SBOC REVIEW
ASCO 2018 – Câncer de mama inicial
Abstract 1 – Joseph A. Sparano, TailorX: Phase III trial of chemoendocrine therapy versus endocrine therapy alone in hormone receptor-positive, HER2-negative, node-negative breast cancer and an intermediate prognosis 21-gene recurrence score. # LBA1
Estudo prospectivo randomizado de não inferioridade que avaliou 6711 mulheres que apresentavam câncer de mama T1/2 e N0, com OncotypeDx risco intermediário – recurrence score 11 a 25 – para receber quimioterapia adjuvante seguida de hormonioterapia versus hormonioterapia isolada. Após seguimento mediano de 90 meses, o estudo, cujo desfecho primário era iDFS (sobrevida livre de doença invasiva), demonstrou que hormonioterapia isolada é não inferior a QT seguida de hormonioterapia (HR para iDFS de 1.08, IC 95% 0.94-1.24, p=0.26). Hormonioterapia isolada também foi não inferior para os desfechos secundários de sobrevida global e sobrevida livre de recorrência a distancia.
Comentário: Estudo extremamente importante pelo grande número de pacientes e o impacto que terá em cerca de 85% das pacientes com doença inicial, que não irão mais receber quimioterapia adjuvante pela falta de benefício. Grande passo para personalização da oncologia, avaliando a biologia tumoral para considerar o tratamento. Pacientes com menos de 50 anos com RS intermediário alto (21-25) ainda podem se beneficiar de QT adjuvante.
Abstract 2 – Michael Gnant, Adjuvant denosumab in early breast cancer: Disease-free survival analysis of 3,425 postmenopausal patients in the ABCSG-18 trial. Abstract #500
Atualização e apresentação dos dados de sobrevida livre de doença em pacientes que receberam denosumabe adjuvante. O estudo fase III, prospectivo, placebo-controlado randomizou 3425 mulheres pós-menopausa em uso de inibidor de aromatase adjuvante para receber denosumabe adjuvante a cada 6 meses durante a endocrinoterapia versus placebo. No grupo denosumabe, a DFS foi de 89,2% (IC95% 87,6-90,7) em 5 anos e 80,6% (78,1-83,1) em 8 anos, comparado a 87,3% (85,7-89,0) aos 5 anos e 77,5% (74,8-80,2) aos 8 anos para os pacientes que receberam placebo. Não houve incidência de osteonecrose de mandíbula.
Comentário: O uso de denosumabe adjuvante deve ser considerado como tratamento em pacientes pós-menopausa que estejam recebendo inibidor de aromatase. Estudos para a comparação com zometa adjuvante devem ser realizados.
Abstract 3 – Meredith M. Regan, Absolute improvements in freedom from distant recurrence with adjuvant endocrine therapies for premenopausal women with hormone receptor-positive (HR+) HER2-negative breast cancer (BC): Results from TEXT and SOFT. Abstract # 503
Apresentação após 8,5 anos de seguimento mediano dos dados de intervalo livre de recorrência a distancia da análise combinada dos estudos TEXT e SOFT. A população de análise TEXT e SOFT incluiu 4891 pacientes RE +/HER2- e foi estratificada pelo uso de quimioterapia. O desfecho foi intervalo livre de recorrência a distancia (DRFI). No estudo TEXT, DRFI foi de 92% e o benefício absoluto de E + OFS vs TMX + OFS foi de 3%; o benefício variou de 0% no grupo de menor risco clínico a 15% no grupo de maior risco. De forma similar, no estudo SOFT, DRFI foi de 82% e o benefício absoluto de E + OFS vs TMX foi de 5%; o benefício variou de 2% a 10% de acordo com o risco clínico. Para TMX + OFS vs TMX, o benefício absoluto variou de 0% a 5%.
Comentário: A atualização dos estudos TEXT/SOFT consolidaram o uso de supressão ovariana no tratamento hormonal em pacientes pós menopausa, com maior magnitude de beneficio em mulheres jovens e com risco clinico-patológico alto. Em mulheres com baixo risco que não receberão quimioterapia adjuvante, TMX isolado também apresenta ótimos resultados e pode ser considerado.
Abstract 4 – Helena M. Earl, PERSEPHONE: 6 versus 12 months (m) of adjuvant trastuzumab in patients (pts) with HER2 positive (+) early breast cancer (EBC): Randomised phase 3 non-inferiority trial with definitive 4-year (yr) disease-free survival (DFS) results. Abstract # 506
Estudo de fase III de não inferioridade que comparou 6 versus 12 meses de uso de trastuzumabe adjuvante em pacientes com câncer de mama HER2-positivo em estágio inicial. Com 4089 pacientes randomizadas (1:1), o estudo demonstrou DFS de 89% (IC95% 88 - 91) em ambos os braços. HR foi 1,05 (IC 95% 0,88 - 1,25) demonstrando não inferioridade (limite de não inferioridade estabelecido foi HR 1.29) de 6 meses de trastuzumabe versus 12 meses. Resultados congruentes foram encontrados para a sobrevida global.
Comentário: Estudo interessante e provocativo, sendo o maior até o momento que comparou 6 meses versus 12 meses de trastuzumabe na tentativa de de-escalonar o tratamento. No entanto, além de outros estudos apontarem em direção oposta, cerca de 50% das pacientes do Persephone eram baixo risco clínico-patológico, e menos da metade recebeu tratamento de terceira geração com antraciclina e taxano. Assim, a duração de tratamento deve ser individualizada, levando-se em conta os riscos de recidiva no baseline, e as preferências pessoais das pacientes.
Abstract 5 – Jennifer K. Litton, Neoadjuvant talazoparib (TALA) for operable breast cancer patients with a BRCA mutation (BRCA+)
Estudo piloto fase II que avaliou o uso de talozaparibe neoadjuvante em pacientes com mutação dos genes BRCA-1/2. Vinte pacientes foram submetidos a tratamento neoadjuvante de talozaparibe por 6 meses antes da cirurgia. O desfecho primário foi a taxa de resposta patológica completa (RCB0+RCB1). Dez pacientes (59%) dos 17 avaliados apresentaram resposta patológica RCB0 +RCB1, com bom perfil de efeito colateral. Após a cirurgia, os pacientes eram submetidos a quimioterapia adjuvante padrão.
Comentário: Apesar de pequeno, este estudo piloto é extremamente interessante uma vez que personaliza o tratamento com terapia-alvo em pacientes com mutação BRCA-1/2. Apesar de todos os pacientes receberem quimioterapia padrão pós-operatória, este estudo apresenta uma alta taxa de resposta patológica completa com terapia-alvo isolada, além de ser uma prova de conceito para de-escalonamento do tratamento em pacientes com doença localizada e mutação BRCA.
Pedro Exman, MD
Médico graduado pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Clínica Médica no HC-FMUSP e residência em Oncologia Clínica no ICESP/FMUSP. Atualmente, é fellow de Oncologia Clínica no Dana-Farber Cancer Institute/Harvard Medical School, Boston, EUA