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SBOC REVIEW

Apixabana em dose Reduzida Prolongada para Tromboembolismo Venoso Associado ao Câncer

Resumo do artigo:

O estudo API-CAT avaliou a eficácia e segurança da redução da dose de apixabana após o período de seis meses de anticoagulação, em comparação com a dose usual, em pacientes com eventos tromboembólicos associados ao câncer.

Eventos tromboembólicos são mais frequentes em pacientes com câncer. A manutenção da anticoagulação por um período prolongado em pacientes com neoplasia ativa é recomendada. Na tentativa de mitigar os riscos associados ao tratamento, o uso de doses reduzidas de anticoagulantes tem sido testado, ainda sem resultados conclusivos.

O API-CAT foi um estudo randomizado, duplo-cego, de não inferioridade, com avaliação central, no qual 1.766 pessoas, de centros predominantemente franceses, com câncer ativo e trombose venosa profunda (TVP) proximal ou embolia pulmonar, que haviam completado pelo menos seis meses de tratamento anticoagulante, foram randomizadas na proporção de 1:1 para receber apixabana em dose reduzida (2,5 mg) ou completa (5,0 mg), duas vezes ao dia, por 12 meses.

O desfecho primário foi o tromboembolismo venoso recorrente, fatal ou não fatal, definido como nova trombose distal sintomática, trombose venosa proximal, trombose associada a cateter central ou de membro superior, embolia pulmonar e morte associada à embolia, comprovada por imagem ou autópsia, ou morte súbita em que um evento tromboembólico não pôde ser descartado.

Houve análise de não inferioridade nas populações por intenção de tratar e per protocolo, sendo admitida uma margem de 2,00 para o limite superior do intervalo de confiança de 95% da razão de risco. O sangramento clinicamente relevante foi o desfecho secundário principal.

A população do estudo foi homogênea demograficamente, com mediana de 69 anos, sendo a maioria mulheres (56,6%). Os principais sítios neoplásicos foram mama (22,7%), colorretal (15,2%), ginecológico (12,1%) e pulmão (11,3%). Em relação ao evento índice, 75,5% tinham embolia pulmonar (com ou sem TVP); os demais apresentavam TVP isolada.

Foram atribuídos 866 pacientes ao grupo de dose reduzida e 900 ao grupo de dose completa. O tempo médio de tratamento anterior foi de 8 meses (variando de 6,6 a 12,8 meses), sendo 43,6% dos pacientes tratados com anticoagulante oral direto e 54,8% com heparina de baixo peso molecular.

A duração média da intervenção foi de 11,9 meses no grupo intervenção e 11,8 meses no grupo controle, sendo que 69,6% e 66,4% completaram os 12 meses previstos, respectivamente. Os principais motivos de descontinuação foram: óbito (28% e 26%), decisão médica (19% e 21%) e eventos adversos (14% e 16%).

O tromboembolismo venoso recorrente ocorreu em 18 pacientes (incidência acumulada de 2,1%) no grupo de dose reduzida e em 24 pacientes (2,8%) no grupo de dose completa (razão de sub-risco ajustada: 0,76; IC 95%: 0,41 a 1,41). O sangramento clinicamente relevante ocorreu em 102 pacientes (12,1%) no grupo de dose reduzida e em 136 (15,6%) no grupo de dose completa (razão de sub-risco ajustada: 0,75; IC 95%: 0,58 a 0,97).

A mortalidade foi de 17,7% no grupo de dose reduzida e de 19,6% no grupo de dose completa (razão de risco ajustada: 0,96; IC 95%: 0,86 a 1,06), sendo o câncer a principal causa.

Em conclusão, o uso de apixabana em dose reduzida demonstrou-se não inferior à dose padrão na prevenção da recorrência do tromboembolismo venoso em pessoas com câncer ativo, além de estar associado a uma menor incidência de complicações hemorrágicas clinicamente relevantes.

 

Comentário do avaliador científico:

O estudo API-CAT foi uma pesquisa robusta que buscou responder a uma pergunta recorrente no cotidiano do oncologista, dada a alta incidência de eventos tromboembólicos e as frequentes complicações associadas à anticoagulação.

A dose reduzida de apixabana comprovou não ser inferior à dose padrão na profilaxia de recorrência, além de reduzir significativamente os episódios de sangramento (12,1% vs. 15,6%), independentemente do evento tromboembólico índice e do tipo de neoplasia.

Um ponto que merece atenção é que esse resultado deve ser aplicado apenas após o período de tratamento que precedeu o estudo, no qual todos os pacientes haviam recebido, por pelo menos seis meses, terapia com anticoagulantes orais diretos ou heparina. A questão que permanece em aberto é sobre a segurança da suspensão da profilaxia após os 12 meses, já que, ao fim desse período, todos os pacientes foram descontinuados da intervenção.

De qualquer forma, o estudo tem impacto direto na prática clínica, oferecendo segurança à adoção da dose de 2,5 mg duas vezes ao dia.

 

Citação: Mahé I, Carrier M, Mayeur D, Chidiac J, Vicaut E, Falvo N, et al. Extended Reduced-Dose Apixaban for Cancer-Associated Venous Thromboembolism. N Engl J Med. 2025 Apr 10;392(14):1363-1373. doi: 10.1056/NEJMoa2416112

 

Avaliador científico:

Dr. Élvis Pellin Cassol

Oncologista clínico pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) – Porto Alegre/RS

Coordenador médico CETON – Associação Hospital Vila Nova e sub-investigador em Pesquisa Clínica pela UPCO – Porto Alegre/RS

Pós-graduação em Cuidados Paliativos pela Casa do Cuidar

Instagram: @elviscassol

Cidade de Atuação: Porto Alegre/RS