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SBOC REVIEW

Agente anti-inflamatório canakinumabe reduz o risco de câncer de pulmão

A imunoterapia revolucionou o tratamento do câncer de pulmão (CP) nos últimos anos e tem sido foco de intensa pesquisa. O canakinumab é um inibidor de interleucina-1β utilizado no tratamento de doenças autoimunes. Recentemente foi publicado um importante estudo que incrementa o entendimento do binômio inflamação-câncer, no qual, pela primeira vez, uma droga anti-inflamatória mostrou redução no risco de CP.

O estudo CANTOS foi desenhado originalmente para avaliar o efeito do canakinumab sobre eventos cardiovasculares. Foi conduzido em 10.061 pacientes sem história prévia de neoplasia, portadores de arteriosclerose, que tiveram infarto do miocárdio e persistiam com atividade inflamatória intensa (PCR > 2mg/L). Os pacientes foram randomizados entre placebo ou canakinumab em uma de três doses (50mg, 150mg ou 300mg a cada 3 meses), e foi positivo em seu objetivo primário com redução em 15% de eventos cardiovasculares maiores. Entretanto, o mais intrigante é que, em uma análise exploratória, observou-se uma redução de até 67% na incidência de CP (p<0,0001) e uma redução do risco de morte por CP de até 77% (p=0,0002) após o seguimento de apenas 3,7 anos. Tal efeito parece ter caráter dose-dependente, com taxa de mortalidade em CP por 100 pessoas-ano de 0,30 com placebo, 0,20 com 50mg, 0,19 com 150mg e 0,07 com 300mg (p=0,0002). Houve ainda redução no risco de morte por câncer global com HR 0,49 (95% IC 0,31–0,75 p=0,0009). Em contrapartida, houve um aumento de infecções fatais por sepse com o uso do canakinumab.

Ridker PM e cols. Lancet. 2017 Aug 25. pii: S0140-6736(17)32247-X. PMID: 28855077

Comentários: Estudo gerador de hipóteses. Tamanha magnitude na redução de mortalidade em tão pouco tempo provavelmente se deve mais ao retardo na progressão/invasão do CP já presente, mas oculto, do que ao bloqueio do surgimento de nova neoplasia, colocando a interleucina-1β como potencial alvo terapêutico a ser explorado em estudos prospectivos randomizados. 

Iuri A Santana, MD
Oncologista Clínico pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Membro do grupo de Oncologia Torácica da Clínica AMO – Salvador BA.