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SBOC REVIEW

Associação entre rastreamento com endoscopia baixa e incidência e mortalidade por câncer colorretal em adultos com mais de 75 anos

Resumo do artigo:

O estudo de coorte prospectiva avaliou a associação entre colonoscopia e retossigmoidoscopia de rastreamento em diferentes idades (incluindo adultos com mais de 75 anos) e o risco de incidência e mortalidade por câncer colorretal (CRC).

Foram utilizados dados de duas coortes prospectivas americanas: Nurses Health Study, que incluiu 121.701 enfermeiras, e o Health Professionals Follow-up Study, que acompanharam 51.529 médicos do sexo masculino. Em ambas as coortes os participantes receberam questionários bianuais inquirindo sobre a realização de retossigmoidoscopia ou colonoscopia e o motivo da investigação.

Foi utilizado o modelo de regressão de risco proporcional de Cox para calcular as razões de risco (RR) e os intervalos de confiança (IC) de 95%. Os fatores de risco para CRC foram estratificados em análise multivariada para idade, sexo e ano civil do ciclo do questionário. Para significância estatística foi considerado um p<0,05 em uma análise bicaudal.

Um total de 56.374 participantes atingiu 75 anos de idade durante o acompanhamento (36,8% homens e 63,2% mulheres). Houve disparidades entre os grupos. O grupo que realizou o rastreamento após 75 anos era composto por mais homens, faixa etária maior e com maior histórico familiar de CRC. Os participantes que se submeteram a endoscopia de rastreamento após os 75 anos também tenderam a ser mais ativos fisicamente e fazer mais uso de multivitaminas. Houve maior prevalência de hipertensão e dislipidemia, mas uma prevalência mais baixa de doença cardiovascular na população rastreada.

Foram documentados 661 casos de CRC e 323 mortes relacionadas ao CRC durante o seguimento entre os participantes que atingiram a idade de 75 anos sem diagnóstico de câncer. Quando ajustado ao histórico de rastreamento, a endoscopia de rastreamento com mais de 75 anos permaneceu significativamente associada a um risco reduzido de incidência de CRC (RR, 0,61; IC 95%, 0,51-0,74) e mortalidade relacionada ao CRC (RR, 0,60; 95 % IC, 0,46-0,78). Ajustes adicionais para comparecimento a exames físicos de rotina como um indicador de uso de recursos de saúde não alterou as associações.

Entre os participantes que se submeteram aos exames endoscópicos de rastreamento com 75 anos ou menos, a continuação do rastreamento após os 75 anos de idade produziu uma redução do risco de incidência de CRC (RR 0,67; IC 95%, 0,50-0,89) e mortalidade relacionada ao CRC (RR 0,58; IC 95%, 0,38-0,87), em comparação com aqueles que interromperam o rastreamento após os 75 anos de idade. Estes números foram semelhantes entre os participantes que não se submeteram a endoscopia de triagem até os 75 anos com RR de 0,51(IC 95%, 0,37-0,70) para incidência de CRC e RR de 0,63 (IC 95%, 0,43-0,93) para mortalidade relacionada com CRC.

Na análise de subgrupos, ter uma história de doença cardiovascular aos 75 anos de idade ou três ou mais comorbidades tendeu a mitigar os benefícios de continuar o rastreamento após os 75 anos de idade, com RR de 1,18 (IC 95%, 0,59-2,35) para incidência de CRC e RR de 1,17 (IC 95%, 0,57-2,43) para mortalidade CRC específica.

A associação entre realização de rastreamento de CRC em idosos com mais de 75 anos com endoscopia baixa e redução de incidência de CRC e menor mortalidade câncer CRC específica, independente da história de rastreamento prévio, foi demonstrada neste estudo. Esta associação não foi observada na população com doença cardiovascular ou com três ou mais comorbidades.

 

Ma W, Wang K, Nguyen LH, et al. Association of Screening Lower Endoscopy with Colorectal Cancer Incidence and Mortality in Adults Older Than 75 Years. JAMA Oncol. 2021;7(7):985–992. doi:10.1001/jamaoncol.2021.1364.
Associação entre rastreamento com endoscopia baixa e incidência e mortalidade por câncer colorretal em adultos com mais de 75 anos.

 

Comentário do avaliador científico:

A realização do rastreamento do câncer colorretal através de colonoscopia ou retossigmoidoscopia está bem estabelecida, sobretudo para pessoas com mais de 50 anos. No entanto, existem riscos inerentes a estes procedimentos e particularidades no tratamento oncológico de idosos que levam ao questionamento do benefício do rastreamento nesta população. Desta forma, a idade de interrupção do rastreamento ainda não é consensual, com diferentes recomendações nas principais diretrizes.

Os dados do estudo foram coletados em uma população composta por profissionais de saúde durante mais de 28 anos, em questionários que avaliaram de forma prospectiva e recorrente fatores relacionados ao estilo de vida. Fatores confundidores e vieses importantes foram mitigados, porém a natureza observacional do estudo pode ter implicado em outros fatores confundidores ainda não reconhecidos. Além disso, a população acompanhada era iminentemente branca, restringindo a extrapolação dos dados para outra etnia.

Os dados apresentados são relevantes permitindo a particularização de condutas em situações específicas, porém ainda é necessário a realização de outros estudos para o estabelecimento de uma mudança abrangente na prática clínica.

 

Avaliador científico:

Dr. Adriano Teixeira
Residência de Oncologia Clínica pelo Hospital Santa Izabel - BA
Mestrado em Biociências pela UFBA
Oncologista clínico da AMO Sudoeste