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SBOC REVIEW

Avaliação de pacientes com risco ultra baixo de recidiva pelo estudo MAMAPRINT

Resumo do artigo:

Com o aumento da realização de exames de rastreio e consequente aumento de diagnósticos de câncer de mama, invariavelmente detectamos tumores em estágios mais iniciais e indolentes. Por outro lado, sabemos que tumores com receptores hormonais, inclusive os de considerado baixo risco clínico, podem recorrer tardiamente, com recidivas 20 anos após o diagnóstico. As assinaturas gênicas foram desenvolvidas justamente para auxiliar na identificação de pacientes com baixo risco de recorrência que podem ser poupadas de terapia adjuvante e, assim, de efeitos colaterais indesejados. Entre os estudos neste cenário destaca-se o estudo MINDACT, que buscou avaliar qual população de pacientes poderia ser poupada de receber quimioterapia adjuvante.

O estudo MINDACT (2007-2011) avaliou mulheres entre 18 e 70 anos com câncer de mama localizado operável cujo tamanho tumoral media no máximo 5 cm e tinha no máximo três linfonodos envolvidos. Pacientes metastáticas não foram incluídas. A análise exploratória teve como objetivo principal avaliar os resultados de sobrevida em pacientes com biologia tumoral de risco ultrabaixo, que historicamente têm excelentes resultados de sobrevida. As pacientes foram estratificadas com base no risco clínico por características clínico-patológicas e risco genômico com base na assinatura de 70 genes (MammaPrint).

No total, 6.693 pacientes foram avaliadas. Quinze porcento das pacientes foram consideradas com risco ultrabaixo pelo MammaPrint (n= 1.000), enquanto 49% (n= 3.295) foram classificadas como baixo risco. Além disso, 76% das pacientes classificadas com risco baixo e 85% das classificadas como ultrabaixo receberam apenas endocrinoterapia ou nenhum tratamento sistêmico adjuvante, enquanto 83% naquelas de alto risco receberam quimioterapia.

Entre o subgrupo com doença de risco ultrabaixo, 67% tinha mais de 50 anos, 80% linfonodo negativo, 81% tinha tumores de 2 cm ou menos, 96% grau 1 ou 2, e 97% subtipo RH positivo/HER2 negativo; 16% naquelas que eram risco ultrabaixo não receberam tratamento sistêmico adjuvante, 69% receberam endocrinoterapia e 14% receberam quimioterapia. Por fim, 741 pacientes de risco ultrabaixo tinham tumores clinicamente de baixo risco, enquanto 259 tinham tumores clinicamente de alto risco, definidos como sendo maiores em tamanho, com grau mais alto e linfonodo positivo.

Em relação à sobrevida livre de metástase, pacientes com risco genômico ultrabaixo tiveram um risco reduzido de metástase a distância ou morte relacionada a câncer de mama quando comparadas com pacientes com risco baixo (HR= 0,65; IC 95% 0,45 – 0,94). Nos pacientes com risco genômico ultrabaixo, a taxa de sobrevida câncer de mama específica em oito anos foi de 99,7% (IC 95% 99,3 – 100) para pacientes de risco clínico baixo e de 99,2% (IC 95% 98 – 100) para paciente de risco clínico alto. Além disso, em pacientes com doença de ultrabaixo risco, tanto aquelas que não receberam tratamento sistêmico adjuvante (n=157) quanto as que receberam somente endocrinoterapia (n= 685) tiveram excelentes desfechos clínicos, com uma taxa de metástase a distância em oito anos de 97,8% (IC 95% 95,3 - 100) versus 97,4% (IC 95% 96,1 – 98,7), respectivamente. Uma taxa de metástase a distância em oito anos de 94,9% (IC 95%, 94,4%-98,7%) foi relatada nas pacientes que receberam quimioterapia com ou sem terapia endócrina (n = 144). Neste grupo, 92% dos pacientes tinham doença clinicamente de alto risco.

 

 

Lopes Cardozo JMN, Drukker CA, Rutgers EJT, et al Outcome of Patients With an Ultralow-Risk 70-Gene Signature in the MINDACT Trial. Journal of Clinical Oncology 40, no. 12 (April 20, 2022) 1335-1345. DOI: 10.1200/JCO.21.02019.
Avaliação de pacientes com risco ultra baixo de recidiva pelo estudo MAMAPRINT.

 

Comentário da avaliadora científica:

Apresentado na ASCO de 2021, este estudo demonstrou que a identificação de mulheres de risco ultrabaixo pela assinatura de 70 genes possibilita o descalonamento de tratamento. Resultado animador e bastante importante visto o potencial super tratamento de pacientes neste subgrupo. Entretanto, deve-se ressaltar o custo para a realização desse teste e tempo ideal de adjuvância (até três meses), o que potencialmente diminui a aplicabilidade do estudo em cenário de saúde pública como a do Brasil. Além disso, somente 10% a 15% das mulheres são classificadas como risco ultrabaixo.

Mais estudos estão em andamento para avaliar novas ferramentas que possam auxiliar nesse manejo, principalmente no que tange ao uso excessivo de quimioterapia e terapia endócrina estendida.

 

Avaliadora científica:

Dra. Mariana Marcondes Machado de Sousa Pereira
Residência em Oncologia Clínica pelo IBCC Oncologia
Oncologista clínica no Hospital Vila Santa Catarina, InRad HC-FMUSP e ClinOnco