SBOC REVIEW
Confirmação de benefício e segurança de quimioimunoterapia para câncer gástrico após follow-up estendido (estudo CheckMate 649)
Resumo do artigo:
O nivolumabe em combinação com quimioterapia foi aprovado em mais de 50 países para o tratamento do adenocarcinoma gástrico, de junção esofagogástrica e de esôfago no cenário de doença avançada ou irressecável e com receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2) negativo com base nos resultados do estudo CheckMate 649, publicado em 2021.
Neste artigo, foram descritos os resultados de eficácia e segurança após 3 anos de seguimento dos participantes deste estudo.
No estudo CheckMate 649, pacientes com adenocarcinoma gastroesofágico avançado ou metastático foram designados primariamente para 3 braços: nivolumabe em combinação com quimioterapia, nivolumabe em combinação com ipilimumabe ou quimioterapia isolada. O braço de nivolumabe em combinação com ipilimumabe foi fechado precocemente e tais pacientes foram excluídos das análises.
Assim, os dados analisados foram referentes aos grupos: nivolumabe em combinação com quimioterapia (n=789) ou apenas quimioterapia (n=792). A quimioterapia consistiu em FOLFOX6 modificado (fluorouracil, leucovorin e oxaliplatina) ou CAPOX (capecitabina e oxaliplatina). Os desfechos primários foram sobrevida global e sobrevida livre de progressão por comitê de revisão central independente cega em pacientes cujos tumores expressavam pontuação combinada de PD-L1 (CPS) ≥5.
Após seguimento mínimo de 36,2 meses, para pacientes com PD-L1 CPS ≥5, a sobrevida global mediana foi de 14,4 meses versus 11,1 meses, favorecendo a combinação. A razão de risco de sobrevida global no braço de nivolumabe associado à quimioterapia versus quimioterapia foi de 0,70 (intervalo de confiança (IC) 95%, 0,61 a 0,81). Destes, 21% versus 10% dos pacientes estavam vivos após 36 meses de estudo, respectivamente.
A sobrevida livre de progressão mediana para pacientes com PD-L1 CPS ≥5 foi de 9,3 meses versus 6,1 meses, favorecendo a combinação. A razão de risco da sobrevida livre de progressão foi de 0,70 (IC 95%, 0,60 a 0,81). As taxas de sobrevida livre de progressão em 36 meses foram de 13% versus 8%, respectivamente. A taxa de resposta objetiva por revisão central independente cega foi de 60% (IC 95%, 55 a 65) no braço de nivolumabe em combinação com quimioterapia versus 45% (IC 95%, 40 a 50) ao uso de quimioterapia isolada. A duração média da resposta foi de 9,6 meses (IC 95%, 8,2 a 12,4) versus 7,0 meses (IC 95%, 5,6 a 7,9), respectivamente.
Nivolumabe em combinação com quimioterapia também demonstrou melhorias em sobrevida global, sobrevida livre de progressão e taxa de resposta objetiva em comparação a quimioterapia quando observadas na população geral.
Entre todos os pacientes, independentemente do status de expressão de PD-L1, a razão de risco para sobrevida global para o grupo de nivolumabe versus quimioterapia foi de 0,79 (IC 95%, 0,71 a 0,88), com 17% versus 10% dos pacientes permanecendo vivos aos 36 meses. A razão de risco para sobrevida livre de progressão foi de 0,79 (IC 95%, 0,71 a 0,89), com taxas em 36 meses de 11% versus 7%. A taxa de resposta objetiva foi de 60% no grupo nivolumabe versus 45% no grupo controle; a duração média da resposta foi de 9,6 meses versus 7,0 meses.
A adição de nivolumabe à quimioterapia apresentou benefício em sobrevida a longo prazo clinicamente significativo em comparação com a quimioterapia isolada, com um perfil de segurança aceitável, apoiando o uso desta combinação como tratamento padrão de primeira linha para o adenocarcinoma gastroesofágico avançado.
Comentário do avaliador científico:
Diversos estudos, como ATTRACTION-4, KEYNOTE-062, KEYNOTE-590, JAVELIN GASTRIC 100 e o CheckMate 649 buscavam trazer benefícios em aumento de sobrevida global quando associada imunoterapia à quimioterapia a base platina para pacientes com adenocarcinoma gastroesofágico avançado, HER2 negativos. No entanto, o CheckMate 649 foi o primeiro estudo a mostrar sobrevida global superior a 1 ano neste cenário.
O perfil de segurança de nivolumabe em associação à quimioterapia foi aceitável e consistente com os perfis de segurança conhecidos dos componentes individuais do tratamento. Todavia, eventos adversos de graus 3 e 4 foram mais frequentes no braço de nivolumabe em combinação com quimioterapia ao de quimioterapia isolada.
Conforme apresentados nos dados acima: Após 3 anos de acompanhamento, nivolumabe associado à quimioterapia continuaram a demonstrar melhora da sobrevida global clinicamente significativa, com separação sustentada das curvas de Kaplan-Meier. Além disso, benefício contínuo da sobrevida livre de progressão, especialmente em pacientes cujos tumores expressavam PD-L1 CPS ≥5, porém com dados também positivos na população geral, independente do status de PD-L1.
Com isso, a associação de nivolumabe a quimioterapia confirmou-se como tratamento padrão de primeira linha para o adenocarcinoma gastroesofágico avançado HER2 negativo.
Citação: Yelena Y. Janjigian et al. First-Line Nivolumab Plus Chemotherapy for Advanced Gastric, Gastroesophageal Junction, and Esophageal Adenocarcinoma: 3-Year Follow-Up of the Phase III CheckMate 649 Trial. JCO 0, JCO.23.01601 DOI:10.1200/JCO.23.01601
Avaliador científico:
Larissa Vieira de Queiroz Polido
Oncologista clínica pela Faculdade de Medicina do ABC
Pós-graduação em pesquisa clínica pela Harvard T.H. Chan School of Public Health e gestão em saúde pela Fundação Getúlio Vargas
Atuando na Associação de Combate ao Câncer de Goiás e Clínica HONCORD