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SBOC REVIEW

Associação de radioterapia e risco de eventos adversos em pacientes recebendo imunoterapia

Resumo do artigo:

Inibidores de checkpoints (ICI) e radioterapia (RT) são utilizados para tratar vários tipos de câncer, mas há poucos dados disponíveis sobre o uso sequencial ou concomitante de ICI e radioterapia.

O perfil de toxicidade dos ICI é bem caracterizado, incluindo eventos adversos (EA) imunomediados que podem afetar os pulmões, fígado, tireoide, trato gastrointestinal, coração, sistema nervoso central, entre outros órgãos. Dados emergentes sugerem um potencial aumento do risco de toxicidade com a combinação de RT e ICI. O objetivo do estudo foi avaliar o aumento do risco de EA sérios associados à realização de RT em até 90 dias antes do início de um ICI.

Foram analisados dados de pacientes de 68 estudos prospectivos de ICI licenciados pelo Food and Drug Administration (FDA) até dezembro/2019. O estudo mais antigo foi iniciado em fevereiro/2003. Todos os pacientes receberam algum ICI (atezolizumabe, avelumabe, cemiplimabe, durvalumabe, nivolumabe ou pembrolizumabe), e os sítios primários tumorais mais comuns foram pulmão, melanoma, rim, cabeça e pescoço e bexiga.

Foram identificados 25.469 pacientes; 8.634 foram excluídos devido a falta de comparadores que receberam RT, por não terem recebido ICI, receberam RT fora do intervalo padrão ou não apresentavam alguma variável utilizada na análise. Foram incluídos 16.835 pacientes na análise, dos quais 13.956 (83%) não receberam RT, 1.773 (11%) receberam RT em até 90 dias do início do ICI e 1.146 (6%) receberam RT em mais de 90 dias antes do início do ICI. A incidência de EA foi comparada descritivamente entre os pacientes dos três grupos.

A maioria dos pacientes tinha menos de 65 anos de idade (56%), era do sexo masculino (62,1%) e de cor branca (79,7%). Os eventos adversos mais comuns, em todos os graus, foram fadiga, diarreia, endocrinopatias, toxicidade hematológica e pneumonite. A maioria dos eventos adversos foram graus 1 e 2 e a taxa de EA foi similar entre quem realizou RT e quem não realizou RT. Não houve diferença na taxa de EA graus 3 e 4 entre os dois grupos.

O grupo que recebeu RT em mais de 90 dias antes do ICI apresentou numericamente maior taxa de pneumonite, de baixo grau, que o grupo sem a RT. Em geral, a taxa de EA foi numericamente maior no grupo de RT com até 90 dias do que no grupo com mais de 90 dias, com eventos predominantemente de baixo grau. O grupo com RT com menos de 90 dias apresentou numericamente maiores taxas de pneumonite, trombocitopenia e fadiga, que o grupo com RT com mais de 90 dias. Poucos pacientes interromperam o tratamento devido a efeitos adversos.

Dentre os EA, a pneumonite foi mais comum com o uso de agentes anti-PD-L1. Endocrinopatias foram mais comuns em pacientes que receberam agentes anti-PD-L1 após a RT e menos comum em pacientes que receberam anti-PD-1 associado à anti-CTLA4. Fadiga foi mais comum em pacientes previamente irradiados, nos três grupos.

Nesta avaliação, a administração de um ICI em até 90 dias da realização de radioterapia não parece estar associada ao aumento do risco de eventos adversos graves. Entretanto, esses achados necessitam ser confirmados em futuros estudos prospectivos.

 

Anscher MS, Arora S, Weinstock C, et al. Association of Radiation Therapy With Risk of Adverse Events in Patients Receiving Immunotherapy. JAMA Oncology. Published online January 6, 2022. Dói: 10.1001/jamaoncol.2021.6439.
Associação de radioterapia e risco de eventos adversos em pacientes recebendo imunoterapia.

 

Comentário da avaliadora científica:

Cerca de 50% dos pacientes oncológicos utilizam a RT em algum momento do curso da doença. Com o advento de novas estratégias de tratamento, como os ICI, é importante conhecermos o risco dessa combinação, principalmente pela possibilidade de EA imunomediados, apresentados pelos ICI.

A análise dos dados mostrou que não houve aumento de EA sérios nos pacientes submetidos à ICI dentro de 90 dias após a RT, em relação aos que não fizeram RT. E os pacientes submetidos RT apresentaram numericamente maior taxa de EA leves, como fadiga, endocrinopatias e pneumonite.

O estudo apresentou algumas limitações, como a natureza retrospectiva e o fato de os estudos originais não serem desenhados para avaliar a combinação entre RT e ICI, não valorizando, portanto, detalhes do tratamento radioterápico que podem ser importantes em relação à toxicidade, como o sítio de tratamento, a duração e a técnica aplicada.

Tais dados podem nos ajudar a desenhar futuros estudos para avaliar a combinação de ICI e RT, visto que essa combinação é frequente no nosso cenário. Enquanto isso, devemos ter atenção com a associação de RT e ICI, principalmente quando o órgão irradiado tiver maior radiossensibilidade ou for mais suscetível aos efeitos imunomediados dos ICI.

 

Avaliadora científica:

Dra. Marina Mendes Vasco
Oncologista Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer - INCA
Oncologista Clínica do Medical Oncologia e do Hospital Geral de Palmas - TO