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SBOC REVIEW

Descalonamento do tratamento para monoterapia com anticorpo anti-EGFR como estratégia de manutenção para câncer colorretal metastático RAS e BRAF selvagens (ERMES Trial)

Resumo do artigo:

Câncer colorretal é a terceira neoplasia mais comum em adultos no Brasil e no mundo, e a segunda causa mais comum de morte relacionada a neoplasias. Além disso, é a principal causa de morte relacionada ao câncer em homens de 20-49 anos.

A quimioterapia sistêmica é ainda o principal tratamento para tumores metastáticos proficientes para as enzimas de reparo do DNA. Para pacientes sem progressão após a 1ª linha de quimioterapia, terapia de manutenção deve ser considerada.

Terapia de manutenção é uma estratégia de descalonamento de drogas visando manter a reposta já atingida previamente e reduzir os efeitos colaterais, melhorando a qualidade de vida dos pacientes sem perder a eficácia.

De acordo com as diretrizes da ESMO, a terapia de 1ª linha com fluorouracil, leucovorin e irinotecano (FOLFIRI) deve ser considerada até progressão de doença, mesmo com a máxima redução tumoral após 3-4 meses. Dessa forma, manter a terapia sistêmica completa talvez só associe efeitos colaterais, sem melhorar o controle da doença. O estudo ERMES de fase III foi desenhado para avaliar se a manutenção com cetuximabe após a indução com FOLFIRI + cetuximabe representa uma boa opção para pacientes com câncer colorretal metastático RAS e BRAF selvagem.

Os desfechos co-primários do estudo são a não-inferioridade da sobrevida livre de progressão para a população modificada por protocolo (> 8 ciclos de quimioterapia) e a menor incidência de graus (G) 3-4 de eventos adversos (EAs) para braço experimental comparado ao braço controle.

Foram incluídos 606 pacientes. Na população por intenção de tratamento que recebeu pelo menos 1 ciclo de quimioterapia foram 593 pacientes. Desses, 154 no braço controle e 183 no braço experimental receberam tratamento além do 8º ciclo, constituindo a população por protocolo com 337 pacientes.

No total, 291 eventos de SLP foram observados na população por protocolo. A SLP foi de 10 e 12,2 meses nos braços experimental e controle respectivamente (HR 1,3; IC 95%, 1,03 a 1,64). O primeiro desfecho primário não foi atingido; o limite superior do HR IC cruzou a linha de não-inferioridade de 1,33, com o valor de p sendo 0,43.

Na análise de subgrupos para SLP na população por protocolo, houve melhor performance para o braço controle do que para o braço experimental.

O segundo desfecho co-primário que era a toxicidade reportada como eventos adversos G3-4 para ambas as fases de indução e de manutenção. O braço experimental mostrou um perfil melhor de segurança com menores eventos G3-4. A taxa de variação de eventos durante todo o tratamento também foi menor no braço experimental. A redução nessa variação foi observada também para os eventos de interesse, como diarreia (5,2% e 0,6%), mucosite oral (2% e 0,6%) e desordens de pele (18% e 14,2%). Já que o primeiro desfecho primário não foi atingido, a analise estatística não foi realizada.

A taxa de resposta objetiva de acordo com RECIST 1.1 durante todo o período não mostrou diferenças estatisticamente significativas entre os dois braços (67,5% braço controle e 71,6% braço experimental).

A sobrevida global foi de 35,7 meses (IC 95%; 30,62 a 40,16) no braço experimental e 30,7 meses (IC 95%; 25,26 a 34,63) no braço controle.

Por fim, este estudo de fase 3 não demonstrou a não-inferioridade da manutenção com cetuximabe sozinho, apesar de um perfil mais favorável de segurança.

 

Comentário do avaliador científico:

Estudo ERMES é o primeiro de fase 3 a avaliar eficácia e segurança da manutenção com cetuximabe após 4 meses de indução com FOLFIRI e cetuximabe para câncer colorretal metastático BRAF e RAS selvagens.

Deve-se avaliar com cautela os resultados, já que o poder estatístico do estudo foi reduzido pelas saídas de pacientes, seja devido ao aumento da quantidade de cirurgias de metastasectomias hepáticas, e ao aumento da taxa de progressão nos primeiros 4 meses de terapia, o que demonstra uma população mais frágil e mais grave com ausência de resposta após uma indução ótima. Apesar da não-inferioridade não ter sido atingida para SLP, a redução da taxa de eventos adversos G3-4 foi observada para todas as toxicidades de interesse no braço experimental.

Os dados em relação à segunda linha de tratamento foram limitados (30%), mas mostraram que a taxa de 2ª linha foram maiores para o braço experimental, provavelmente pelo perfil menos tóxico e mais livre de quimioterapia.

Portanto, apesar dos resultados negativos do estudo, a terapia de poderia ser considerada em casos selecionados como pacientes mais frágeis, ou levando em consideração suas preferências.

Análises translacionais estão sendo realizadas na tentativa de identificar perfis moleculares que potencialmente derivariam benefício em descalonamento.

 

Citação: Pinto et al. J Clin Oncol 00:1-10 © 2024 by American Society of Clinical Oncology

 

Avaliador científico:

Dra. Larissa C. Amorim Pando

Oncologista Clínica – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP

Oncologista Clínica no Instituto Oncologia São Roque, Sorocaba, Votorantim – São Paulo.

Pós- graduada em Gestão em Saúde – Fundação Getúlio Vargas (FGV)