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SBOC REVIEW

Câncer de mama metastático HER2 positivo: tratamento após progressão ao TDM1

Resumo do artigo:
Aproximadamente 15 a 20% das pacientes com câncer de mama são HER2 positivo. Quando no cenário metastático, grandes avanços aconteceram. Estamos na era dos anticorpos droga conjugados (ADCs).

O trastuzumabe deruxtecan, TDXd, é um anticorpo droga conjugado, anticorpo monoclonal anti-HER-2 combinado a um inibidor de topoisomerase 1. No estudo de fase 2, DESTINY Breast 01 (DB01), o TDXd mostrou-se eficaz em uma população de pacientes com câncer de mama metastático, HER2 positivo, previamente politratadas, que já haviam recebido TDM1.

O DESTINY Breast 02 é o estudo de fase 3, desenhado com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança do TDXd após progressão com TDM1 em pacientes com câncer de mama metastático HER2 positivo. Foi um estudo randomizado, duplo cego, com recrutamento de setembro de 2018 a dezembro de 2020. 608 pacientes foram randomizados (2:1), 406 para trastuzumabe deruxtecan e 202 pacientes para terapia a escolha do investigador. O desfecho primário do estudo foi sobrevida livre de progressão (SLP) e os desfechos secundários, sobrevida global (SG) e taxa de resposta objetiva (TRO). As pacientes randomizadas para o grupo do TDXd receberam 5,4 mg/kg a cada 3 semanas e as pacientes randomizadas para a terapia a escolha do investigador receberam: capecitabina 1250 mg/m2 oral, do D1 ao D14 a cada 21 dias associado a trastuzumabe, ou a combinação de lapatinibe (1250 mg/dia do D1 ao D21) combinado a capecitabina (1000 mg/dia). Foi permitida a randomização de pacientes com metástases em SNC assintomáticas e ou tratadas, e sem necessidade de corticoides ou anticonvulsivantes.

Em relação aos resultados, o estudo é positivo e atingiu seu objetivo primário. A sobrevida livre de progressão mediana foi de 17,8 meses (IC 95% 14,3 – 20,8) no grupo do TDXD versus 6,9 meses (HR 0,36 [0,28 – 0,45]; p<0,001). Foi visto um benefício consistente em SLP em favor do TDXd, em pacientes todos os subgrupos de pacientes previamente estratificados. A mediana de sobrevida global foi de 39,2 meses em favor do TDXd versus 26,5 meses (HR 0,66 [0,50 – 0,86]; p=0,002); A taxa de resposta foi de 70% no grupo do TDXd e 29% no grupo de pacientes que receberam tratamento a escolha do investigador.

Em relação aos eventos adversos, os mais comuns, no grupo do TDXd foram náusea, (73% versus 37%) e fadiga (36% versus 27%). Alopecia ocorreu 37% do grupo do TDXd versus 4% no controle. Os eventos adversos mais frequentes no grupo que recebeu tratamento a escolha do investigador foram síndrome mão-pé e diarreia. Em relação a pneumonite: 42 pacientes (10% das pacientes) do grupo do TDXd tiveram esse evento adverso, 11 tiveram toxicidade grau 1, 26 delas grau 2, três toxicidades grau 3 e duas toxicidades grau 5.

O estudo demonstrou ganho estatisticamente significante de 10,9 meses em SLP com trastuzumabe deruxtecan versus capecitabina combinado a trastuzumabe ou lapatinibe, após progressão com TDM1. Viu-se também um incremento em diminuição da mortalidade, da ordem de 34%, em favor do TDXd.

Antes da publicação desse estudo, foi publicado o DESTINY Breast 03, que demostrou a superioridade do TDXd em segunda linha, quando comparado com o TDM1, o que trouxe o TDXd como o tratamento padrão em segunda linha. O DB02 tem a sua importância por demonstrar a eficácia de um anticorpo droga conjugado, o TDXd após progressão a outro anticorpo, TDM1.

Comentário do Avaliador Científico:
O estudo DESTINY Breast 02 demostrou que para as pacientes com diagnóstico de câncer de mama metastático HER2 positivo, já submetidas a pelo menos duas linhas de tratamento, após progressão a TDM1 demostrou ganho importante em sobrevida livre de progressão e sobrevida global, estatisticamente significativo, quando comparado a terapia a escolha do investigador (capecitabina e trastuzumabe ou capecitabina e lapatinibe). Esse é o primeiro estudo a demonstrar, no contexto do câncer de mama metastático HER2 positivo, benefício clinicamente significativo de um anticorpo droga conjugado após progressão a outro. Foi demonstrado um benefício muito robusto, no contexto de pacientes politratadas.

Em relação a toxicidades do tratamento, o evento adverso mais temido é a pneumonite. As pacientes foram seguidas ativamente com tomografia de tórax a cada 6 semanas e em caso de suspeita de pneumonite, TDXd foi interrompido e a corticoterapia iniciada precocemente, a fim de controle precoce.

Os dados de ganho de sobrevida livre de progressão e sobrevida global do DESTINY Breast 02 são consistentes. Diante disso, para pacientes com diagnóstico de câncer de mama HER2 positivo metastático, que tenham progredido a TDM1, a exposição ao TDXd é uma clara opção no sequenciamento do tratamento. É relevante ressaltar, porém, que hoje, TDXd é a terapia indicada em segunda linha, pós progressão ao trastuzumabe e taxano, baseado nos dados do DB03. Nesse sequenciamento, as pacientes tenderão a receber TDXd antes da exposição ao TDM1.

Citação: Lancet. 2023 Apr 19:S0140-6736(23)00725-0. doi: 10.1016/S0140-6736(23)00725-0. Epub ahead of print. PMID: 37086745.

Avaliador científico:
Dra. Ana Carolina Salles de Mendonça
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital de Base do Distrito Federal
Pós-graduação em Gestão em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein
Mestra em Ciências Genômicas e Biotecnologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB)
Oncologista Clínica na Oncoclínicas, Brasília/DF