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SBOC REVIEW

Atezolizumabe associado a bevacizumab em carcinoma hepatocelular irressecável

Resumo do artigo:

O carcinoma hepatocelular (CHC) está entre as neoplasias malignas mais comuns em todo o mundo e tem uma alta taxa de mortalidade. Quando diagnosticado em estágio inicial pode ser tratado com ressecção, procedimentos ablativos ou transplante hepático; entretanto, um elevado número de pacientes já se apresenta com doença irressecável que tem mau prognóstico.
No cenário de doença avançada, o uso de inibidores de tirosina quinase, como sorafenibe e, mais recentemente, lenvatinibe, é a opção de primeira linha, com benefício em sobrevida global semelhantes entre si. Entretanto, essas drogas estão associadas a toxicidades consideráveis ​​que impactam diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Recentemente houve demonstração de atividade terapêutica com uso de imunoterapia (anti-PD1) no tratamento de segunda linha, em estudos fase 2, contudo não houve comprovado impacto em sobrevida nos estudos fase 3. Dados pré-clínicos mostram que há mecanismos de evasão tumoral à imunoterapia (como superexpressão de fator de crescimento endotelial vascular - VEGF), que sustentam a associação de anti-angiogênicos a agentes anti-PDL1 e anti-PD1 neste cenário como forma de trazer sinergismo ao tratamento com vistas a tingir maior benefício clínico.
Nesta publicação, Richard e colaboradores trazem os resultados de um estudo aberto, randomizado e multicêntrico (17 países envolvidos), que buscou avaliar a segurança e eficácia da combinação de atezolizumabe com bevacizumabe em pacientes com CHC irressecável no tratamento de primeira linha. Foram randomizados 501 pacientes na proporção de 2:1, para receber atezolizumabe-bevacizumabe versus sorafenib. Os objetivos primários do estudo foram sobrevida global e sobrevida livre de progressão, e os objetivos secundários incluíram taxa de resposta objetiva, duração de resposta e tempo para piora em qualidade de vida.
Houve aumento da sobrevida global favorecendo a combinação de atezolizumabe-bevacizumabe (mediana ainda não alcançada versus 13,2 meses com sorafenibe, p<0.001), e impacto em sobrevida livre de progressão (mediana de 6.8 meses versus 4.3 meses, p<0.001) em favor do tratamento de combinação com atezolizumabe-bevacizumabe. A taxa de resposta objetiva foi também superior no braço da combinação (27% versus 12%, p<0,0001).

 

Atezolizumab plus bevacizumab in unresectable hepatocellular carcinoma – Imbrave150. Richard S. Finn, et al. N Engl J Med 2020;382:1894-905.
Atezolizumabe associado a bevacizumab em carcinoma hepatocelular irressecável.

 

Comentário da avaliadora científica:
- O estudo é positivo, alcançando seus objetivos primários ao demonstrar aumento de sobrevida global e sobrevida livre de progressão, em todos os subgrupos analisados, mesmo tendo incluído pacientes com doença e alto risco que haviam sido excluídos de estudos anteriores. 
- A combinação de atezolizumabe-bevacizumabe tem um perfil de toxicidade diferente de sorafenibe. Houve óbitos relacionados ao tratamento nos dois grupos e cerca de 15% dos pacientes no grupo da combinação suspenderam as medicações por efeitos adversos. Contudo o tempo transcorrido até a piora em qualidade de vida foi de 11,2 meses no grupo que recebeu atezolizumabe-bevacizumabe, muito superior ao braço de sorafenibe.
- É importante salientar que o estudo IMbrave150 tem algumas limitações, como seu desenho aberto, a seleção de pacientes restringiu a inclusão ao perfil Child A, os casos de varizes esofágicas deveriam ser previamente tratados e o tempo de seguimento ainda é curto (8,6 meses). Contudo, magnitude do benefício demonstrada em sobrevida global e em qualidade de vida, associada à segurança, torna associação de atezolizumabe-bevacizumabe uma opção de primeira linha robusta num cenário que há mais de uma década não tinha ganhos tão significativos, e poderá com o amadurecimento dos dados, representar o novo padrão de tratamento.

 

Avaliadora científica:
Dra. Alessandra Leite
Oncologista clínica do Hospital Santa Lúcia e Hospital de Base do Distrito Federal. Especialização em Medicina Interna e Oncologia Clínica pelo Hospital de Base – Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde.