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SBOC REVIEW

Camrelizumabe mais rivoceranibe versus sorafenibe como terapia de primeira linha para carcinoma hepatocelular irressecável (CARES-310): um estudo randomizado, aberto, internacional de fase 3

Resumo do artigo:

A combinação do tratamento com inibidores do ponto de checagem imunológico com um inibidor da tirosina-quinase (TKI) anti-angiogênico demonstrou melhorar a sobrevida global diante da terapia anti-angiogênica isolada em tumores sólidos avançados, mas o mesmo não ocorria no carcinoma hepatocelular (CHC).

Nesse contexto, um estudo clínico de fase 3, randomizado, aberto e internacional, denominado CARES-310, foi conduzido para comparar a eficácia e a segurança do anticorpo anti-PD-1 camrelizumabe mais o TKI direcionado a VEGFR2 rivoceranibe (também conhecido como apatinibe) versus sorafenibe como tratamento de primeira linha para carcinoma hepatocelular irressecável. Neste estudo, pacientes com carcinoma hepatocelular irressecável ou metastático virgens de tratamento sistêmico foram randomizados (1:1) para receber camrelizumabe 200 mg por via intravenosa a cada 2 semanas mais rivoceranibe 250 mg por via oral uma vez ao dia ou sorafenibe 400 mg por via oral duas vezes ao dia.

Os desfechos primários foram a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global na população com intenção de tratar. A segurança foi avaliada em todos os pacientes que receberam pelo menos uma dose dos medicamentos do estudo.

No estudo, 543 pacientes foram randomizados, sendo 272 pacientes para o grupo de camrelizumabe-rivoceranibe e 271 pacientes para o grupo de sorafenibe. Na análise primária para SLP, o acompanhamento mediano foi de 7,8 meses. A SLP mediana melhorou significativamente com camrelizumabe-rivoceranibe versus sorafenibe (5,6 meses vs 3,7 meses; HR 0,52 [IC 95% 0,41-0,65]; p<0,0001). Na análise interina para sobrevida global, o acompanhamento médio foi de 14,5 meses e a SG mediana também foi significativamente estendida com camrelizumabe-rivoceranibe versus sorafenibe (22,1 meses vs 15,2 meses; HR 0,62 [IC 95 % 0,49-0,80]; p<0,0001).

Os eventos adversos de grau 3 ou 4 mais comuns relacionados ao tratamento com camrelizumabe-rivoceranibe em relação ao sorafenibe foram: hipertensão (38% x 15%), aumento da aspartato aminotransferase (17% x 5%), aumento da alanina aminotransferase (13% x 3%) e síndrome de eritrodisestesia palmar-plantar (12% x 15%). Eventos adversos graves relacionados ao tratamento foram relatados em 24% dos pacientes no grupo camrelizumabe-rivoceranibe e 6% no grupo sorafenibe. Morte relacionada ao tratamento ocorreu em dois pacientes: sendo um paciente no grupo camrelizumabe-rivoceranibe, por síndrome de disfunção de múltiplos órgãos, e outro paciente no grupo sorafenibe, por insuficiência respiratória e colapso circulatório.

Por fim, o estudo conclui que para pacientes com carcinoma hepatocelular irressecável, o tratamento com Camrelizumabe mais rivoceranibe mostrou um benefício estatisticamente significativo e clinicamente significativo na sobrevida livre de progressão e na sobrevida global em comparação com sorafenibe, apresentando-se como uma nova e eficaz opção de tratamento de primeira linha para esta população.

 

Comentário do avaliador científico:

Os resultados apresentados são bastante animadores frente ao restrito arsenal de terapias sistêmicas disponíveis em 1ª linha para o CHC avançado. Contudo, é importante realizar alguns apontamentos. O principal deles diz respeito à população do estudo, composta em grande parte por pacientes oriundos de países asiáticos (83%) e portadores de hepatites virais tipos B (76%) ou C (8%). Tendo em vista o fato da doença hepática gordurosa não alcoólica, em particular a cirrose relacionada à NASH, constituir um fator de risco cada vez mais comum para o CHC, sobretudo nos países ocidentais, faz-se necessária uma maior representação desse subgrupo nesse tipo de estudo.

Quanto a etiologia viral também é válido destacar que em regiões endêmicas, o diagnóstico do CHC tende a ocorrer numa idade mais jovem, em que é menos frequente a presença de cirrose e suas complicações, o que quando aliada à realização de tratamento antiviral antecipado com consequente proteção à disfunção hepática, pode-se permitir melhores desfechos em sobrevida e maior tolerância ao tratamento antineoplásico.

Por fim, à luz das evidências atuais que elegeram o tratamento baseado em combinações contendo imunoterapia como padrão na 1ª linha em detrimento do sorafebine, o camrelizumabe mais rivoceranibe torna-se uma opção adicional, além dos outros regimes que tiveram seu benefício também demonstrado nos últimos anos, como atezolizumabe + bevacizumabe e durvalumabe + tremelimumabe.

 

Citação: Qin S, Chan SL, Gu S, et al; CARES-310 Study Group. Camrelizumab plus rivoceranib versus sorafenib as first-line therapy for unresectable hepatocellular carcinoma (CARES-310): a randomised, open-label, international phase 3 study. Lancet. 2023 Jul 24:S0140-6736(23)00961-3. doi: 10.1016/S0140-6736(23)00961-3.

 

Avaliador científico:

Dr. Igor Alcântara Pereira

Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da USP – Ribeirão Preto – SP

Mestrando em Oncologia – USP

Título de Especialista em Oncologia Clínica – SBOC/AMB