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SBOC REVIEW

Assinaturas gênicas estratificam e predizem desfechos em tumores neuroendócrinos de pâncreas não-funcionantes

Resumo do artigo:
Estudo multicêntrico avaliou se assinaturas de áreas enhancers de certos genes associados à embriologia dos tumores neuroendócrinos de pâncreas (pNETs) nao-funcionantes, cuja origem genética é obscura, poderiam predizer recorrência e outros desfechos clínicos numa amostra de 103 pacientes com pNETs ressecados (61 associados a neoplasia endócrina múltipla tipo I). Enhancers são sequências pequenas do DNA nas quais proteínas (fatores de transcrição) se acoplam para influenciar a expressão gênica.

Por meio de análises epigenéticas e transcriptômicas, os autores identificaram dois grupos distintos: o de fatores de transcrição ARX-positivo, que apresenta perfil de linhagem celular semelhante à células de ilhotas alfa pancreáticas; e o grupo de fatores de transcrição PDX1-positivo, que se assemelha à linhagem de células pancreáticas de ilhotas Beta. Na maioria dos casos esses achados foram mutuamente exclusivos e houve concordância entre as análises de expressão gênica e imunohistoquímica em todos os casos. Num seguimento mediano de 66 meses, numa coorte de validação, as recorrências, maioria metástases hepáticas, ocorreram no grupo ARX-positivo. O prognóstico do grupo ARX-positivo ficou ainda pior quando associado ao fenômeno de alongamento alternativo de telômeros (ALT), evento genético comum em neoplasias malignas. Na coorte total de 103 casos, o odds ratio (OR) para recorrência, ajustado para tamanho de tumor primário, entre os pacientes do grupo ARX-positivo ou ARX/PDX1- negativos foi 14.45 vezes maior que no grupo PDX1-positivo. Na análise multivariada de regressão logística para recorrência, na amostra de 83 casos com dados clínicos disponíveis, a presença de ALT e a expressão ARX foram associados à recorrência; já no grupo PDX1, raramente recorrências foram identificadas.

 

Enhancer signatures stratify and predict outcomes of non-functional pancreatic neuroendocrine tumors. Cejas P e Drier Y. Nature Medicine 2019.
Assinaturas gênicas estratificam e predizem desfechos em tumores neuroendócrino de pancreas não-funcionantes.


Comentários do editor:
O estudo de Cejas et al traz um contexto clínico raramente avaliado em estudo de expressão gênica. Os autores mostram que por meio de imunohistoquímica é possível separar dois grupos de pNETs ressecados com prognósticos muitos distintos. O grupo PDX1, por exemplo, poderia ser acompanhado com maior intervalo de imagens, talvez anuais; já o grupo ARX compõe uma população onde o monitoramento com imagens mais intenso (cada 3-4 meses, por exemplo) poderia ajudar a identificar doença metastática de menor volume e até passível de resgate cirúrgico. Além disso, estudos de adjuvância poderiam ser desenvolvidos no grupo ARX. Porém, ainda que muito interessantes, esses achados merecem validação externa antes de serem incorporados na prática clínica. A vantagem é que, pela simplicidade da imunohistoquímica, essa validação pode ser feita rapidamente e, se confirmada, se torna uma ferramenta prognóstica poderosa.


Editora:
Dra. Rachel Riechelmann
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pela Universidade Federal de São Paulo; ex- clinical research fellow pela Universidade de Toronto, Canadá; Doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente, é diretora do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center; diretora do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais; membro eleito do conselho científico da Sociedade Europeia de Tumores Neuroendócrinos; coordenadora do Programa de Especialização em Tumores Neuroendócrinos (parceira entre SBOC e A.C.Camargo).


Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.