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SBOC REVIEW

Criocompressão na prevenção da neuropatia periférica: o que aprendemos com o estudo POLAR?

Resumo do artigo:

A neuropatia periférica induzida por quimioterapia (NPIQ) é um evento adverso frequente e potencialmente limitante de agentes como taxanos, platinas, alcaloides da vinca e eribulina. Pode comprometer a adesão ao tratamento oncológico, sendo causa comum de ajustes de dose, atrasos e até interrupções. Com o aumento da sobrevida dos pacientes, toxicidades persistentes como a NPIQ ganham relevância clínica e impacto direto na qualidade de vida. Apesar de sua prevalência, ainda não há estratégias eficazes e validadas para a prevenção e manejo.

O estudo POLAR foi um ensaio clínico prospectivo, randomizado em centro único, que incluiu pacientes com câncer de mama submetidas à quimioterapia semanal com paclitaxel (80–90 mg/m²) ou nab-paclitaxel (125 mg/m²). Foram excluídas pacientes com quimioterapia prévia, neuropatia preexistente, comorbidades associadas (como diabetes) e uso de medicamentos que pudessem mascarar sintomas, como inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina. As participantes foram randomizadas (1:1) para intervenção com crioterapia ou compressão na mão dominante, enquanto a mão contralateral serviu como controle. A crioterapia foi feita com luvas resfriadas a –20 °C, trocadas a cada 30 minutos. A compressão utilizou duas luvas cirúrgicas, um número abaixo do habitual. As intervenções foram aplicadas 30 minutos antes, durante e 30 minutos após a infusão.

A avaliação da NPIQ combinou métodos clínicos e autorrelato. A toxicidade foi graduada semanalmente por meio do CTCAE v5.0 e do EORTC QLQ-CIPN20 (versão alemã), que avalia sintomas sensitivos e motores. O TNSc clínico – ainda não validado em português – foi aplicado antes do início, na metade do tratamento e nas visitas de seguimento. Também foram monitoradas toxicidade ungueal, alterações no esquema terapêutico e fatores de risco como: IMC, tabagismo, consumo de álcool e HbA1c. A qualidade de vida foi avaliada pelo EORTC QLQ-C30. O seguimento foi realizado em uma semana, um mês e entre o sexto e oitavo mês após o término da quimioterapia.

O objetivo primário foi avaliar a eficácia das intervenções na prevenção da NPIQ sensorial de grau ≥2. Das 122 pacientes randomizadas, 101 foram incluídas na análise de eficácia. A média de idade foi de 50 anos. Houve 21 descontinuidades, sendo 9 no grupo da crioterapia (6 por intolerância ao frio) e 12 no grupo da compressão.

A crioterapia reduziu significativamente a incidência de NPIQ de alto grau (29% vs. 50% na mão controle; p = 0,002; diferença absoluta de 21,15%; IC 95%: 5,98 – 35,55%; RRR de 42%). A compressão também foi eficaz (24% vs. 38%; p = 0,008; diferença absoluta de 14,29%; IC 95%: 2,02 – 27,24%; RRR de 37%). Não houve diferença significativa entre os métodos. Análises de sensibilidade confirmaram os achados mesmo com perdas de seguimento. O EORTC QLQ-CIPN20 evidenciou melhora de sintomas sensitivos e motores com ambas as intervenções, mais pronunciada na crioterapia. O TNSc demonstrou benefício apenas no grupo da compressão. Aos 6–8 meses, poucos casos de NPIQ persistente foram registrados, sem poder estatístico para conclusões sobre benefício sustentado.

 

Comentário da avaliadora científica:

O estudo POLAR é uma contribuição relevante na busca por estratégias preventivas contra a NPIQ, demonstrando que crioterapia e compressão podem reduzir significativamente sua incidência em pacientes com câncer de mama em uso de taxanos. No entanto, o número limitado de pacientes, a condução em centro único, a dificuldade em reproduzir a intervenção em grande escala, apesar do custo baixo, principalmente quando consideramos a compressão, limitam a generalização e impedem conclusões sobre a superioridade entre as técnicas. Ainda não se sabe se os benefícios se estendem aos membros inferiores ou são sustentados a longo prazo. São necessários estudos multicêntricos, com maior diversidade populacional, comparação direta entre estratégias, avaliação de membros inferiores e seguimento prolongado. O POLAR aponta para uma abordagem promissora, mas a incorporação à prática clínica exige avaliação de viabilidade em diferentes realidades assistenciais.

 

Citação: Hirayama Y, Yamada Y, Kawakami K, Shibata T, Aruga A, Oguchi K, et al. Efficacy of Hand Cooling and Compression in Preventing Taxane-Induced Neuropathy: The POLAR Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. 2023;9(9):1273–81. DOI:10.1001/jamaoncol.2023.2274.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carla Casagrande Pavei

Oncologista pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) – Porto Alegre/RS

Oncologista no Grupo Oncoclínicas e responsável pelo Programa OC sobreVIVER de acompanhamento de pacientes com câncer de mama em São Paulo/SP

Mestre pelo Programa de Patologia da UFCSPA

Instagram: @carlacpavei

Cidade de atuação: São Paulo/SP