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SBOC REVIEW

Diferenças na sobrevida de pacientes com osteossarcoma extraesquelético ressecado que recebem dois regimes diferentes de quimioterapia (neo)adjuvante: uma revisão sistemática e meta-análise

Resumo do artigo:

O osteossarcoma extraesquelético (OSEE) é uma neoplasia maligna de origem mesenquimal, que se desenvolve em partes moles e é caracterizado pela produção de matriz óssea ou osteóide pelas células tumorais. Por definição, o tumor não surge do esqueleto, embora possa invadir uma estrutura óssea durante o seu crescimento. O OSEE corresponde a menos de 1% dos sarcomas de partes moles (SPM) e cerca de 4 – 6% dos osteossarcomas. A cirurgia é considerada a base do tratamento para pacientes com OSEE localizado. A radioterapia tem papel na redução de recorrências locais, especialmente em lesões maiores que 5 cm, independentemente do status das margens cirúrgicas, sem impactar a sobrevida global. Por outro lado, o papel da quimioterapia é menos claro e o seu real impacto na sobrevivência de pacientes com tumores localizados submetidos a cirurgia permanece desconhecido. Os regimes de quimioterapia são diferentes, com algumas instituições usando protocolos semelhantes àqueles para osteossarcoma esquelético (QT-OS), baseados em cisplatina, enquanto outros centros usam os protocolos de SPM de alto grau (QT-SPM), que combinam doxorrubicina e ifosfamida.

Para investigar a diferença na sobrevida associada a cada um desses dois regimes de quimioterapia, nós propusemos nesse projeto uma revisão sistemática de estudos que relatam as taxas de sobrevida livre de doença (SLD) em 5 anos entre pacientes com OSEE submetidos à cirurgia e que receberam quimioterapia (neo)adjuvante com tipo QT-OS ou QT-SPM. Dos 401 artigos identificados pela busca sistemática nas bases de dados PubMed, Embase e Cochrane Central Register of Controlled Trials, seis estudos retrospectivos foram incluídos na análise final. No total, 319 pacientes com OSEE localizado e ressecado foram incluídos no estudo.

Nossa meta-análise mostrou um benefício na SLD em 5 anos favorecendo o uso de QT-OS (risco relativo = 1,32; IC 95% 1,03–1,69; p=0,54); a heterogeneidade I2 foi de 0%. A taxa de SLD em 5 anos foi de 56,3% (IC 95% 48,3–64,3) com QT-OS e 45,2% (IC 95% 34,5–55,9) com QT-SPM, com heterogeneidade I2 de 27% e 0%, respectivamente. A população dos estudos consistia majoritariamente de homens, com uma proporção homem:mulher variando entre 2,1 e 1,4:1, e adultos mais velhos (idade mediana de apresentação variando entre 44 e 62 anos). Os tumores localizavam-se nas extremidades em 58 a 90% dos pacientes e tinham tamanho médio de 5,9 a 10 cm. Cinco pacientes apresentavam metástases sincrônicas ao diagnóstico, que também foram ressecadas. Um número considerável de indivíduos apresentou doença residual microscópica após ressecção cirúrgica (9,5 – 27,5%). A porcentagem de pacientes que receberam tratamento com radioterapia além de cirurgia e quimioterapia variou de 6,7 a 40%.

Não há consenso na literatura médica quanto ao regime quimioterápico a ser utilizado no cenário (neo)adjuvante para pacientes com OSEE ressecado. Aplicando um modelo de efeito fixo, nossa meta-análise mostrou que houve uma diferença de sobrevida favorecendo os pacientes que receberam QT-OS em relação àqueles que foram tratados com QT-SPM (risco relativo 1,32, IC 95% 1,03 – 1,69), embora os dados devam ser interpretados com cautela, dado o limite do intervalo de confiança próximo da unidade, além do pequeno número de estudos incluídos e o número total de participantes.

 

Comentário do avaliador científico:

Os resultados desse estudo mostram que pode haver uma diferença quanto ao tipo de regime quimioterápico (neo)adjuvante utilizado no tratamento de pacientes com OSEE ressecado em favor da QT-OS. Porém, os achados não permitem estabelecer os protocolos de quimioterapia semelhantes aos usados para osteossarcomas convencionais como padrões no manejo de pacientes com OSEE. As poucas evidências disponíveis na literatura médica são todas retrospectivas e a uniformização de características clínico-patológicas de alto risco para a indicação do tratamento quimioterápico não foi possível nos estudos.

Como o OSEE é um sarcoma ultrarraro, somente esforços colaborativos entre os diversos centros especializados no cuidado de pacientes com sarcomas poderão gerar informações suficientemente robustas para melhorarmos o tratamento dos pacientes com essa doença. Estudos futuros que avaliem o papel da quimioterapia neste cenário precisam considerar o tipo de regime quimioterápico quando comparado com um braço de cirurgia com/sem radioterapia isolada.

 

Avaliador científico:

Fernando Campos

Oncologista Clínico

Centro de Referência em Sarcomas, A.C.Camargo Cancer Center, SP

Grupo de Sarcomas, Hospital Municipal Vila Santa Catarina/HIAE, SP