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SBOC REVIEW

Cirurgia de citorredução secundária em câncer de ovário recorrente

Resumo do artigo:
O estudo de fase III GOG 0213 foi desenhado com o objetivo de responder a duas perguntas: o papel de bevacizumabe associado à quimioterapia no câncer de ovário recidivado e o da citorredução secundária neste contexto clínico. O estudo avaliou 674 pacientes com doença recidivada e sensível à platina, e já havia sido anteriormente publicado que o acréscimo de bevacizumabe, 15 mg/kg, à combinação de carboplatina e paclitaxel levou a um aumento significativo de SLP (10,4 versus 13,8 meses, HR=0,628; IC de 95%: 0,534-0,739; p<0,0001). Após reavaliação de dados de estratificação das pacientes, foi observado também ganho em SG (42,2 versus 37,3 meses; HR=0,823; IC de 95%: 0,680-0,96; p=0,0447) [Lancet Oncol 18:779, 2017].

A nova publicação do estudo reportou os resultados da exploração da cirurgia na recidiva, não tendo sido demonstrado ganho na SG com a citorredução secundária. Da coorte total, 485 pacientes foram randomizadas para receber ou não cirurgia na recidiva. A SG foi de 50,6 versus 64,7 meses (HR para morte=1,29; IC de 95%: 0,92-1,78) e SLP de 18,9 versus 16,2 meses (HR=0,82; IC de 95%: 0,66-1,01) para os braços de cirurgia e seguimento, respectivamente. No entanto, em análise ad hoc, o subgrupo de pacientes que teve ressecção completa (151 mulheres) apresentou SG e SLP superiores a do subgrupo com doença residual após tentativa de cirurgia (89 pacientes): 56 x 37,8 meses (HR=0,61; IC de 95%: 0,40-0,93) e 22,4 x 13,1 meses (HR=0,51; IC de 95%: 0,36-0,71). Quando se comparou o grupo sem doença residual com o grupo daquelas que não foram submetidas à cirurgia (245 pacientes), não se observou ganho de SG: 56 x 64,7 meses (HR 1,03; IC: 0,74-1,46), mas, foi mantido benefício em SLP 22,4 x 16,2 meses (HR=062; IC de 95%: 048-0,80). A ausência de critérios de seleção para cirurgia e o número alto de pacientes submetidas à QT com bevacizumabe no pós-operatório (84%) podem ter influenciado os resultados.

 

Secondary surgical cytorreduction for recurrent ovarian cancer. Coleman et al. N Engl J Med 381:1929,2019.
Cirurgia de citorredução secundária em câncer de ovário recorrente.

 

Comentários do editor:
Na contramão dos resultados do estudo europeu DESKTOP III, o estudo americano GOG 213 não demonstrou ganho de SLP ou SG em pacientes com câncer de ovário recidivado platino sensível submetidas à citorredução secundária.

No entanto, em análise de subgrupo, pacientes que tiveram ressecção completa apresentaram SG e SLP superiores às do subgrupo com doença residual após tentativa de cirurgia. Porém, quando se compara o grupo sem doença residual com o grupo daquelas que não foram submetidas à cirurgia, não se observa ganho de SG, mas, foi mantido benefício em SLP . Esse dado está alinhado com o DESKTOP III (que ainda não está maduro para análise de SG).

A ausência de critérios de seleção para cirurgia e o número alto de pacientes submetidas à QT com bevacizumabe no pós-operatório podem ter influenciado os resultados.

Diante dos resultados hoje disponíveis em pacientes com câncer de ovário recidivado sensível à platina, a indicação de citorredução secundária deve ser feita após avaliação criteriosa, em pacientes candidatas à ressecção completa e esclarecidas de que o maior impacto comprovado até o momento é apenas em SLP.

 

Editora:
Dra. Angélica Nogueira Rodrigues
MD, PhD; Diretora da SBOC; Post Doc em Oncologia MGH/Harvard University; Professora e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos; Chair em Ginecologia Oncológica do Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG).


Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.