SBOC REVIEW
Duração da terapia adjuvante com Inibidor de aromatase no câncer de mama na pós-menopausa
Resumo do artigo:
O ABCSG-16 é um estudo prospectivo, de fase III, randomizado, realizado em 75 centros da Áustria, que avaliou o benefício de estender a adjuvância com inibidor de aromatase (IA) por mais 2 ou 5 anos após os primeiros 5 anos de hormonioterapia (HT).
As pacientes incluídas preenchiam os seguintes critérios: idade até 80 anos; status de pós menopausa; estadios I, II ou III; receptores hormonais (RH) positivos; 5 anos completos de HT adjuvante (tamoxifeno, IA ou ambos) até 12 meses antes da randomização; e ausência de recorrência confirmada por exames laboratoriais e de imagem.
As pacientes foram randomizadas 1:1 para receber anastrozol 1 mg/dia por 2 ou 5 anos adicionais. Os critérios de estratificação foram: estadio patológico; estadio linfonodal patológico; adjuvância hormonal inicial; quimioterapia adjuvante; receptores hormonais; participação em estudos previamente e localização geográfica.
O desfecho primário foi sobrevida livre de doença (SLD) entre as pacientes que ainda estivessem participando do estudo após 2 anos da randomização e que seguissem sem evidência de recorrência. Os desfechos secundários foram sobrevida global e tempo para os seguintes eventos: câncer de mama contralateral, segundo tumor primário e primeira fratura óssea com repercussão clínica.
Como os primeiros 2 anos de tratamento foram iguais nos dois grupos, foi determinado que o ponto de partida para iniciar as análises de tempo para evento seria a partir dos 2 anos de randomização. O tamanho da amostra estimado foi de 3500 pacientes considerando um poder de 85% para detectar uma razão de risco de 0,74 em SLD para a comparação entre os grupos 5 e 2 anos - α 0,05 bicaudado.
Foram incluídas 3484 pacientes e 3208 seguiam no estudo sem evidência de recidiva 2 anos após a randomização. A mediana de idade foi de 64 anos, 72,3% tinham tumores T1, 66,3% tumores N0 e 19,4% tumores de alto grau. No total, 28,8% das pacientes receberam quimioterapia neoadjuvante e 51% recebeu apenas tamoxifeno nos primeiros 5 anos de HT.
Após 10 anos da randomização, a SLD foi similar entre os dois grupos: 73,6% no grupo 2 anos e 73,9% no grupo 5 anos (HR 0,99; p=0,9). Também não houve diferença em sobrevida global (87,5% vs. 87,3% – HR 1,02; IC 95% 0,83-1,25), em câncer de mama contralateral e segundo tumor primário.
Com relação a toxicidade do tratamento, o risco de fratura em 5 anos após a randomização foi menor no grupo 2 anos (4,7% vs. 6,3%, HR 1,35 – IC 95% 1,0-1,84). A proporção de pacientes que descontinuaram o tratamento foi similar nos dois grupos, 20% nos primeiros dois anos após a randomização e 33% após 5 anos.
A opinião dos autores foi que a extensão por 5 anos de IA versus 2 anos não se associou a melhores desfechos oncológicos, porém levou a efeitos colaterais adicionais. As limitações levantadas para o estudo foram: o uso apenas de anastrozol e não dos demais IA, porém se acredita que a eficácia entre os diferentes IA seja similar; e a baixa taxa de pacientes com alto risco de recorrência. A conclusão dos autores foi que, em mulheres na pós-menopausa que receberam 5 anos de hormonioterapia adjuvante sem recorrência, a extensão com 2 anos de inibidor de aromatase é suficiente para maximizar os benefícios da terapia na maioria das pacientes, sem estender a exposição aos efeitos colaterais.
M. Gnant et al. Duration of Adjuvant Aromatase-Inhibitor Therapy in Postmenopausal Breast Cancer. N Engl Med 2021;385:395-405.
Duração da terapia adjuvante com Inibidor de aromatase no câncer de mama na pós-menopausa.
Comentário da avaliadora científica:
A frequência de recidivas tardias em pacientes com câncer de mama com receptores hormonais positivos é ponto de preocupação e, nesse contexto, surge o questionamento de qual seria a duração ideal da adjuvância.
A extensão para 10 anos do uso de tamoxifeno frente a 5 anos é bem definida conforme resultados dos estudos ATLAS e Attom. Já o tempo de adjuvância com IA segue controverso, com resultados conflitantes entre os estudos, como o MA.17 e MA.17R com resultados positivos para a extensão e o NSABP-42, o DATA e o IDEAL com resultados negativos.
O ABCSG-16 apresenta uma população majoritariamente de menor risco de recorrência (mais de 70% com tumores T1 e cerca de 67% N0). Sendo assim, podemos considerar que o estudo responde a nossa dúvida para a população de baixo-moderado risco de recidiva: 7 anos de hormonioterapia adjuvante (sendo pelo menos os dois últimos com IA) se mostrou suficiente para esse público. Em contrapartida, segue a dúvida se essa ausência de benefício na extensão para 10 anos também ocorre nas pacientes com alto risco de recidiva – tumores maiores e linfonodo positivo.
Em suma, a decisão de extensão ou não do tratamento ainda deve ser feita de maneira individualizada, balanceando o risco de recidiva e as toxicidades do tratamento.
Avaliadora científica:
Dra. Andrea Clemente Baptista Silva
Oncologista pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Oncologista Clínica no grupo de câncer de mama do ICESP e na Rede D’Or