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SBOC REVIEW

Afatinibe versus Placebo como terapia adjuvante após quimiorradioterapia em carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço – Um estudo clínico randomizado.

Resumo:
O Estudo LUX-Head & Neck 2 foi um estudo de fase 3, multicêntrico, randomizado (2:1), duplo cego, placebo controlado que avaliou o papel da terapia adjuvante com afatinibe após quimiorradioterapia definitiva em pacientes com carcinoma epidermoide (CEC) de cabeça e pescoço localmente avançado (agrupamento III ou IV). O endpoint primário foi sobrevida livre de doença (PFS), definido como tempo entre a data de randomização até a data da recidiva do tumor ou surgimento de segundo tumor primário ou morte por qualquer causa. Os endpoints secundários incluíram sobrevida livre de doença aos 2 anos, sobrevida global (OS) e qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL).

Foram incluídos pacientes com CEC de cabeça e pescoço, localmente avançados (agrupamento III ou IV), primário da cavidade oral, hipofaringe, laringe ou orofaringe (HPV negativo ou HPV positivo com carga tabágica > 10 maços-ano) que apresentaram resposta completa após terapia combinada (quimiorradioterapia, precedida ou não por terapia de indução; fase concomitante contendo cisplatina ou carboplatina) ou com ausência de doença após terapia combinada seguida de ressecção completa da doença residual. Análise dos dados foi por intenção de tratamento (afatinibe 40 mg/dia ou placebo). A randomização foi estratificada conforme estádio N (N0-2a ou N2b-3) e performance status ECOG (0 ou 1). O tratamento foi planejado para 18 meses ou até a recorrência da doença, eventos adversos inaceitáveis, ou retirada do paciente.

O estudo foi desenhado para detectar um ganho de 14 meses de PFS para o braço experimental (estimado 48 meses versus 34 meses, respectivamente para afatinibe versus placebo). Um total de 669 pacientes precisaria ser randomizado, assumindo um hazard ration (HR) de 0,71, poder de 80%, erro alfa de 0,025 (1-side) e p < 0,05.

Entretanto, após análise interina, realizada pelo comitê independente, quando 40% dos eventos havia ocorrido, o estudo foi interrompido por considerar improvável qualquer benefício com a continuidade do afatinibe. Assim, o recrutamento foi interrompido com 617 pacientes randomizados e os resultados analisados.

Idade média dos pacientes foi de 58 anos (DP = 8,4 anos), sendo predominante homens (n = 528; 85,6%). A mediana da PFS foi de 43,4 meses (IC95%, 37,4 meses – não atingida) no grupo afatinib e não atingida (IC 95%, 40,1 meses – não atingida) no grupo placebo (razão de risco, 1,13; IC 95%, 0,81-1,57; teste de log-rank estratificado p = 0,48). Os eventos adversos grau 3 e 4 mais comuns e suas taxas foram rash acneiforme (14,8% vs 0,5%), estomatite (13,4% vs 0,5%) e diarreia (7,8% vs 0,5%), respectivamente no grupo experimental (afatinibe) versus placebo.

Os autores concluíram que o uso do medicamento afatinibe não melhorou a sobrevida livre de progressão e foi associado a maior incidência de eventos adversos quando comparado ao uso de placebo durante terapia adjuvante para pacientes com CEC primário de cabeça e pescoço clinicamente de médio a alto risco tratados conservadoramente com terapia combinada. Assim, o uso de afatinibe adjuvante após terapia combinada não é recomendado.



Afatinib vs Placebo as Adjuvant Therapy After Chemoradiotherapy in Squamous Cell Carcinoma of the Head and Neck - A Randomized Clinical Trial
JAMA Oncol. Published online June 13, 2019. doi:10.1001/jamaoncol.2019.1146
Afatinibe versus Placebo como terapia adjuvante após quimiorradioterapia em carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço - Um estudo clínico randomizado.

 
 

Comentários do editor:
- Este é mais um estudo negativo envolvendo uma molécula inibidora da via dos receptores de fator de crescimento epidérmico (EGFR) no cenário adjuvante do câncer de cabeça e pescoço.

- A interrupção precoce por futilidade confirma a necessidade de melhor seleção destes pacientes e correta estratificação dos grupos de tratamento, incluindo efetivos biomarcadores. Entretanto, é importante ressaltar que no momento da construção desse estudo, o valor prognóstico e preditivo do HPV ainda estava em construção e assim, o status HPV não foi incluído na estratificação durante a randomização.

- Outro ponto importante foi a permissão da inclusão de pacientes com até 24 semanas após conclusão da terapia combinada. Este longo período após término da radioterapia possivelmente permitiu a seleção de pacientes com risco mais favorável, pois, pacientes de alto risco para recidiva precoce não foram incluídos.

 
 

Editor:
Dr. Luciano de Souza Viana

Um dos autores do artigo e membro da SBOC, Coordenador Médico da Unidade de Oncologia do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier e Docente da Faculdade de Medicina UNIVAÇO (União Educacional do Vale do AÇO). Doutor em medicina pela UNIFESP.

 

Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.