem enzalutamida para câncer de próstata não-metastático de alto risco: uma meta-análise dos resultados de dois estudos randomizados pertencentes a plataforma STAMPEDE

Resumo do artigo:

Homens com câncer de próstata não-metastático de alto risco são normalmente tratados com radioterapia associada a 3 anos de terapia de privação androgênica (TPA). O presente trabalho mostra os resultados de uma meta-análise de dois estudos randomizados pertencentes a uma plataforma de estudos multi-braços. Ambos os estudos testaram a associação de abiraterona e prednisolona à TPA, sendo que no segundo estudo era associada também enzalutamida ao regime terapêutico.

Os estudos randomizados recrutaram pacientes, de 113 centros no Reino Unido e na Suíça, que tinham câncer de próstata não-metastático de alto risco ou recidiva (de câncer de próstata) com alto risco de progressão. Radioterapia local era mandatória para os pacientes sem linfonodos acometidos e recomendada para aqueles com doença linfonodal. Em ambos os estudos, os pacientes foram randomizados para receber TPA isolada (braço controle) ou TPA associada a abiraterona (1 g/dia) com prednisolona 5 mg/dia (braço combinação). No segundo estudo os pacientes do braço combinação recebiam também enzalutamida (160 mg/dia). Os braços controles não eram compartilhados entre os estudos. Nos braços controle a TPA foi oferecida por 3 anos, enquanto nos braços combinação o tratamento teve duração de 2 anos, exceto nos casos em que radioterapia não foi oferecida, nos quais o tratamento (independentemente do braço alocado) poderia ser mantido até progressão de doença. Nesta análise primária, foi realizada uma meta-análise dos eventos ocorridos em ambos os estudos. O desfecho primário foi a sobrevida livre de metástases (SLM) e os desfechos secundários foram sobrevida global (SG), sobrevida câncer-específica (SCE), sobrevida livre de falha bioquímica (SLFB), sobrevida livre de progressão (SLP), toxicidade e eventos adversos.

Os estudos recrutaram 1974 pacientes no total. O primeiro estudo randomizou 455 pacientes para o braço controle e 459 para o braço combinação, enquanto o segundo estudo alocou 533 em seu braço controle e 527 no braço combinação. A idade mediana dos pacientes foi de 68 anos, e o PSA mediano de 34 ng/mL. Radioterapia foi ao menos programada para 85% dos pacientes recrutados. Após um seguimento mediano de 72 meses, ocorreram 180 eventos de SLM nos braços combinação e 306 eventos nos braços controle. A SLM foi significativamente maior nos braços combinação do que nos controle (HR 0,53 IC 0,44-0,64; medianas não atingidas). A SLM em 6 anos foi de 82% nos braços combinação contra 69% nos braços controle. Não houve evidência de diferença entre a SLM do braço combinação com abiraterona apenas comparada a do braço com abiraterona associada a enzalutamida (HR para interação 1,02; 0,7-1,5). A SG (HR 0,6; 0,48-0,73), SCE (HR 0,49; 0,37-0,65), SLFB (HR 0,39; 0,33-0,47) e SLP (HR 0,44; 0,36-0,54) foram todas significativamente maiores nos braços combinação. Eventos adversos grau 3 ou maior ocorreram em 37% dos pacientes no braço combinação do primeiro estudo, em 29% do braço controle deste mesmo estudo, em 58% do braço combinação do segundo estudo e em 32% do braço controle deste último. Hipertensão e aumento de alanina transaminase foram os eventos adversos significativamente maiores nos braços combinação do que nos braços controle. Sete eventos grau 5 aconteceram: nenhum nos braços controle, três no braço combinação do primeiro estudo e quatro no braço combinação do segundo estudo.

 

 

Attard, Gerhardt Jones, Elin et al. The Lancet, Volume 399, Issue 10323, 447 - 460. Abiraterone acetate and prednisolone with or without enzalutamide for high-risk non-metastatic prostate cancer: a meta-analysis of primary results from two randomized controlled phase 3 trials of the STAMPEDE platform protocol.
Acetato de abiraterona e prednisolona com ou sem enzalutamida para câncer de próstata não-metastático de alto risco: uma meta-análise dos resultados de dois estudos randomizados pertencentes a plataforma STAMPEDE.

 

Comentário do avaliador científico:

Mais uma vez estudos da plataforma STAMPEDE trazem informações importantes, com mudança de tratamento padrão para pacientes com câncer de próstata. A meta-análise destes dois estudos mostrou que existe um benefício significativo em associar abiraterona à terapia de privação androgênica (TPA) para portadores de câncer de próstata não-metastático de alto risco. De acordo com as recomendações atuais, a maioria destes pacientes recebeu tratamento local com radioterapia.

Os estudos aqui apresentados não só confirmaram aumento de sobrevida livre de metástases (o desfecho primário analisado), mas também revelaram um benefício em termos de sobrevida global, indicando que o benefício obtido em se tratar o câncer de próstata localizado de alto risco com uma terapia mais agressiva não pode ser totalmente recuperado no futuro com o tratamento adequado de uma eventual doença metastática.

A associação de enzalutamida além da abiraterona não demonstrou benefício adicional, e não deve ser recomendada fora do contexto de um ensaio clínico. Fica em aberto também a questão de se os pacientes cujo controle local é feito com prostatectomia radical também poderiam se beneficiar de um tratamento adjuvante baseado em TPA associada a abiraterona.

 

Avaliador científico:

Dr. Frederico Leal
Residência em Oncologia Clínica pela Unicamp
Mestre em Clínica Médica pela Unicamp
Médico Oncologista do HC-Unicamp, da clínica OncoItu e da Unimed-Anhanguera
Coordenador do programa de Residência Médica em Oncologia Clínica da Unicamp