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SBOC REVIEW

ASCO 2018 – Câncer de mama metastático

Abstract 1 – Dennis J. Slamon, Ribociclib (RIB) + fulvestrant (FUL) in postmenopausal women with hormone receptor-positive (HR+), HER2-negative (HER2–) advanced breast cancer (ABC): Results from MONALEESA-3. Nº = 1000

O estudo MONALEESA-3 é um fase III que randomizou 726 pacientes para fulvestranto +- ribociclibe na proporção 2:1, em primeira ou segunda linha de terapia endócrina, em pacientes na pós-menopausa. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). Metade das pacientes estava no cenário de primeira linha de tratamento. A SLP mediana foi clínica e estatisticamente superior no braço da combinação, 12.8 versus 20.5 (HR=0.593 [IC 95%, 0.48–0.73]). Os dados de sobrevida global (SG) ainda estão imaturos para análise. Em relação às toxicidades, 53,4% das pacientes do braço que receberam a combinação apresentaram neutropenia graus 3/4, contudo apenas 1% cursou com neutropenia febril.

Comentário: Os dados do MONALEESA-3 confirmam o benefício em SLP com uso do ribociclibe, em combinação ao fulvestranto tanto em primeira quanto em segunda linha, possibilitando a utilização dessa combinação em ambos os cenários, com bom perfil de tolerância ao protocolo.

Abstract 2 – Peter Schmid, AZD5363 plus paclitaxel versus placebo plus paclitaxel as first-line therapy for metastatic triple-negative breast cancer (PAKT): A randomized, double-blind, placebo-controlled, phase II trial. Nº = 1007

O estudo de fase II PAKT incluiu 140 pacientes com doença metastática, as quais foram randomizadas para terapia de primeira linha com paclitaxel +- AZD5363 (capivasertibe). Mais da metade das pacientes tinham sido expostas a taxano na adjuvância e 70% delas tinham mais de 12 meses do término da quimioterapia no momento da recidiva. A SLP e a SG foram, respectivamente, 5,9 meses no grupo da combinação versus 4,2 no grupo controle (p=0.06- nível de significância pré-definido em 0.1- HR 0.74) e 19,1 meses no grupo da combinação versus 12.6 no grupo controle (p=0.04, HR 0.61), com taxa de resposta de 35,4% (braço experimental) versus 28,8% (controle). O benefício foi ainda maior entre pacientes do braço experimental que apresentavam alterações na via PI3KCA/AKT1/PTEN detectadas por next generation sequencing (NGS), 9,3 versus 3,7 (HR 0.3, p=0.01). Toxicidades grau 3⁄4 no braço da combinação incluíram diarreia (13,2%), fadiga (4,4%) e rash (4,4%).

Comentário: A combinação de paclitaxel a capivasertibe na primeira linha de tratamento do câncer de mama triplo negativo aumentou significativamente as SLP e SG, quando comparada com paclitaxel monodroga. O estudo sugere também que alterações na via PI3KCA/AKT1/PTEN são preditoras de resposta nessa população de pacientes.

Abstract 3 – Rebecca Dent, Seock-Ah Im, Overall survival (OS) update of the double-blind placebo (PBO)-controlled randomized phase 2 LOTUS trial of first-line ipatasertib (IPAT) + paclitaxel (PAC) for locally advanced/metastatic triple-negative breast cancer (mTNBC). Nº = 1008

O estudo de fase II LOTUS comparou paclitaxel (P) versus paclitaxel mais ipatasertibe (P + I) um inibidor seletivo de AKT1, na primeira linha de tratamento de pacientes com câncer de mama triplo negativo. O desfecho primário utilizado foi SLP (na população ITT e na população com alterações na via PI3KCA/AKT1/PTEN detectadas por NGS. Os pacientes com alterações nessa via apresentaram SLP de 9,0 (P + I) versus 4,9 meses (P), HR=0,49 (IC 95%, 0.20–0.99), e na população ITT a SLP foi de 6,2 (P + I) versus 4,9 meses (P), HR= 0.60 (IC 95%, 0.37–0.98). A análise inicial de SG na população ITT observou ganho númerico de aproximadamente cinco meses quando comparado P + I (23,1 meses) versus P (18,4 meses). Aguardamos a análise final de SG esperada para 2019. Eventos adversos foram mais frequentes no grupo P + I, sendo diarreia e náusea os mais frequentes. No grupo P + I, a dose do ipatasertibe foi ajustada em 21% dos pacientes, devido a toxicidades.

Comentário: Esse estudo demonstrou que ipatasertibe é uma droga ativa em combinação à paclitaxel em pacientes com câncer de mama triplo negativo, em especial naqueles com alterações na via PI3KCA/AKT1/PTEN.

Abstract 4 – Guy Jerusalem, Everolimus (EVE) + exemestane (EXE) vs EVE alone or capecitabine (CAP) for estrogen receptor-positive (ER+), human epidermal growth factor receptor 2-negative (HER2-) advanced breast cancer (ABC): BOLERO-6, an open-label phase 2 study. Nº = 1005

O estudo BOLERO-6 se propôs a avaliar o benefício clínico de everolimus (EVE) versus everolimus mais exemestano (EVE/EXE) versus capecitabina (CAP) após progressão em primeira linha com inibidor da aromatase. O objetivo primário do estudo era avaliar o HR da SLP (SLP) para EVE + EXE vs EVE, e o secundário era estimar o HR da SLP para EVE + EXE versus CAP. Foram randomizadas 309 pacientes para os três braços do estudo, com um maior número de mulheres com menor que 65 anos (68% versus 63%), doença óssea exclusiva (24% versus 13%) e com menos de 3 linhas de tratamento no grupo CAP versus EVE + EXE. A SLP do grupo EXE foi de 6,8 meses, inferior aos 8,4 meses do grupo EVE + EXE (HR 0.74; IC90% 0.57- 0.97). Ao comparar os braços EVE + EXE com o braço CAP, não foi observada diferença estatisticamente significativa, sendo a SLP do braço CAP estimada em 9,6 meses (HR 1.26; IC 90% 0.96-1.66). O número de eventos adversos sérios foi maior no braço EVE + EXE (36%) versus CAP (29%) e EVE (29%), com predominância de síndrome mão-pé e diarreia no braço CAP e estomatite nos braços com EVE.

Comentário: Os resultados reportados no estudo Bolero-6 devem ser avaliados com cautela pelo limitado tamanho da amostra e por se tratar de um estudo aberto. A mediana de SLP com o uso de EVE + EXE reportada no BOLERO-6 se alinha aos resultados reportados previamente no BOLERO-2, SLP mediana de 7,8 meses, com o uso de EVE + EXE em primeira linha.

Abstract 5 – Jose Baselga, Phase III study of taselisib (GDC-0032) + fulvestrant (FULV) v FULV in patients (pts) with estrogen receptor (ER)-positive, PIK3CA-mutant (MUT), locally advanced or metastatic breast cancer (MBC): Primary analysis from SANDPIPER. Nº= LBA1006

Taselisibe é um inibidor seletivo de nova geração do PIK3. O estudo de fase III Sandpiper randomizou 516 pacientes com câncer de mama metastático RH+/HER 2 negativo após primeira linha de tratamento com inibidor de aromatase para receber fulvestranto (F) ou fulvestranto mais taselisibe (FT). Aproximadamente 60% das pacientes tinham doença visceral. A SLP foi de 5,4 meses para o braço F e de 7,4 para o braço FT (HR 0.70, IC 95% p=0.0037). A taxa de resposta foi também estatisticamente superior no braço FT versus F (28% versus 11,9%, respectivamente; p= 0.0002). Os principais eventos adversos graus 3/4 no grupo FT foram hiperglicemia (10,8%), diarreia (11,5%), rash (3,8%) e estomatite (3,6%).

Comentário: Apesar de o estudo ter alcançado seu objetivo primário, o ganho em SLP foi modesto e, portanto, não sugere uma mudança na prática clínica. Possíveis justificativas para esse ganho modesto são a difícil aderência ao protocolo, por toxicidade, efetiva avaliação de alterações da via PIK3 em espécimes antigos e mecanismos de resistência, como a perda do PTEN.

Luciana Landeiro
Doutora em Oncologia pela Faculdade de Medicina da USP-SP. Oncologista clínica do grupo de tumores femininos do Núcleo de Oncologia da Bahia (Grupo Oncoclínicas)