Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

ASCO 2018 – Tumores Ginecológicos

Abstract 1 – Takashi ONDA, Comparison of survival between upfront primary debulking surgery versus neoadjuvant chemotherapy for stage III/IV ovarian, tubal and peritoneal cancers in phase III randomized trial: JCOG0602. N°= 5500

Dois estudos anteriores (EORTC55917 e CHORUS) sugerem que a neoadjuvância (NACT) é não inferior ao debulking cirúrgico primário (PDS). Este é um estudo japonês, fase III e de não inferioridade (limite de não inferioridade: HR 1.16). Foram 301 pacientes randomizadas para debulking cirúrgico primário seguido de 8 ciclos de carboplatina e paclitaxel (CP) versus 4 ciclos de CP neoadjuvante seguido de citorredução e mais 4 ciclos de CP adjuvante. O estudo falhou em atingir seu desfecho primário: SG foi 49 meses (PDS) versus 44,3 meses (NACT) HR 1.05, IC95%: 0.83-1.33 (p=0.24). A SLP foi de 15,1 meses (PDS) versus 16,4 (NACT) HR 0.96, CI95%: 0.75-1.23. Em análise de subgrupo, as pacientes com pior performance e menores níveis de albumina apresentaram benefício com a neoadjuvância.

Comentário: Este estudo não demonstra a não inferioridade da terapia neoadjuvante quando comparado ao debulking primário e vai na contramão de outros dois grandes estudos sobre este tema. A neoadjuvância deve ainda ser considerada uma alternativa, em casos selecionados, no tratamento das pacientes com câncer de ovário avançado.

Abstract 2 – Sandro Pignata, Chemotherapy plus or minus bevacizumab for platinum-sensitive ovarian cancer patients recurring after a bevacizumab containing first line treatment: The randomized phase 3 trial MITO16B-MaNGO OV2B-ENGOT OV17. N° = 5506

Bevacizumabe possui aprovação para uso no carcinoma de ovário platino sensível e platino resistente. Entretanto, as aprovações são para pacientes nunca expostas a esse tratamento. Esse estudo tem como objetivo mostrar a eficácia da reexposição ao bevacizumabe juntamente com a quimioterapia em pacientes que já receberam esse anti-VEGF na primeira linha. Foram 405 pacientes com doença platino sensível randomizadas para receber 6 ciclos de quimioterapia: carboplatina + gemcitabina/paclitaxel/doxorrubicina lipossomal (QT) versus 6 ciclos de quimioterapia + bevacizumabe (BEV) até progressão de doença. O estudo foi positivo para seu desfecho primário. A SLP foi de 8,8 meses para QT versus 11,8 meses no grupo BEV (HR 0.51, CI95%: 0.41-0.65, p < 0.001). Mas não houve diferença em SG (dados imaturos): 27,1 meses para QT versus 26,6 meses no grupo BEV (HR 0.97, CI95%: 0.70-1.35, p = 0.98). Taxa de resposta (resposta completa + resposta parcial) não foi diferente entre os grupos.

Comentário: Reexposição a quimioterapia com bevacizumabe em pacientes com doença platino sensível é uma opção no tratamento do câncer de ovário. O desenvolvimento de biomarcadores preditivos de resposta podem nos ajudar a escolher as melhores pacientes para essa abordagem.

Abstract 3 – Martee Leigh Hensley, Adjuvant gemcitabine plus docetaxel followed by doxorubicin versus observation for uterus-limited, high-grade leiomyosarcoma: A phase III GOG study. N° = 5505

Estudo fase III que avaliou o papel da quimioterapia adjuvante com gemcitabina e docetaxel versus 4 ciclos seguidos de doxorrubicina versus 4 ciclos (QT) versus observação (OBS) em pacientes com leiomiossarcomas uterinos de alto grau restritos ao útero. Desenhado para recrutar 216 pacientes, entretanto, incluíram apenas 38 pacientes. Foi encerrado precocemente por baixo recrutamento. A SG foi de 34,3 meses (QT) versus 46,4 meses (OBS) IC95% - 21.5 a - 12.7 meses. A SLP foi de 18,1 meses (QT) versus 14,6 meses (OBS) IC 95% - 2.4 a 9.3 meses. Devido ao número pequeno de pacientes incluídos, nenhuma análise de sobrevida apresentou robustez estatística.

Comentário: Estudo muito esperado pela comunidade que trata tumores ginecológicos. Infelizmente, não conseguiu recrutar o número planejado de pacientes. O grupo que fez quimioterapia não apresentou resultados superiores quando comparado ao grupo observação. Dessa forma, observação deve ainda ser considerada o tratamento padrão para essas pacientes.

Abstract 4 – Samantha Silva, Neoadjuvant chemotherapy with cisplatin and gemcitabine followed by chemoradiation with cisplatin in locally advanced cervical cancer: A phase II, prospective, randomized, trial. N° = 5523

Estudo brasileiro, unicêntrico, fase II randomizado que avaliou o papel da quimioterapia neoadjuvante com cisplatina e gemcitabina versus 3 ciclos seguidos de quimioterapia (cisplatina) concomitante a radioterapia (NACT) versus cisplatina concomitante a radioterapia isoladamente (QRT) em pacientes com câncer de colo uterino EC IIB- IVA. Foram incluídas 107 pacientes. Com relação ao desfecho primário: a SLP em 3 anos foi de 41.1% no braço NACT versus 59.6% no braço QRT (HR 1.48, IC 95% 0.86-2.82, p = 0.13). A SG em 3 anos foi de 74.2% (NACT) versus 81.9% (QRT) HR 1.64, CI 95% 0.71-3.77, p = 0.23. Taxa de resposta completa foi menor no grupo NACT (54% versus 82%, p= 0.002).

Comentário: Iniciar o tratamento dessas pacientes com QRT ainda é a terapia padrão. Aguardamos resultados de estudos fase III que estão em andamento para responder essa pergunta.

Abstract 5 – Juliet Elizabeth Wolfor, Cost-effectiveness of maintenance therapy in advanced ovarian cancer: Paclitaxel, bevacizumab, niraparib, rucaparib, olaparib, and pembrolizumab. N° = 5508

Estudo que avaliou a custo-efetividade da terapia de manutenção no tratamento do câncer de ovário avançado. Foram analisados os seguintes estudos: GOG 212 (paclitaxel), GOG 218, ICON 7, OCEANS, GOG 213 (bevacizumabe), NOVA (niraparibe), SOLO 2 (olaparibe), ARIEL (rucaparibe) e KEYNOTE-028 (pembrolizumabe). Os custos relacionados a infusão do tratamento e manejo de toxicidades foram extraídos dos dados da Medicare. O estudo evidenciou que: manutenção com paclitaxel foi mais custo efetiva ($ 1.329,00/SLP mês). O alto custo dos PARPi (aprox. $ 29.708,00/SLP mês) associado ao longo PFS das pacientes com mutação de BRCA fazem com que esses apresentem menor custo efetividade; e deveriam reduzir em mais de 50% seus custos para serem considerados custo neutro em relação à terapia anti-VEGF (aprox. $ 13.932,00/SLP mês). A imunoterapia ($ 39.397,00/SLP mês) precisaria alcançar SLP entre 5 e 8 meses para se tornar custo neutro em relação à terapia com bevacizumabe.

Comentário: Estudo interessante sobre os custos atrelados a terapia de manutenção. Nesse estudo, os autores consideraram o custo da medicação, bem como os custos relacionados a toxicidade. Observamos que a aplicação da terapia de manutenção está atrelada a importante impacto econômico.

Dra. Vanessa da Costa Miranda
Doutora em Oncologia pela Universidade de São Paulo. Oncologista clínica do grupo de tumores ginecológicos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e oncologista da clínica Oncostar em São Paulo