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SBOC REVIEW

Efeito da adição de bevacizumabe a quimioterapia na resposta patológica a terapia sistêmica pré-operatória para metástases hepáticas colorretais ressecáveis: uma revisão sistemática e meta-análise

Resumo do artigo:

O câncer colorretal (CCR) é frequentemente uma doença sistêmica, mesmo em fases iniciais da doença. O fígado é o órgão mais comumente acometido pela doença metastática. Quando as lesões estão limitadas ao órgão, o tratamento cirúrgico das metástases hepáticas colorretais (CLM) oferece as melhores oportunidades de sobrevida a longo prazo, com potencial curativo. Portanto, o aperfeiçoamento do tratamento cirúrgico e do tratamento sistêmico perioperatório podem aumentar as taxas de pacientes potencialmente curados.

O benefício do tratamento sistêmico perioperatório é incerto. O uso de quimioterapia baseada em oxaliplatina apresenta-se como uma opção terapêutica, tanto pelas diretrizes do NCCN como da ESMO. O uso de cetuximabe não demonstrou benefício em sobrevida, mesmo na população RAS wild-type, e os antiangiogênicos não foram avaliados em estudos randomizados.

Diante da ausência de dados oriundos de estudos prospectivos, conduzimos a primeira meta-análise de estudos observacionais com o intuito de estimar o efeito global do bevacizumabe na taxa de resposta patológica (pR) ao tratamento sistêmico pré-operatório. A taxa de pR é um desfecho substituto para sobrevida global np tratamento perioperatório das CLM. A confirmação de aumento da taxa de pR pode estimular o desenvolvimento de estudos randomizados que avaliem o benefício dos antiangiogênicos como tratamentos pré-operatórios, com potencial de redução do risco de recorrência e aumento de sobrevida dos pacientes com CCR metastático.

Foram incluídos trabalhos retrospectivos que sistematicamente compararam a pR da quimioterapia (QT) pré-operatória + bevacizumabe versus QT isolada no tratamento das CLM. Foram pesquisados estudos que foram publicados de 01/2004 a 08/2019 nas bases de dados PubMed, Cochrane Library, CINAHL, Web of Science, Embase, e LILACS, sem restrição de idiomas. Foram excluídos estudos com regimes de QT que não continham fluoropirimidinas, que usaram anticorpos monoclonais diferentes do bevacizumabe, ou que incluíram pacientes que não haviam sido submetidos a hepatectomia.

O desfecho primário foi pR completa, definida como a ausência de células neoplásicas residuais na amostra de fígado. pR major e minor foram desfechos secundários. pR major foi definida como ≤50% de células neoplásicas residuais ou grau de regressão tumoral (TRG) 1 a 3 no espécime cirúrgico, e esta categoria incluiu pacientes que alcançaram pR completa. pR minor foi definida como >50% de células neoplásicas residuais ou TRG 4 ou 5. Desfechos pós-operatórios, como terapia adjuvante, sobrevida livre de doença e SG não foram avaliadas neste estudo.

De um total de 1452 estudos selecionados pela revisão sistemática, 9 foram elegíveis, totalizando 1202 pacientes (516 no grupo QT + bevacizumabe e 686 no grupo QT isolada). A adição de bevacizumabe a QT aumentou a taxa de pR completa, mas sem atingir significância estatística (OR: 1,24, IC 95% 0,81-1,92, p=0,32). Entretanto, a taxa de pR major foi significativamente maior (OR: 2,45, IC 95% 1,85-3,25, p<0,001), e pR minor foi significativamente menor (OR: 0,41, IC 95% 0,31-0,54, p<0,001) no grupo bevacizumabe. A análise também demonstrou baixo nível de heterogeneidade (I²= 0%-6%) e viés de publicação não foi encontrado.

 

Jácome AA et al. Effect of adding bevacizumab to chemotherapy on pathologic response to preoperative systemic therapy for resectable colorectal liver metastases: a systematic review and meta-analysis. Clin Colorectal Cancer 2021, Sep;20(3):265-272. doi: 10.1016/j.clcc.2021.05.006.
Efeito da adição de bevacizumabe a quimioterapia na resposta patológica a terapia sistêmica pré-operatória para metástases hepáticas colorretais ressecáveis: uma revisão sistemática e meta-análise.

 

Comentário do avaliador científico:

Diante do potencial curativo do tratamento cirúrgico das CLM e da conhecida sensibilidade do CCR às terapias sistêmicas, o aperfeiçoamento tanto das técnicas cirúrgicas, mas principalmente da terapia sistêmica perioperatória tem o potencial de aumentar as taxas de pacientes curados, mesmo com doenças metastáticas. A quimioterapia baseada em oxaliplatina apresenta benefício incerto no tratamento das CLM, diante dos resultados do estudo fase III EORTC 40983. O benefício do uso de cetuximabe também não foi demonstrado, mesmo no subgrupo de pacientes RAS wild-type. No entanto, apesar da longa experiência com o uso de bevacizumabe no tratamento do CCR metastático, ele nunca foi avaliado no contexto perioperatório em estudos randomizados. Os achados da nossa meta-análise reforçam os achados de estudos observacionais que demonstram que a adição do anti-angiogênico a quimioterapia aumenta a taxa de pR ao tratamento sistêmico, que é aceito como um endpoint substituto para SG. Portanto, nosso estudo estimula a realização de estudos prospectivos explorando novas modalidades de terapia sistêmica em cenário potencialmente curativo do tratamento do CCR metastático.

 

Avaliador científico:

Dr. Alexandre A. Jácome
Diretor da Escola Brasileira de Oncologia biênio 2021-2023
Líder Nacional de Oncologia Gastrointestinal da Oncoclínicas
Título de especialista em Oncologia Clínica pela Associação Médica Brasileira
Doutor em Ciências pela USP
Postdoctoral Fellowship em Gastrointestinal Oncology pela The University of Texas MD Anderson Cancer Center, Houston, USA