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SBOC REVIEW

Capecitabina versus monitorização ativa em Câncer Colorretal com doença estável ou resposta após 16 semanas de terapia de primeira linha: resultados do estudo randomizado trial FOCUS4-N

Resumo do artigo:

FOCUS4 é um estudo com metodologia umbrella que avalia segurança e eficácia de novos tratamentos com terapia alvo em pacientes com câncer colorretal metastático (CRCm). Para os pacientes não elegíveis a estudos com terapia alvo devido falha ao teste de biomarcador, o subtrial FOCUS-4N era uma alternativa, disponível independentemente dos resultados de testes moleculares.

Pacientes com CRCm recentemente diagnosticados com doença estável ou resposta, de acordo com tomografia computadorizada após 16 semanas de tratamento de primeira linha, foram considerados elegíveis ao FOCUS4-N. Após inclusão, eram submetidos à imagem até 4 semanas e randomizados para monitorização ativa ou tratamento de manutenção com capecitabina 1250 mg/m² D1-D14, a cada 21 dias, até toxicidade limitante, progressão ou óbito.

Avaliações por tomografias a cada 8 semanas usando RECIST 1.1 eram realizadas de rotina. Toxicidade e sintomas foram acessados a cada 4 semanas usando a versão 3.0 do NCI CTCAE, sendo o tratamento interrompido se toxicidade grau ≥ 3. Pausas de até 28 dias eram permitidas, mas o tratamento era descontinuado se intervalo superior. Dados de qualidade de vida foram coletados a cada 8 semanas através do EQ-5D.

O objetivo primário do estudo foi sobrevida livre de progressão (SLP). Objetivos secundários eram sobrevida global (SG), segurança, toxicidade, qualidade de vida e resposta tumoral.

Calculou-se uma amostra de 644 pacientes para um poder de 80% de detecção de razão de risco (RR) de 0,8 e alfa bicaudado de 5%. Em março de 2020, devido pandemia por COVID-19, o recrutamento foi interrompido. Em seguida, por sugestão de um comitê independente, este foi permanentemente encerrado em abril de 2020.

No período de janeiro de 2014 a março de 2020, 1434 pacientes foram registrados no FOCUS4, dos quais 254 foram randomizados no FOCUS4-N, sendo 127 para monitorização e 127 para manutenção com capecitabina.

Características demográficas e clínicas foram bem balanceadas. A maioria dos pacientes possuía tumor primário irressecável e tratamento prévio com terapia dupla (57% baseada em irinotecano), sem anticorpo monoclonal. Apenas 37% possuíam RAS selvagem.

A SLP mediana foi de 3,88 meses com capecitabina versus 1,87 meses com monitorização ativa, RR ajustado de 0,40 (IC 95%, 0,21 a 0,75, p<0,0001). A SG mediana foi de 15,2 meses com monitorização versus 14,8 meses com capecitabina, RR 0,93 (IC 95% 0,69 a 1,27), sem diferença estatisticamente significativa entre braços.

Análises de subgrupos pré-planejadas de SLP sugerem melhores resultados com capecitabina em tumores à esquerda (RR 0,38 versus 0,56 para direita). Em relação a SG, subgrupo de pacientes com doença estável na randomização pareceram se beneficiar de capecitabina, enquanto aqueles com reposta parcial não (RR 0,63 e 1,42, respectivamente, p=0,005).

Toxicidades foram maiores no grupo de terapia de manutenção, destacando-se diarreia, fadiga, náuseas e eritema palmo-plantar, ainda que predominantemente grau 1 e 2. Durante o estudo, 51% dos pacientes que receberam capecitabina tiveram atraso no ciclo e 37% tiveram redução de dose Nenhuma diferença significativa foi evidenciada na maioria dos fatores analisados quanto ao impacto na qualidade de vida. Sugere-se que dor e desconforto parecem ter sido menos intensos no braço de tratamento de manutenção com capecitabina, o que poderia estar relacionado a progressão de doença no grupo de monitorização.

 

Capecitabine Versus Active Monitoring in Stable or Responding Metastatic Colorectal Cancer After 16 Weeks of First-Line Therapy: Results of the Randomized FOCUS4-N Trial. Adams et al. J Clin Oncol. 2021 Aug. doi: 1200/JCO.21.01436.
Capecitabina versus monitorização ativa em Câncer Colorretal com doença estável ou resposta após 16 semanas de terapia de primeira linha: resultados do estudo randomizado trial FOCUS4-N.

 

Comentário da avaliadora científica:

Opções atuais de primeira linha em CRCm são bastante eficazes, entretanto, com potencial de toxicidade cumulativa. Como resultado, estudos sobre estratégias de manutenção têm sido realizados para pacientes que apresentaram resposta à terapia inicial. Em 2020, Sonbol et al publicaram uma metanálise que demonstrou que manutenção baseadas em 5-FU ± bevacizumabe aumentaram SP, sem benefício em SG. Estes dados também são presentes nos estudos CAIRO34 e AIO-0207.

Resultados do FOCUS4-N reforçam o papel da capecitabina em otimizar a SLP e retardar o retorno da terapia, às custas de maiores toxicidades, mas sem impacto em qualidade de vida. Apesar de não possuir poder suficiente para análise de SG, resultados foram bastante semelhantes. Vale ressaltar também dados de análise de subgrupo em que pacientes com resposta parcial não pareceram se beneficiar tanto da manutenção quanto aqueles com doença estável.

Tais fatores devem ser discutidos com o paciente. Caso a escolha seja pela manutenção, a capecitabina é capaz de aumentar SLP e intervalo livre de terapia dupla ou tripla, e pode ser uma opção interessante, especialmente em pacientes não candidatos a terapia alvo ou cujo acesso ao bevacizumabe envolve limitações com custos adicionais.

 

Avaliadora científica:

Dra. Camila Soares Araujo
Oncologista clínica pela Instituto do Câncer do estado de São Paulo - ICESP
Oncologista clínica no ICESP e na Rede D’Or