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SBOC REVIEW

Avaliação da detecção de recidiva molecular em câncer de mama em estágio inicial

Resumo do artigo:
A identificação de DNA tumoral circulante no sangue (ctDNA) pode prever quem são os pacientes com câncer de mama que estão em risco para desenvolver doença metastática após cirurgia e quimioterapia adjuvante, de acordo com o estudo de Garcia-Murillas et al. publicado na revista JAMA Oncology. A maioria das neoplasias de mama são hoje diagnosticadas em estágio inicial, ainda na fase de doença locorregional. Entretanto, apesar dos importantes avanços desenvolvidos nas últimas décadas, uma parcela considerável dessas mulheres irá experimentar recorrência com doença metastática. A capacidade de conhecer o prognóstico de cada paciente ao definir o risco para o desenvolvimento de doença metastática cria a possibilidade de identificar os casos com potencial benefício para tratamentos adicionais, assim como, pode indicar situações onde certos tratamentos são desnecessários.

A avaliação de ctDNA já havia demonstrado ser uma técnica promissora no manejo dos pacientes com câncer de mama, especialmente por ser um teste minimamente invasivo com grande sensibilidade para detecção precoce de alterações tumorais (tanto para a identificação de crescimento no volume tumoral, como eventualmente para identificação de mecanismos de resistência ou sensibilidade a tratamentos).

O estudo foi conduzido em 5 centros do Reino Unido e recrutou 170 pacientes com câncer de mama inicial para o sequenciamento de amostra tumoral, tendo identificado 101 pacientes com mutações tumorais passíveis de serem rastreadas. Outros 43 pacientes de um estudo prévio foram incluídos nesse grupo e dessa forma, 144 pacientes foram monitorizados com a coleta trimestral de ctDNA no primeiro ano e subsequentemente a cada 6 meses. O ctDNA foi monitorizado no plasma dos pacientes por meio de um ensaio personalizado de PCR digital.

A identificação de ctDNA, no seguimento de 35,5 meses, mostrou ser fortemente associada com a recidiva tumoral com HR (hazard ratio) de 25,2 (IC 95%: 6,7 – 95,6; P<0,001). A detecção do ctDNA antecipou 10,7 meses em mediana o diagnóstico clínico de recidiva (95% IC: 8,1 – 19,1 meses). Recidiva sistêmica extracraniana foi detectada por ctDNA em 22 de 23 pacientes (96%). Entretanto, apenas 1 de 6 pacientes com recidiva encefálica exclusiva teve alteração identificada por ctDNA, o que sugere que metástase exclusiva em SNC não é rapidamente detectável por esta técnica. Os diferentes subtipos tumorais, de acordo com a expressão de receptores hormonais ou HER2, não pareceram ter comportamentos distintos nesta análise.

 

Assessment of Molecular Relapse Detection in Early-Stage Breast Cancer. Garcia-Murillas I, et al. JAMA Oncol. Published online August 01, 2019. doi:10.1001/jamaoncol.2019.1838
Avaliação da detecção de recidiva molecular em câncer de mama em estágio inicial.

 

Comentários do editor:
O estudo de Garcia-Murillas reforça, em um estudo multicêntrico e prospectivo, a capacidade do ctDNA em prever pacientes com maior risco de desenvolver metástases sistêmicas após o tratamento adjuvante por câncer de mama, ou seja, confirma que há validade clínica nesse teste. Entretanto, novos estudos prospectivos que randomizem pacientes para diferentes tratamentos de acordo com os resultados de ctDNA são necessários para a demonstração da utilidade clínica do exame. Atualmente, há um estudo clínico de fase 2 com esse objetivo em andamento na população com tumor triplo negativo. Destaca-se ainda que estudos prévios com a pesquisa de marcadores tumorais proteicos e com células tumorais circulantes falharam em demonstrar aumento de sobrevida global nesse cenário. O benefício real desta técnica será demonstrado quando os pacientes conseguirem obter melhores resultados, seja em termos de sobrevida ao incluir novos tratamentos em pacientes de alto risco, ou ainda, com menor toxicidade ao omitir terapias nos pacientes com prognóstico favorável. Nesse momento, a pesquisa de ctDNA para a detecção precoce de recidiva do câncer de mama inicial, apesar de promissora, ainda não está indicada para uso clínico.



Editor:
Dr. Rudinei Linck
Oncologista Clínico e Doutor em Oncologia do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e do Grupo de Oncologia Mamária do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).

 

Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.