SBOC REVIEW
Cabozantinibe no carcinoma hepatocelular avançado refratário
O carcinoma hepatocelular (CHC) representa a terceira causa de morte por câncer globalmente. No cenário da doença inoperável ou metastática, os inibidores tirosina cinase com ação anti-VEGF sorafenibe e regorafenibe foram os primeiros fármacos a demonstrar ganho em sobrevida global em primeira e segunda linha, respectivamente. A hiperexepressão dos receptores MET e AXL é indicador de pior prognóstico em CHC e a ativação do MET está associada a resistência ao sorafenibe em modelos pré-clínicos. De acordo com esse racional biológico, a inibição desses alvos moleculares pode se traduzir em benefício clínico.
O estudo fase III placebo-controlado CELESTIAL foi desenhado para avaliar o impacto em sobrevida global do cabozantinibe, um inibidor multi-cinase dirigido a VEGFR, AXL e MET. Foram incluídos pacientes previamente tratados com sorafenibe, que apresentaram progressão após pelo menos uma linha e que poderiam ter recebido até duas linhas de tratamento sistêmico prévio. Foram randomizados 707 pacientes para cabozantinibe 60 mg/dia ou placebo até enquanto houvera benefício clínico ou ocorrência toxicidade limitante. O braço experimental apresentou sobrevida mediana de 10,2 meses versus 8 meses para o braço placebo, com redução significativa do risco de morte de 24%. Em relação aos desfechos secundários, o cabozantinibe aumentou significativamente a sobrevida livre de progressão mediana (5,2 versus 3,2 meses) e a taxa de resposta objetiva (4% versus 1%) em comparação ao placebo. O tempo mediano de tratamento no braço cabozantinibe foi de 3,8 meses, com 68% de eventos adversos graus 3 e 4, enquanto para o tempo mediano de tratamento no braço placebo foi de 2 meses, com 36% de eventos adversos graus 3 e 4.
Abou-Alfa et al. N Engl J Med 2018 Jul 5;379. PMID:29972759
Comentário: O cabozantinibe demonstrou ganho significativo em sobrevida global e tem potencial para ser incorporado como opção de tratamento em pacientes refratários ao sorafenibe em segunda ou terceira linha. A taxa de eventos adversos graus 3 e 4 foi significativa e deve ser explorada em estudos posteriores. O fato do tempo mediano em tratamento ser numericamente inferior a sobrevida livre de progressão sugere ocorrência de interrupções precoces.
Leonardo Gomes da Fonseca, MD
Oncologista clínico formado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo